24 de março de 2011

OPINIÃO
Presidenta: planejar é preciso!

Helio Silveira

Diretor de Relações Institucionais da AFBNDES

“(...) Num país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza...” – “País Tropical”, de Jorge Ben Jor  

Fim de um ano de forte crescimento e nova presidente eleita para o próximo quadriênio. Crise nos países desenvolvidos e crescimento nos em desenvolvimento, uma situação inusitada e complexa!  

Comunidade Europeia, EUA, Japão, China & Índia e Nós  

Europa: se der certo estraga!  

A zona do Euro, exceto Alemanha e França, encontra-se sob as regras rígidas do receituário amargo a la FMI. Desse remédio já tomamos: é tóxico, lento e não dá certo. Por conta dele abdicamos de um crescimento médio de 7% a.a. nos cinquenta anos anteriores ao acordo assinado com o Fundo, em 1983, para passarmos para um sofrível patamar médio de 3% a.a., nos últimos 30 anos. Se, por hipótese, tivéssemos achado o Pré-Sal nos anos 1970 e tivéssemos continuado a crescer a 7%, nosso PIB seria, hoje, em 2010, de US$ 6 trilhões, atrás apenas dos EUA e na frente da China. Entretanto, a triste realidade é que nos “desindustrializamos” e acumulamos nesse período todo tipo de mazelas sociais, que só agora começamos a melhorar por orientação do último governo que avançou no enfrentamento dessas questões. Por fim, se der certo, estraga, ou seja, se o aperto e a estagnação provocarem a apreciação do Euro como acontece com o Real, a China avança no comércio com seu Yuan “baratinho, né?”.  

EUA dos republicanos!  

O Obama do “nós podemos”, da esperança democrata, a refém dos republicanos. Resultado: um presidente “amarrado”, na metade de seu mandato, sem possibilidade de exercer plenamente a política econômica (fiscal) para promover a recuperação norte-americana. Resta, tão-somente, pelo caminho econômico: emitir, emitir e emitir para depreciar o Dólar e tentar competir como o Yuan.  

Japão, o Império do Sol nascendo entre nuvens!  

O Japão era a China até os anos 1990, enquanto manteve o Iene depreciado, forte crescimento e a tendência a encostar no PIB americano – até aceitar a recomendação de valorizar sua moeda no acordo secreto do G5 (EUA, Japão, Alemanha, Reino Unido e França) realizado, em 1985, no Plaza Hotel de Nova York. Resultado: até hoje amarga uma recessão permanente e foi ultrapassado pela China. 

China, a Grande! 

Tudo lá é grande – a Grande Marcha, a Grande Muralha, a Grande população, a Grande extensão territorial. Devido à grande população, tudo tem que ser controlado e planejado. País com 1,3 bilhão de habitantes, qualquer quebra de safra representa fome de milhões, ou uma epidemia onde muitos correrão risco de morte. A Economia é planificada e segue planos quinquenais desde 1953. Em 1984, Deng Xiaoping – o secretário-geral do PCC de 1976 a 1992 – implantou a modernização da Economia na agricultura, indústria, comércio na tecnologia e no exército. Criou o sistema de Zonas Econômicas Especiais, onde seria permitido a associação com empresas externas com acordo de repasse de tecnologia. O sucesso dos planos quinquenais constata-se pelo crescimento. É a economia que mais cresce nos últimos 25 anos – 10% a.a.. Em 2009, ano da recessão mundial, cresceu 8,7% e passou o Japão, ocupando a segunda posição, atrás dos EUA. Hoje, o Grande Dragão chinês, com suas mercadorias a preço de liquidação e sua grande fome por “commodities”, representa um desafio para as economias ocidentais.  

Índia, a Enigmática!  

País de grandes contrastes, com 1,1 bilhão de habitantes, é a maior democracia da terra. Alguém já disse que tudo o que se fala da Índia é verdade, tanto nos aspectos positivos como nos negativos. Tudo cabe!  Após sua liberação da colonização britânica, em 1947, apesar de um processo político complexo, também recorreu a planos quinquenais. Sua economia custou a deslanchar nos primeiros anos, mas a partir dos anos 1970 conquistou grandes avanços em energia, tecnologia e na área aeroespacial. Na década de 1990 engrenou um forte crescimento na área de tecnologia da informação e comunicações. Cresce a mais de 7% a.a. nos últimos 20 anos – 7,4% em 2009. A lição aprendida com a dupla China & Índia é que com autodeterminação e planejamento oficial não parece haver crises e limites para o crescimento. Aparentam ter, “na mão”, o controle de suas economias.  

Nosso País: oportunidade ou crise?  

Jorge Ben Jor sintetizou em “País Tropical” o que é o nosso país: “abençoado por Deus e bonito por natureza”. Só faltaria incluir: “mas que riqueza (mal distribuída)!”.

Na próxima década temos uma carteira de excelentes projetos econômicos e oportunidades: o Pré-Sal, a energia do etanol, a biomassa, a energia limpa das hidroelétricas, os projetos ambientais de preservação, a infraestrutura – entremeados por grandes eventos esportivos.

No curto prazo, entretanto, temos que solucionar alguns desafios, fundamentalmente, o resgate da dívida social, trabalho bem iniciado, mas que temos que avançar rapidamente através dos investimentos oficiais. Não podemos continuar a ser o País naturalmente muito rico, com população muito pobre. Não é justo e não faz sentido! Entretanto, um alerta: temos que desarmar a armadilha representada pela taxa de juros mais alta do planeta. Num mundo cheio de liquidez na mão dos operadores financeiros, essa taxa e os bons fundamentos financeiros conjunturais brasileiros fazem o delírio dos capitais corredores, que no primeiro sinal de risco voam para os treasuries bonds. A apreciação artificial do Real provocando déficits crescentes no saldo de transações correntes é o nosso verdadeiro “risco-Brasil”.  

Resumo da Ópera: Planejar é preciso!  

Dos quatro do BRIC somos o único que não recorre a um sistema de planejamento oficial, já que a Rússia, após as experiências de “mercado” mal sucedidas, retorna ao sistema, com a dupla Putin/Medvedev. China e Índia, que o fazem há mais de 60 anos, são os espetáculos do crescimento!

Portanto, diante dos desafios, temos que retornar a um planejamento estratégico oficial e lançar um Plano de Desenvolvimento Nacional, que organize o caminho para o resgate do nosso passivo social e econômico, nos colocando em linha com o crescimento permanente dos nossos companheiros do BRIC.

Com a palavra e a ação, a nova Presidenta da República!

No mais, Boas Festas e um Feliz Ano Novo para todos! Para nós e para o Brasil.
(Texto publicado na edição 969 do VÍNCULO, em 16 de dezembro de 2010)
OPINIÃO

BNDES-TESOURO e o PAD
24
/11/2011

OPINIÃO

A loucura explicitada ou BNDES-TESOURO: o retorno!
VINCULO 1003 – 6/10/2011

OPINIÃO

Ensaios sobre a loucura... econômica (ou saudades do carioca Stanislaw Ponte Preta) 
VINCULO 978 –
7/4/2011

OPINIÃO

Presidenta: planejar é preciso
VINCULO 969 –
16/12/2010

EDITORIAL

BNDES/TESOURO X Selic maravilha
VINCULO 964 –
11/11/2010

EDITORIAL

BNDES/TESOURO: Lobo ou Cordeiro?
VINCULO 952 –
29/7/2010

Uma nova e derradeira indexação negociada
Claúdio Abreu – 2/12/2010

OPINIÃO

Para o bem de uns poucos e a infelicidade geral da nação
Claúdio Abreu – 16/9/2010

OPINIÃO

O DNA Benedense
Zé Benedino (*) –
17/8/2010

O MAIS GENIAL TEXTO DE CIÊNCIA POLÍTICA DO SÉCULO XX

Os Aspectos Políticos do Pleno Emprego
Michal Kalecki – postado em 27/07/2010

DOCUMENTO

O BNDES–TESOURO definitivo e a Alienação Geral!
Diretoria da AFBNDES – 26/05/2010
(arquivo em PDF)

ARTIGO
BNDES ILLIMITED?
Diretoria da AFBNDES – 24/11/2009
SEMINÁRIO
“O BNDES além da crise”
AFBNDES propõe debate sobre projetos que possam ir além do presente cenário nebuloso, seguindo a tradição nacional de ousar e se fortalecer na crise – 23/07/2009
“O BNDES além da crise”
Os bastidores do seminário na visão do coordenador 26/08/2009
EDITORIAL
BNDES - R$ 100 BILHÕES!
BNDES-Tesouro: premonição ou lógica?
O BNDES além da crise”

Diretoria da AFBNDES – 5/2/2009

CÍRCULO DO DESENVOLVIMENTO
BNDESOCIAL: o resgate do passivo social
De Eduardo Kaplan Barbosa, Gustavo Antonio Galvão dos Santos, Helio Pires da Silveira e Leonardo de Moura Perdigão Pamplona – 29/09/2008
BNDES-TESOURO
Por uma Política Monetária de Longo Prazo
De Hélio Pires da Silveira e Gustavo Antonio Galvão dos Santos – 21/08/2008
O BNDES sempre!
De Hélio Pires da Silveira – 21/08/2008
SIMPÓSIO CIDADE CIDADÃ
1 - A política do pleno emprego como prerrogativa da cidadania e base da estabilidade da democracia ampliada – 20/05/2008
2 - Síntese do projeto Cidade Cidadã – 20/05/2008
ESPECIAL
O discurso de posse de Luciano Coutinho no BNDES, em 2/5/2007