5 de fevereiro de 2009 (*)

BNDES - R$ 100 BILHÕES!

Aliança BNDES-Tesouro: premonição ou lógica?

Ficamos aliviados quando os jornais de 22 de janeiro anunciaram que o Tesouro brasileiro liberará R$ 100 bilhões a mais ao BNDES nos próximos dois anos. Esta aliança (BNDES-Tesouro) já havia sido proposta desde julho de 2008, quando um grupo de economistas benedenses, através do VÍNCULO, sustentava que as fontes do Banco – preponderantemente do FAT – não seriam suficientes para a nova escala de financiamento ao Pré-Sal e às energias renováveis.

Quando a crise – após a quebra do Lehman Brothers – eclodiu, havia o receio de que o BNDES, sempre chamado a auxiliar nas situações emergenciais, não tivesse recursos. O Banco não faz parte do Sistema Monetário Nacional, não cria moeda e não conta com recursos de depósitos compulsórios. Nos preocupávamos quando recebíamos recursos aleatórios, e quando foi aventada a ideia da captação através de CDB, como um mero banco comercial, ou da aceitação de funding do China Development Bank, nosso concorrente no comércio de manufaturas. Sendo o BNDES um tradicional aplicador de longo percurso, o “descasamento” representado pelo recebimento de recursos de curto prazo nos trazia inquietação. 

Visão estratégica

Afeito à visão de médio e longo prazos, já em julho, diante da evolução da crise internacional e preocupado com uma pretensa “blindagem” devido a um investment grade tardio, este grupo de economistas benedenses, apoiado pela AFBNDES, lançou, em nosso jornal, uma série de artigos sintonizados com os fatos correntes. Muito do que foi tratado acabou virando realidade. Não foi premonição, mas lógica. Vejamos o que sustentavam, resumidamente, os artigos:

BNDES, sempre! – Diante da intervenção direta da dupla FED-Tesouro nas empresas Freddie Mac e Fannie Mae, autorizada pelo Congresso dos EUA em 26 de julho (um sábado), o artigo alertava para a situação nacional. Preocupava a falta de atitude do governo brasileiro, com a ausência de controle de capitais ou centralização de câmbio, diante da rápida deterioração das contas externas. Então, conforme o exemplo de lá, era sugerida a tese da dupla BNDES-Tesouro, por ser melhor que a dos EUA, já que a nossa construiria o novo, enquanto lá eles tentavam sustentar falidas estruturas (VÍNCULO 864, de 31/07/08, ver edições anteriores).

BNDES-Tesouro – Este artigo mostrava, à luz da teoria das Finanças Funcionais, como o governo brasileiro, mantendo restrições externas, detém total autonomia para superar crises sistêmicas e desenvolver a economia sem limitações monetárias. Assim o BNDES apresentaria um orçamento prévio ao Congresso, com recursos sancionados pelo Tesouro. Trabalhava-se com a seguinte lógica: a maioria dos recursos aplicados pelo BNDES gera, por efeito multiplicador, impostos imediatos. E após a primeira liberação para os projetos, as seguintes parcelas são concedidas contra verificação do cronograma do empreendimento – cada liberação correspondendo, na margem, a um acréscimo na capacidade produtiva nacional. Em suma, o BNDES-Tesouro, livre de limitações, intensificaria a promoção do desenvolvimento sustentável e do pleno emprego (VÍNCULO 867, de 21/08/08, com a colaboração de Gustavo Galvão, ver edições anteriores).

BNDESOCIAL – Livre de restrições – sustentava o terceiro artigo – promoveríamos o resgate do passivo social. Isso, de acordo com o pensamento de Celso Furtado, seria um novo motor do desenvolvimento. Então, diante da crise aberta, era sugerida uma atuação pró-ativa do BNDES através de um Plano de Desenvolvimento Municipal e Regional – PDMR, com articulação dos governos federal, estadual e municipal. Era cobrada uma posição ativa do BNDES porque seria inócuo, entre outras coisas, disponibilizar recursos para setores retraídos e abrigados na segurança dos títulos públicos (VÍNCULO 872, de 25/09/08, em conjunto com Gustavo Galvão, Leonardo Pamplona e Eduardo Kaplan, disponível edições anteriores). 

No rumo certo

Os articulistas estavam, de certa forma, se antecipando aos fatos. Em novembro de 2008, a China anunciou um plano socioeconômico em torno de US$ 600 bilhões. Recentemente, Barack Obama divulgou seu plano de recuperação da infraestrutura econômica e socioambiental com recursos de US$ 800 bilhões.

Precisamos, desta maneira, incentivar o debate em prol da definitiva aliança BNDES-Tesouro, com orçamento indicativo ao Congresso Nacional. Livres de restrições, poderemos discutir o nosso Plano de Desenvolvimento Municipal e Regional, como antídoto e saída (por cima) para a grande crise.  

A Diretoria da AFBNDES

(*) Publicado na edição 885 do Vínculo, em 5 de fevereiro de 2009