I
- BNDES/TESOURO, como “Grande Banco à
La Minsky
”, ameaça à sociedade ou oferece
oportunidades?
A crise mundial revelou, na prática, a tese BNDES/TESOURO, que tínhamos
antecipado antes do fatídico “15-09-
2008”
.
Novos
efeitos da crise
De fato, depois do “15 de setembro”,
vimos a queda de várias “Torres” ícones
do complexo financeiro internacional e
acompanhamos as autoridades governamentais
do mundo inteiro injetando “dinheiro
vivo” nas veias do sistema financeiro
para sustentá-lo.
E
o que fazem com essa imensa liquidez? Ao
invés de voltarem a aplicar esse numerário
na economia real, principalmente nas
empresas que necessitam desses recursos
para poder manter produção e empregos, não,
voltam a especular com câmbio e
derivativos, alimentando essa nova e
enorme bolha presente, além de se pagarem
bônus “maravilhosos”, a título de
pretensa “produtividade”!
O
Brasil, em função de sua taxa de juros
de curto prazo “maravilhosa”, tem
propiciado uma aplicação
“maravilhosa” para esse capital
especulativo, que tem circulando o mundo
atrás de fáceis barganhas, numa operação
denominada “carry trade”. Entendam sua
lógica: vendem Dólar futuro e compram,
por exemplo, Real e taxa de juros
brasileiros. Ao fazerem isso, reforçam e
ganham com a queda da moeda americana e
ganham com os juros e a valorização do
Real, das “commodities” e das ações,
por tabela, nessa grande corrente da
“felicidade” que Hyman Minsky
(economista especializado em “Finanças
Funcionais”, falecido em 1996, e um dos
mais citados no curso dessa crise)
denominou de “efeito Ponzi”!
Essa imensa bolha está sendo inflada até um momento em que estourará,
como estourou a última, pela forte
alavancagem propiciada pela arbitragem e
pela própria percepção do risco, e no
momento que ocorrer, qualquer motivo é
motivo! Não se trata de premonição,
trata-se apenas de utilizar os conceitos
de Minsky que prediz que depois dos
excessos do setor privado vem o “Grande
Governo” e o “Grande Banco (autoridade
monetária)” como “emprestador de última
instância” para “segurar” o risco
sistêmico.
Que
vantagem o Brasil leva?
Aparentemente, para os mais
desavisados, a valorização do Real
parece um momento de afirmação da
brasilidade, entretanto, se deve mais aos
efeitos da alta taxa de juros do que
efetivamente do retorno de nossas
exportações à pujante nação chinesa.
Na verdade, atualmente, nosso câmbio
está se valorizando mais em função da
especulação citada, do que das nossas
vendas. Para quem tem receio do efeito
“doença holandesa” provocado pelas
futuras exportações de petróleo
advindas da reserva do “Pré-sal”,
afirmamos que a “primarização” de
nossas exportações e a valorização do
nosso câmbio, devido à taxa de juros,
já é a nossa real “doença
holandesa”.
O
que fazer?
No Brasil, basta seguir as recomendações
keynesianas e das “Finanças
Funcionais”, em voga, ou seja,
centralização de câmbio, controle na
entrada dos capitais especulativos e
regras de saída (quarentena). Na verdade,
toda essa imensa “tsunami” de liquidez
hoje é uma ameaça, já que estão atrás,
apenas, de lucros advindos de especulação
de curto prazo. Sua saída nunca é previsível
e nunca de forma organizada, provocando súbitas
e fortes desvalorizações da moeda, como
vimos recentemente.
No
exterior, o caso é mais sério, os resquícios
do liberalismo impedem as autoridades
americanas de exercerem um controle
efetivo e intervirem diretamente no
sistema financeiro privado, já que após
injetarem altas quantias para evitar o
risco sistêmico há menos de um ano,
assistem, aparentemente indefesas, as
mesmas ações alavancadas e arriscadas.
Afinal, o atual sistema financeiro
internacional precisa, para funcionar, de
muita liquidez e volatilidade para auferir
ganhos imediatos.
Marx, lá no século XIX, já tinha prenunciado que o sistema capitalista
tem uma enorme preferência pela liquidez.
Na sua fase real, ou seja, no capitalismo
produtivo, o esquema de acumulação era:
d (=dinheiro) se transforma em m
(=mercadoria), que se transforma em d’
(= mais dinheiro), significando que o
empresário não queria a mercadoria em si
(estocada), mas, sim, realizada, ou seja,
transformada em mais dinheiro (liquidez),
onde, obviamente, d’ é maior que
d. Mas
não parava por aí, na fase mais aguda o
capitalismo evoluiria para sua fase fictícia
(a atual “financeirização”), onde d
se transforma em d’,sem passar por
mercadoria, ou seja, o máximo da preferência
pela liquidez, o dinheiro pelo dinheiro!
As
lições da crise!
A
boa notícia é que a intervenção das
autoridades oficiais, dentro dos preceitos
keynesianos e das “Finanças
Funcionais”, como “emprestadores de última
instância”, debelou a maior crise desde
29.
A
má notícia é que a mesma situação pré-crise
retornou muito rapidamente, apresentando
forte volatilidade das “commodities” e
cambial, provocada pelos mesmos agentes
financeiros!
No
Brasil, a boa notícia é que o “Grande
Governo” contava com alguns “Grandes
Bancos”: o BNDES, no médio prazo; o BC,
o BB, a Caixa e o BNB, no curto prazo –
assim, botou-os para emprestarem em última
instância, debelando a fase mais crítica
da crise. A má notícia é que a alta
taxa de juros continua atraindo liquidez e
apreciando o Real.
Mas
a melhor notícia que surgiu nessa era de
gastos keynesianos ou “funcionais” foi
o arranjo institucional BNDES/TESOURO!
Num
sentido figurado, o terremoto da crise
revelou um tesouro escondido!
Reputamos
que essa combinação é o que de melhor
poderia ter acontecido para a sociedade
brasileira. O BNDES livre de restrições
monetárias não terá limites para
financiar o desenvolvimento e promover o
resgate do passivo social. Ele será o
“assegurador, em última instância, de
um projeto de desenvolvimento nacional”.
|
II
- O BNDES, 57 anos após sua criação,
tem a oportunidade de se consolidar como o
Banco Nacional de Desenvolvimento para
todos os Brasileiros!
Explicaremos com mais
detalhes toda a funcionalidade da
relação BNDES/TESOURO.
Um pouco de teoria
econômica!
Economia
Clássica/Keynesiana/Kalekiana/Monetarista/NeoliberalFuncional
A
Era Keynesiana surgiu em 36, quando Keynes
apresentou seu famoso trabalho: “Teoria
geral do emprego, do juro e da moeda”.
Surge o princípio da Demanda Efetiva,
nele a economia poderia se encontrar em
equilíbrio em qualquer ponto abaixo da
situação de pleno emprego e da plena
utilização da capacidade instalada. Em
Depressão só a atuação do Estado
realizando Gastos, até supérfluos,
poderia reavivar a Economia, já que os
investimentos privados estariam totalmente
desestimulados.
Isso
derrubou o dogma da economia neoclássica
de Say com sua famosa síntese: “A
oferta cria sua própria procura”, que
pregava que a economia deixada livre sem
interferência governamental sempre
estaria em equilíbrio na situação máxima
de pleno emprego e plena utilização da
capacidade instalada (situação de longo
prazo). Na Depressão de 30, tudo isso
veio abaixo, principalmente por uma questão
que não estava presente na teoria neoclássica.
Nela os consumidores consomem e/ou poupam
e os empresários produzem e/ou investem.
Na crise, entretanto, surgiu o terceiro
estado de sentimento: “preferir estar líquido”,
definido como preferência pela liquidez,
ou seja, todos diante de uma deflação de
preços e risco de quebras de bancos,
preferiam manter os recursos guardados
debaixo do colchão. Isso por si só
valorizava o dinheiro e consequentemente
aumentava a depressão.
O
presidente Roosevelt, nos EUA, antes mesmo
da teoria Keynesiana, fez o que tinha que
ser feito, fez o Estado gastar e realizar
obras; e o presidente Vargas também, no
Brasil, fez o que tinha que ser feito, fez
o Estado comprar café e queimá-lo, lançando
o Brasil na era da industrialização.
Então,
a teoria Keynesiana respaldou as atuações
anteriores de Roosevelt e de Getúlio
Vargas, onde o Estado realizando Gastos
acima da Arrecadação elevaria a Demanda
e a Renda. Também estava instaurada a
“Era da Incerteza”, ou seja, a Demanda
passa a ser estatisticamente
indeterminada, diferente da Oferta de Say,
que era definida conforme uma distribuição
determinística (conhecida pelos empresários
de acordo com a experiência e a observação
dos períodos anteriores, sem assimetria
de informações).
Keynes
provinha dos clássicos e mantinha os seus
preceitos, ou seja, livre mercado, concorrência
perfeita, o que ele queria, na verdade, não
era revolucionar ou mudar o sistema, o que
ele queria era manter o capitalismo com as
salvaguardas governamentais. Já o polonês
Kalecki, contemporâneo de Keynes, vinha
de uma linhagem socialista, mas não
ortodoxa. Também descreveu o princípio
da Demanda Efetiva, só que, com seus
preceitos, considerava a concorrência
imperfeita; para ele as economias se
distinguiam pelo grau de monopólio das
atividades produtivas e, obviamente,
reconhecia a atuação do Estado.
A distribuição da renda (Y), na
sua concepção, era funcional, ou seja,
entre as duas classes: trabalhadores
auferindo Salários (S) e os capitalistas,
os Lucros (L), e, não, como em Keynes que
todos eram indivíduos (sem distinção
de classes econômicas), que consumiam e
investiam. Então, numa economia fechada:
DE=Y; sendo DE= C+I+GG e Y= S+L.
A
teoria de Kalecki, mais explicativa do que
a de Keynes, partia de certas premissas
que ele cunhava
em frases. Exemplo
de uma delas:
“Os
Trabalhadores gastam o que ganham (S = C)
e os Capitalistas ganham o que gastam (I =
L)”.
Então
a partir da frase, eliminando C e S, que são
iguais e rearrumando a equação, sobra
que L = I + GG, ou seja, o lucro dos
empresários advém de seus próprios
gastos em Investimentos (I) e dos Gastos
do Governo (GG).
E
ainda duas questões são comuns e
revolucionárias no pensamento Kalecki/Keynesiano:
o Investimento gera sua própria Poupança
ex-post e Gastos Públicos antecedem e
geram Impostos! Eles estão dizendo que a
Demanda (DE) e, consequentemente, a Renda
(Y) dependem do Investimento (I) e dos
Gastos do Governo (GG).
Então,
por que os empresários reclamam da presença
do Estado na Economia, se eles são os
beneficiários e se atuação do Estado
aumenta a Renda (Y) e, consequentemente,
seus lucros (L)? Kalecki explica, em
resumo, que a resposta é política, ou
seja, que apesar de serem beneficiados, os
empresários querem manter o Governo sob
seu controle, abrem mão da maximização
dos lucros(L) e da plena utilização da
capacidade, porque isso significa o pleno
emprego e a emancipação dos
trabalhadores. Isso está registrado no
magistral artigo: “Os Aspectos Políticos
do Pleno Emprego”, de 1944(Em anexo).
No
pós-guerra, com a recuperação da
economia européia, todos passaram a ser
Keynesianos, inclusive os conservadores
“clássicos” tiveram que engolir.
Só
que eles não estavam mortos, em 1973, na
crise do petróleo, voltaram,
devagarzinho, como vocês sabem, com o
“monetarismo” de Friedman, com as
“expectativas racionais” de Lucas e
finalmente com o neoliberalismo dos anos
90 e a velha cantilena do Estado mínimo,
já que na velha teoria de Say, como a
economia estava sempre à plena
capacidade, os gastos do Estado “perdulário”
tirariam lugar do investimento privado –
efeito “crowding out”. Não
satisfeitos, ainda introduziram a tese
desumana de que existe uma “Taxa natural
de desemprego” que mantém a inflação
e a economia em equilíbrio.
O
que aconteceu, vocês já sabem! Em 15 de
setembro de 2008, com a quebra do Lehman
Brothers, 80 anos após o último “crash”,
a história se repetiu, o eficiente setor
financeiro privado precisou da atuação
do Estado como o “assegurador de última
instância” do sistema capitalista.
Agora,
todos recorrem à Minsky, que em resumo
descreve, em sua tese “Uma Hipótese de
Instabilidade Financeira”, que os ciclos
capitalistas terminam em estouro de
“bolhas”, no qual só a presença do
“Grande Governo (Estado)” e do
“Grande Banco ( Bancos Oficiais)”,
atuando como “emprestadores de última
instância”, seguram o sistema até a próxima
crise.
As
“Finanças Funcionais” do economista
keynesiano, Abba Lerner, falecido em 1982,
são uma versão mais radical de Keynes,
quando esse advoga que a presença do
Estado serve para tirar a economia da
recessão. Lerner, aluno de Keynes,
teoriza dizendo que a atuação do Estado,
através de gastos (déficits públicos) e
política monetária ativa são funcionais
na medida em que provocam efeitos
expansivos na economia e à levam ao pleno
emprego, ou seja, políticas públicas
devem ser usadas funcionalmente de forma
permanente e complementar à instabilidade
do investimento privado (efeito contrário
ao “crowding out”)! “Finanças
Funcionais” têm um senso irônico de se
contrapor às Finanças Saudáveis, que
pregam o equilíbrio fiscal e o Estado mínimo.
Atualmente,
um dos mais proeminentes representantes
dessa corrente é Randall Wray, que esteve
aqui no BNDES em meados de 2008. Ele foi
aluno de Minsky e advoga uma tese muito
interessante – O Governo como
“empregador de última instância” (EUI),
que seria uma grande bolsa trabalho, onde
o exército excedente de mão de obra
teria direito ao emprego a um salário
nominal fixo. O EUI seria uma âncora dos
preços e regularia o mercado de mão de
obra. Wray considera antiética a tese da
“taxa natural de desemprego”. Ele tem
um livro traduzido pelo economista José
Carlos de Assis: “Trabalho e Moeda
Hoje”, fácil de ser lido e bem
explicativo das Finanças Funcionais.
Em
resumo o pensamento síntese da nova era
Keynesiana é: “Investimentos e Gastos
Governamentais geram sua própria poupança
e impostos”!
Por
quê? Porque, na economia atual, poupança
provém do crédito elástico e endógeno
que o sistema financeiro produz! E os
impostos provêm do efeito multiplicador
dos Investimentos e Gastos do Governo!
Então, por que o crédito encontra-se paralisado na economia americana?
Porque, lá, ao contrário do Brasil, eles
não têm Bancos Oficiais para emprestar
ao setor real, e como já explicamos, o
setor financeiro prefere especular mundo
afora!
O
BNDES/TESOURO no limiar de uma nova era!
Um
pouco da história do BNDES:
Conforme
está citado na matéria da IstoÉ, o
BNDES, fundado em 1952, por Getúlio
Vargas, tinha por objetivo financiar a
infraestrutura e os setores de base, a
partir daí o Banco, por sua excelência
reconhecida, nunca
deixou de ser chamado para os
desafios do crescimento brasileiro, sempre
se concentrando fortemente no
financiamento à indústria. E na década
de 70, em pleno crescimento do PIB a 7%
a.a., aos setores de bens de capital,
automobilístico, naval e petroquímico.
Na década de 80, após o “default” do
México e da renegociação da nossa dívida
externa, o Banco foi instado a prestar
apoio financeiro para sustentar o setor
produtivo diante da recessão mundial e da
desestruturação dos mercados
internacionais. Nesse período foi
adicionado o “S” de Social, para
compensar a forte ajuda ao capital
produtivo e financeiro. Nos 90, foi
instado, por orientação dos governos, a
promover e realizar o processo de
privatização. Agora, ao fim da primeira
década do século XXI, é chamado junto a
outros bancos oficiais, a atuar para
manter o nível de investimento, como
resposta à paralisação do sistema
financeiro privado diante da maior crise
mundial após 29.
A
nova era
O
BNDES, nesse período, de forte atuação
dos setores governamentais, ao receber
recursos financeiros do TESOURO inaugura
possivelmente uma segunda nova “Era
Keynesiana”. De fato, diante dos
desafios de fortes investimentos
irreversivelmente garantidos para os próximos
20 anos, tanto no Pré-Sal, na área dos
combustíveis alternativos, em
hidroeletricidade, e, principalmente, no
avanço do resgate do passivo social e na
preservação do meio ambiente, nossa
instituição não será mais a mesma, não
poderá mais prescindir dos recursos do
TESOURO!
O
BNDES, desde o seu nascimento, nunca, na
verdade, seguiu os preceitos Kalecki/Keynesianos
– infelizmente.
Ou
seja, o BNDES, desde o seu início,
deveria ter um vínculo permanente com o
TESOURO! Ele foi criado na vigência da
primeira “Era Keynesiana”, portanto, não
seria nenhuma heresia ter seguido esse
procedimento. Entretanto, ou por excesso
de conservadorismo, ou, talvez, por inércia
histórica, os recursos do Tesouro nunca
foram significativos no orçamento do
Banco, que sempre foi dependente de fundos
institucionais. A professora Conceição
Tavares, num seminário em comemoração
aos 25 anos da instituição, já clamava
por essa solução nos anos 70.
Quanto
desenvolvimento perdido por não ter
adotado a tese! Se efetivada essa relação,
e com os devidos cuidados com o capital
especulativo de curto prazo, estaremos,
sim, participando da inauguração de uma
nova era!
BNDES
ILLIMITED?
As
principais críticas que fazem ao
BNDES/TESOURO são da seguinte natureza:
O
BNDES empresta a taxas inferiores à SELIC!
Sim, mas na atual conjuntura
mundial, quase todas as taxas reais de
curto prazo estão negativas, zeradas ou
levemente positivas. Então, qual taxa está
fora da curva: a SELIC de curto prazo ou a
do BNDES de longo prazo?
O
BNDES está muito grande e opera como se
os recursos fossem ilimitados! Essa afirmação
é de quem ainda não entendeu como
funciona, hoje, o sistema financeiro
internacional. Desde os anos 80, com a
desregulamentação e com a globalização
das “grandes finanças”, processo começado
nos anos 70 – a partir do “euro dólar”
–, a moeda passa a ser “endógena”.
Uma explicação simples: um grande
cliente pede um empréstimo a seu banco,
esse não necessita ter os recursos,
simplesmente vai ao “interbancário” e
capta esse dinheiro. Se isso for
significativo e pressionar a taxa do
interbancário, as autoridades monetárias
comparecem com recursos para equilibrar a
taxa, pronto, foi criada moeda do nada,
isso se chama “endogenia monetária”,
ou seja, o próprio sistema cria moeda e
as autoridades viram reféns! Em outras
palavras: “empréstimos criam depósitos”,
e não o inverso!
Então
por que os bancos não se alavancam
ilimitadamente? Porque eles se autoregulam!
Eles repassam os créditos em excesso para
outros bancos ou fundos de investimento,
para não mostrar seu verdadeiro grau de
alavancagem. Pronto, está explicada a
“financeirização (ou dd’), a
liquidez ilimitada! Está explicado o
processo que gera o efeito “Tanzi”, em
que as autoridades monetárias são
obrigadas a intervir para evitar o risco
sistêmico.
A
partir daí temos dois caminhos: o
primeiro, negativo – o sistema passa a
ser disfuncional, já que não empresta
para o setor produtivo, prefere a especulação
em ativos e arbitragem de taxas até a próxima
bolha. O segundo, virtuoso – porque essa
endogenia não trabalha a favor do aumento
da capacidade produtiva?
Explicando:
a partir do entendimento que
“Investimento & Gastos Públicos
geram sua própria poupança e
impostos”, e agora se torna claro que a
poupança financeira é criada pelo
processo da endogenia ou “Empréstimo
cria Depósitos”, fica claro que o
sistema se fecha!
Mas
aí surge a última questão:
aparentemente ficou fácil, então: é só
criar moeda e financiar o investimento
ilimitadamente! Não, agora caímos na
real, recurso apesar de corriqueiramente
usado como financeiro ou moeda, não é
real, ele é fictício; na verdade ele é
um instrumento facilitador das transações.
Os recursos reais são os insumos naturais
e o capital humano, tanto de mão-de-obra
como de execução, juntam-se à
tecnologia – e não precisa ser a última
fronteira do conhecimento, e temos os bens
necessários para criar o desenvolvimento!
Então,
em resumo, pegam-se todos esses bens, que
no Brasil são e sempre foram abundantes,
e faz-se um plano bem montado de
planejamento de longo prazo! Então, a
velocidade do processo vai depender do
ritmo da execução dos projetos. A Índia
tem um processo de planejamento que já
alcança 50 anos e está em seu 10º Plano
Qüinqüenal. Não é à toa que desponta
junto com a China como fenômenos de
crescimento frente à crise!
A
nosso favor, temos recursos abundantes,
condições excepcionais (ótima incidência
solar, água, hidroeletricidade e pré-sal),
e o arranjo BNDES/TESOURO para executarmos
o Plano de Desenvolvimento Nacional que
considere todas as metas sociais e a
preservação do nosso rico meio ambiente
para as próximas duas a três décadas!
Ainda
a nosso favor existe o fato de partirmos
para a empreitada com um nível total de
crédito sobre o PIB baixo, em torno de
40%, mostrando muito espaço para
financiar o desenvolvimento, tanto pelos
bancos oficiais quanto pelos privados.
Por último, temos ainda esse potencial de aumento de reservas de petróleo,
que assegurará, com um mínimo de sorte,
o financiamento, a médio prazo, da conta
de “Transações Correntes” do balanço
de pagamentos e zerar o risco País!
O
BNDES escolhe grupos vencedores!
No
século retrasado essa estratégica foi
utilizada pela Inglaterra e pelos EUA. No
século passado, a mesma estratégia foi
utilizada por todos os países vencedores
asiáticos, desde o Japão até,
atualmente, a China. Basta lembrar que a
Coréia começou sua indústria automobilística,
em 70, dez anos após a nossa, através de
“joint ventures” com as empresas
americanas. Hoje, disputam com suas marcas
nacionais o mercado mundial, enquanto que
nós não temos nenhuma marca nacional.
Hoje, além de carros, dominam a indústria
naval e disputam o mercado de eletrodomésticos
com suas fortes marcas.
Evidentemente, no nosso caso, deveríamos criar campeões nacionais,
principalmente na indústria, para não
ficarmos concentrados apenas no setor primário.
O
BNDES faz escolhas erradas!
É
evidente que se olharmos de forma pinçada
não iremos gostar de algum caso ou outro,
mas entendemos que no todo
o BNDES é reconhecido por sua
excelência. O nível de inadimplência é
baixo. Por outro lado, a história do
Banco se concentra na formação do parque
industrial, e como grandes empreendimentos
geralmente são intensivos em capital,
passa a impressão de que o BNDES é um
instrumento da concentração do capital e
da renda!
Esquecem que indústria, como setor secundário,
é o mais empregador, não pelas grandes
empresas, mas pelos efeitos
multiplicadores, e pela rede de médias e
pequenas que gravitam
em torno. Esquecem
que o BNDES opera através de agentes
financeiros, exatamente para ter
capilaridade de atuação! E esse rol de
empresas que são financiadas
indiretamente fica invisível para os críticos
de plantão. Não entendem que o BNDES
opera, tanto direto como indiretamente,
tanto no crédito como no mercado de
capitais, de forma complementar ao sistema
financeiro. Afinal, dado o baixo nível de
crédito na economia brasileira, quanto
mais crédito melhor!
Entendemos
que a crítica, na atual conjuntura, é
totalmente extemporânea, haja vista toda
a imensa ajuda financeira de salvamento
que assistimos nos grandes países pelos
respectivos governos para sustentarem
estruturas que, se não fossem eles,
estariam falidas! Como paradigma basta
citar a GM!
Entretanto, voltamos a afirmar, dado o enorme potencial de financiamento
do arranjo BNDES/TESOURO, que entendemos
que é importante nossa instituição ser
a operadora de um “Plano de
Desenvolvimento Nacional”, ideia que já
explicitamos, principalmente no que tange
a metas sociais, lembrando que tal Plano
teria que ser aprovado no Congresso
Nacional!
O
BNDES não é transparente!
Na
própria matéria é citado o fato de que,
como instituição financeira, o Banco tem
que seguir a regra do sigilo bancário!
Reconhecemos que por conta do sigilo e das
operações para grandes clientes, que
citamos anteriormente, o BNDES passa a
impressão de uma instituição
“fechada”, e dada a repercussão das
grandes operações, elas ofuscam a
atuação social. Acreditamos que nesse
novo contexto de grandes investimentos e
novos potenciais, aparece a oportunidade
histórica de resgatarmos nossa dívida
social.
Últimas
considerações
Tentamos
mostrar que o BNDES, ao longo de sua história,
fez muito pelo país, mas poderia ter
realizado muito mais, ou seja, se as críticas
tentam mostrar defeitos na atuação do
Banco, algumas podem ser pertinentes, mas
a crítica que nós das Associações de
Funcionários fazemos não é para os
pequenos erros apontados.
Criticamos é o que o Banco deixou
de fazer por estar limitado
financeiramente.
Agora,
se consolidado o arranjo institucional
BNDES/TESOURO, temos o potencial histórico
de iniciarmos uma nova era, na qual não
haverá limites para o desenvolvimento
nacional, que não seja a nossa capacidade
de planejar a organização de nosso
capital humano na transformação de
nossas riquezas naturais para o bem-estar
da nação brasileira.
Nosso
país, nas crises passadas, sempre
respondeu com um salto para frente:
–
Em
32, a
queima do café e a industrialização;
–
Na 2ª Guerra Mundial consolidamos a base
do programa de substituição de importações,
que serviu de motor para o crescimento até
os anos 70;
–
Na crise do petróleo em
73, a
saída para frente foi o pró-alcool –
infelizmente descontinuado por aqueles que
não entenderam o conteúdo estratégico
de um combustível renovável que, agora,
ressurge como uma das soluções para a
grave questão do aquecimento global; e
– Finalmente, hoje podemos pensar na consolidação do arranjo
BNDES/TESOURO para financiar um Plano de
Desenvolvimento Nacional.
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