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O
BNDES além da crise
(Os bastidores do seminário na visão do
coordenador)
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Hélio
Pires (*)
Agradecimento
Uma tarde benedense – Como nos velhos tempos
Como
coordenador do referido seminário do dia
4 de agosto, em comemoração aos 55 anos
de nossa Associação, parabenizo os
colegas que participaram de quase quatro
horas de intensa atividade.
Apesar
das posições divergentes, o evento fluiu
num clima de absoluta harmonia,
demonstrando o nível de conhecimento prévio
dos assuntos tratados pela mesa e pela
plateia e a correta atuação do
moderador.
Achei um ótimo evento! Parabéns a todos nós. Foi, efetivamente, uma
tarde benedense.
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Meu
arcabouço teórico
“Os conceitos revolucionários de Kalecki e a
atualidade das Finanças Funcionais”
Aprecio
a realidade da linha de Kalecki, contemporâneo
a Keynes, ambos criadores do conceito da
Demanda Efetiva. Kalecki, diferentemente
de Keynes, parte de um sistema de concorrência
imperfeita; define a distribuição
funcional da renda entre o salário e o
lucro; e é adepto do planejamento econômico
para fomentar o desenvolvimento e alcançar
o pleno emprego.
Acompanho,
ainda, os conceitos da teoria das Finanças
Funcionais do keynesiano Abba Lerner,
sobre os quais tomei conhecimento através
da obra de Randall Wray –“Trabalho e
Moeda Hoje” –, traduzido pelo
professor José Carlos Assis, e em
conversas com Gustavo Galvão, economista
do BNDES e doutor nessa matéria pela
UFRJ.
Wray
esteve aqui no BNDES, em maio de 2008 (VÍNCULO
nº 854, de 21/05/2009). Ele foi aluno de
Himan Minsky, falecido em 1996. Minsky,
aluno de Lerner, e seguidor das teorias
kaleckianas, é autor bastante citado na
atual crise financeira por ter descrito o
ciclo de expansão e crash dos ciclos
financeiros e a atuação, no limite, das
autoridades oficiais – “Grande
Governo, Grande Banco” – para
“segurar, em última instância, o
sistema financeiro privado”.
Aliás,
cobro de Gustavo Galvão – conselheiro
da AFBNDES – que desenvolva para a
Associação um curso rápido, latu
sensu, com o objetivo de divulgar, de
forma genérica, para os colegas do BNDES,
economistas ou não, os inovadores
conceitos de sua especialidade, com
destaque para o EUI – Empregador de Última
Instância – e para a tese revolucionária
relacionada ao BNDES-TESOURO.
Aos que se sentem mobilizados pela proposta do curso, peço que entrem em
contato com Gustavo Galvão, pelo e-mail: afdiretoria@afbndes.org.br.
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A
Estratégia do Debate
A proposta era explorar a
dualidade: a teoria das Finanças
Funcionais versus a teoria Liberal, frente
à maior crise financeira desde 1929; e,
mais especificamente, discutir a
efetivação da relação BNDES-TESOURO
para financiar, sem restrições, um
Projeto Estratégico de Desenvolvimento
Nacional.
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Comentários
sobre as posições do moderador e dos
expositores
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Moderador:
Paulo Sergio Souto (Paulo
Passarinho)
Presidente do Corecon/RJ e âncora do
Programa Faixa Livre
“O debate já se iniciou
nas páginas do VÍNCULO”
O
economista Paulo Passarinho exerce a
eficiente função de âncora do Programa
Faixa Livre (patrocinado pela AEPET e pela
AFBNDES, entre outras entidades congêneres).
Revelo que optei pela presença dele, como mediador externo, porque não
teria condições de me manter isento.
Destaco a forma competente e o toque de
qualidade de sua participação, inclusive
quando lembrou que o debate já havia se
iniciado nas respostas dos debatedores
postadas no encarte especial do VÍNCULO nº
907, de 23/07/09.
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André
Luiz Gomes Nassif
Economista
do BNDES (AP/DEPPO/GENPP)
“Agora,
somos todos keynesianos”
André
Nassif nos trouxe informações sobre a
reação e as medidas das autoridades
indianas diante da crise e fez um
comparativo com as medidas adotadas pelo
Brasil.
Já
debati com Nassif, em Seminário da
AF-BNDES ocorrido em
2006, a
respeito do seu primeiro trabalho sobre a
Índia. Naquela ocasião, gostei de saber
que após a Independência, em
1947, a
Índia adotou o caminho do Planejamento
Econômico – políticas protecionistas,
controle de capitais e, principalmente,
financiamento público (Sistema Bancário
estatizado, em 1969) – para a construção
da infraestrutura, desenvolvimento do seu
mercado interno e desenvolvimento de
produtos de software e TI. A partir
de 1990, ela se lançou, com crescente
sucesso, no mercado internacional.
Na
ocasião, minimizei a dúvida que Nassif
lançava sobre a sustentabilidade do
crescimento a longo prazo na presença de
déficits fiscais recorrentes, porque
entendia que uma nação que estava em seu
10º plano quinquenal de desenvolvimento
(50 anos), já tinha seu crescimento
consolidado e que qualquer “acidente de
percurso exógeno”
seria uma questão de ajustar os
“botões do painel de controle”.
Agora,
em 2009, passados três anos, Nassif
confirma que a Índia promoveu rápidas
mudanças para ajustar o crescimento
(sintonizou os botões) e terá ainda
forte crescimento, apesar da crise.
Portanto,
a Índia deverá voltar logo ao ritmo de
crescimento acima de 5% a.a. Isso acontece
mesmo com uma dívida pública maior que a
nossa, com inflação e déficit público
elevados, mas com juros reais negativos.
Nassif
conclui que, em relação ao Brasil, as
políticas anticíclicas de lá foram mais
eficazes e de efeito mais rápido,
ressaltando que aqui nunca as condições
de sustentabilidade e indicadores
relevantes foram tão bons, e que deveríamos
manter o BNDES com o mesmo nível de
protagonismo, investindo em infraestrutura
física e social.
Peço licença para sugerir uma frase a Nassif: “Somos todos
keynesianos, mas sem receio de déficits púbicos
funcionais!”
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Fabio
Giambiagi
Economista do BNDES (AGR/DERIM)
“O Pêndulo da
História”
Ao
longo de sua trajetória econômica, em
seus trabalhos e artigos, o pensamento
ortodoxo de Fábio Giambiagi é a sua
marca registrada!
Discordo
do seu arcabouço teórico, mas defendo o
seu direito de expressá-lo, porque
acredito no contraditório como tese ou
como antítese, para estabelecer o embate
das idéias e chegarmos à síntese no
conceito dialético.
Fábio
cita o “Pêndulo da História” e se
coloca no lado dos temporariamente
“perdedores”. Desejo que ele esteja
errado no temporariamente!
O
arcabouço neoclássico já remonta dois séculos
e terminou “temporariamente” no dia 15
de setembro de 2008, e o keynesianismo (a
corrente “vencedora”), com todas as
suas variantes, retorna para produzir os
seus efeitos.
De
fato, podemos voltar a falar em
planejamento, política industrial,
desenvolvimentismo, sem que nos considerem
“jurássicos”!
Em
sua apresentação, Fábio escolhe seu período
“ótimo” de análise:
1999 a
2008. Para ele, o regime de “metas de
inflação” – e seu único
instrumento: a subida da taxas de juros
–, o superávit primário e o câmbio
livre são as políticas que permitiram a
trajetória do crescimento no período
1999-2008 até a eclosão da maior crise
financeira desde 1929. Nesse período,
mesmo com duas interrupções pelo “apagão”
de 2001 e pelo ano eleitoral de 2003, ele
consegue extrair, através da utilização
de uma média móvel trimestral
dessazonalizada, um crescimento médio de
4,5% em termos anuais. Prefiro salientar o
período de
1980 a
2008 – 28 anos de não-crescimento,
quando a taxa média real não ultrapassa
2,7% a.a.
Para
solucionar os desafios dos próximos 30
anos, prescreve: o aumento do nível
educacional; a resolução do déficit
previdenciário “estrutural e
potencialmente crescente” em virtude do
aumento da idade da aposentadoria; e, por
último, mas no mesmo grau de relevância,
o necessário aumento do nível de poupança,
já que na visão neoclássica ortodoxa, o
nível da oferta corrente está dado pela
ocupação da capacidade produtiva. Então,
para o aumento do PIB, é necessário
aumentar a poupança e diminuir os gastos
públicos para incrementar o investimento.
Quanto
ao futuro do BNDES, ele cita a tendência
da mudança das fontes, com a queda líquida
dos recursos do FAT, e a volatilidade dos
lucros acionários. Ele reconhece o acréscimo
dos recebimentos advindos do TESOURO, na
crise, mas ressalta seu receio,
procedente, de esta fonte estar hoje
lastreada no bom relacionamento do
presidente do BNDES com o presidente da
República. Portanto, ele advoga, para a
segurança do futuro do BNDES, que o mesmo
deva ser um banco pequeno, enxuto e
especializado nas operações de risco
maior – na lacuna deixada por outros
bancos. Um banco de negócios, certo?
Fabio
foi um autêntico representante do
pensamento ortodoxo, “temporariamente”
perdedor, conforme suas próprias
palavras. Esse comportamento digno o
diferencia de muitos de sua linha teórica
que, atordoados “temporariamente”,
adotam uma postura “autista”!
Fabio,
dentro dos seus paradigmas ortodoxos,
serviu exatamente para mostrar o contraditório
essencial que levou ao êxito o debate.
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Gustavo
Galvão dos Santos
Economista do BNDES (AP/DEART/GEART1)
“A boa nova: a relação
BNDES-TESOURO provoca desenvolvimento e
reduz a dívida pública!”
A
apresentação de Gustavo encaminha para
essa conclusão!
Ele
descreveu a ação dos Estados (Grande
Governo) e dos Bancos Centrais (Grande
Banco) pelo mundo, à lá Minsky, emitindo
a rodo para evitar a recessão. Esta ação,
por 30 anos, foi execrada pela filosofia
neoliberal. Mas em poucos meses, desde 15
de setembro de 2008, já foram injetados,
em todo o mundo, de US$
20 a
US$ 30 trilhões. Cita que governos e
sociedades recorrem a déficits fiscais,
sem nenhum pudor, preferindo-os à recessão
e ao desemprego aberto.
No
Brasil, ainda sob as influências das
“Finanças Saudáveis”, as autoridades
econômicas não recorreram aos gastos públicos,
mas utilizaram os bancos públicos em
resposta à retração dos privados. Os
R$100 bilhões no BNDES exemplificam isto,
para rápida atuação e apoio a empresas
pegas na retração da liquidez.
Numa
posição diametralmente oposta à de Fábio
Giambiagi, Gustavo Galvão defendeu que o
BNDES, em vez de pequeno e enxuto, precisa
ser o Grande Banco do Desenvolvimento
Nacional à
la Minsky
e apresentou as razões.
Ele
demonstrou, num exemplo numérico simples,
que mesmo financiando um projeto com a
taxa da TJLP menor que a Selic atual, o
retorno fiscal incremental – apenas pelo
efeito multiplicador (sem considerar o
efeito acelerador) – e a carga tributária
garantem um ganho tributário pelo aumento
da Renda, que cobre o subsídio da TJLP
menor. Na prática, significa dizer que se
o BNDES recebesse emissão pura de
dinheiro, por intermédio do Tesouro, ele
a materializaria em capacidade produtiva
real. E melhor: por conta dos empréstimos,
receberia títulos privados de melhor
qualidade se comparados com os do subprime!
Isso
é revolucionário, a partir da demonstração
de que o BNDES transforma simples numerário
abstrato em riqueza real. Gustavo infere
que nossa instituição não tem restrição
teórica para promover e financiar o
Projeto Nacional de Desenvolvimento!
Então,
por que não institucionalizar a relação
BNDES-TESOURO através do Congresso
Nacional?
Mas
Gustavo não termina aí. Sem limitações
orçamentárias, o que nunca aconteceu em
toda a história do Banco, o Projeto de
Metas para o futuro seria apenas uma questão
de escolha e de PLANEJAMENTO!
Assim,
ele elenca um portfólio de planos
baseados na idéia da industrialização,
espalhados espacialmente pelo território
nacional, com ênfase no Nordeste e na
criação do que ele denomina de Empresas
e Empreendimentos Campeões.
Enfim: “Agora, somos todos Financistas Funcionais!”
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A
Síntese do Debate
Agora,
me permito fazer a síntese pessoal do
evento. Desde já lembro que esse espaço
sempre estará aberto para as manifestações
discordantes dos colegas citados.
O
debate – no meu modo de ver – colocou
em confronto os desenvolvimentistas que
querem o BNDES de novo pró-ativo (pelo
seu poder de articulação e pela liderança
de um Projeto de Desenvolvimento Nacional)
e aqueles que querem vê-lo apenas como um
banco pequeno, especializado, esperando,
atrás do balcão, os projetos que serão
escolhidos sob a ótica do risco/retorno.
Coloco-me
ao lado daqueles que querem ver efetivado
o arranjo institucional BNDES-TESOURO-CONGRESSO
NACIONAL e restaurada a função PLANEJAMENTO!
PS: Conforme já foi divulgado, cópias da gravação
do seminário, em DVD, estão disponíveis
no Atendimento da Associação.
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(*) Vice-presidente da
AFBNDES.
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