17 de agosto de 2010

EDITORIAL
BNDES/TESOURO: Lobo ou Cordeiro?

Nós da AFBNDES (Associação dos Funcionários do BNDES) somos constantemente instados a responder às críticas que vêm sendo feitas à maior articulação institucional surgida no país, ainda que motivada pela crise de 2008: o arranjo BNDES/TESOURO, que tem anuência do Congresso Nacional.

Afirmamos que “nunca d’antes na história desse país” um arranjo surgido da crise pôde se revelar como instrumento que, ao libertar o BNDES de limitações financeiras, tornou o Banco capaz de promover, de forma proativa, o desenvolvimento nacional e o resgate dos passivos social e ambiental através da consecução das etapas de um planejamento estratégico do Estado brasileiro. E o BNDES, havendo vontade política, tem, avalizado pela sua história, plena capacidade de executar um Plano de Desenvolvimento Nacional.

No presente imediato, as oportunidades estão aí: o Pré-Sal, o potencial de desenvolvimento hidrelétrico e o atendimento das demandas dos eventos de 2014 e 2016. No médio prazo, então, não precisa nem inventar projetos: apenas o urgente enfrentamento do passivo socioambiental já garante um imenso canteiro de obras, com muitos empregos.

Não temos vocação para cordeiro da fábula de Esopo...

Nós da Associação não temos vocação para cordeiro, que morre no final. Não temos que explicar “n” vezes que o BNDES não é o lobo dessa fábula. Isso tudo já está demonstrado na Série BNDES. A função do Banco é executar o Desenvolvimento Nacional. Sem Limites e ponto!

Não temos que dar explicações para “o Lobo” da mídia...

Carece explicar que nossos empréstimos são liberados parceladamente, mediante comprovação da conclusão das etapas de um projeto, gerando impostos imediatamente, durante e depois da conclusão do aumento da capacidade produtiva.

Os lobos da mídia criticam sempre que nosso país não cresce porque não tem investimento, diferentemente da China e da Índia, e, no entanto, reprovam nossa única instituição financeira que concede financiamento para o investimento de longo prazo, diante de uma conjuntura difícil!

Invertamos o ônus da prova!

Os críticos estão convocados a provar que:

– o BNDES, ao utilizar recursos contábeis do Tesouro, não cria, através de seus financiamentos, unidades reais de processamento das riquezas nacionais e geradoras de impostos;

– o balanço final entre os recursos contábeis empregados e os recursos reais produzidos não é positivo a favor da produção e do valor adicionado criado;

– as políticas governamentais de criação de “campeões nacionais” – geradores de divisas – no caso brasileiro (destacamos Petrobras e Embraer) não foram importantes para todos os países que, como Coréia, China e Índia, realizaram o “catch up” (o grande salto) na história econômica mais recente;

– todos os “Eximbank’s” não estão, na verdade, financiando mundo afora, de forma “nacionalista”, seus “campeões nacionais”;

– os recursos de R$ 180 bilhões recebidos do Tesouro (em dois anos) e aplicados na produção nacional são mais concentradores do que os mais de R$ 320 bilhões pagos aos “rentistas” (em dois anos) a título de juros;

– os recursos do BNDES não geram contratos de financiamento, para abater da dívida bruta, ao contrário dos juros da Selic, que são incorporados a essa dívida;

– os “rentistas” queiram receber de volta suas aplicações em títulos do governo, ou melhor, que eles queiram a extinção da dívida pública e de suas fontes de ganhos;

– os juros da Selic, os mais atos do mundo, não provocam, pelo cerceamento do investimento e da oferta, uma trajetória ascendente da inflação no médio prazo, ao contrário da atuação do BNDES.

– os juros da Selic, os mais altos do mundo, ao valorizar o Real, não estão prejudicando as exportações, a balança comercial, aumentando o perigoso déficit de transações correntes e aumentando o passivo externo bruto – pelo BCB, em maio, U$ 1,080 trilhão!

É a Economia (Política), Estúpido!

Utilizamos a “surrada” frase de James Carville, incluindo Política para explicar o momento atual. Nossa plutocracia “rentista”, mídia incluída, apesar de beneficiada pelos altos juros vigentes nos últimos anos, por motivos políticos, pegou a relação BNDES/TESOURO para bode expiatório. No fundo, está em jogo o verdadeiro motivo: o embate eleitoral entre o candidato da manutenção dos juros e o candidato do crescimento econômico. Não importa explicitar quem é quem, basta entender o jogo de cena. O poder econômico está mostrando que não quer o crescimento. E faz isso atacando de todas as formas o BNDES para manter oculto o verdadeiro vilão e o verdadeiro motivo. Então, passa aos candidatos a seguinte mensagem: quem não abraçar a austeridade fiscal, o baixo crescimento e os juros “reais” elevados não terá apoio político-financeiro, antes ou depois da campanha.

Mas se algum “cordeiro de Esopo” perguntar se o crescimento e o desenvolvimento econômico não levam ao pleno emprego e à maximização dos ganhos, responderão: “É a Economia Política, estúpido!!!”.

Kalecki, o economista que, contemporâneo a Keynes, também desenvolveu o princípio da Demanda Efetiva, escreveu, em 1944, o seminal artigo:  Os Aspectos Políticos do Pleno Emprego (confira o texto no site da Associação/Série BNDES). Lá, ele explica, em suma, que apesar de ganharem mais no pleno emprego, os capitalistas preferem ganhar menos para não perder o poder político, principalmente, perante os trabalhadores e seus sindicatos. Vale a pena conferir.

No caso brasileiro, nossa situação é pior, pois nossos “capitalistas-rentistas”, que recebem a maior taxa de juros real do mundo, não precisam arriscar um centavo, nem gerar um único emprego, ou, quiçá, produzir um prego!  

Enfim, esse é o jogo, senhores!

BNDES/TESOURO para sempre!
A Diretoria da AFBNDES
(Texto publicado na edição 952 do VÍNCULO, em 29 de julho de 2010)
 
OPINIÃO

BNDES-TESOURO e o PAD
24
/11/2011

OPINIÃO

A loucura explicitada ou BNDES-TESOURO: o retorno!
VINCULO 1003 – 6/10/2011

OPINIÃO

Ensaios sobre a loucura... econômica (ou saudades do carioca Stanislaw Ponte Preta) 
VINCULO 978 –
7/4/2011

OPINIÃO

Presidenta: planejar é preciso
VINCULO 969 –
16/12/2010

EDITORIAL

BNDES/TESOURO X Selic maravilha
VINCULO 964 –
11/11/2010

EDITORIAL

BNDES/TESOURO: Lobo ou Cordeiro?
VINCULO 952 –
29/7/2010

Uma nova e derradeira indexação negociada
Claúdio Abreu – 2/12/2010

OPINIÃO

Para o bem de uns poucos e a infelicidade geral da nação
Claúdio Abreu – 16/9/2010

OPINIÃO

O DNA Benedense
Zé Benedino (*) –
17/8/2010

O MAIS GENIAL TEXTO DE CIÊNCIA POLÍTICA DO SÉCULO XX

Os Aspectos Políticos do Pleno Emprego
Michal Kalecki – postado em 27/07/2010

DOCUMENTO

O BNDES–TESOURO definitivo e a Alienação Geral!
Diretoria da AFBNDES – 26/05/2010
(arquivo em PDF)

ARTIGO
BNDES ILLIMITED?
Diretoria da AFBNDES – 24/11/2009
SEMINÁRIO
“O BNDES além da crise”
AFBNDES propõe debate sobre projetos que possam ir além do presente cenário nebuloso, seguindo a tradição nacional de ousar e se fortalecer na crise – 23/07/2009
“O BNDES além da crise”
Os bastidores do seminário na visão do coordenador 26/08/2009
EDITORIAL
BNDES - R$ 100 BILHÕES!
BNDES-Tesouro: premonição ou lógica?
O BNDES além da crise”

Diretoria da AFBNDES – 5/2/2009

CÍRCULO DO DESENVOLVIMENTO
BNDESOCIAL: o resgate do passivo social
De Eduardo Kaplan Barbosa, Gustavo Antonio Galvão dos Santos, Helio Pires da Silveira e Leonardo de Moura Perdigão Pamplona – 29/09/2008
BNDES-TESOURO
Por uma Política Monetária de Longo Prazo
De Hélio Pires da Silveira e Gustavo Antonio Galvão dos Santos – 21/08/2008
O BNDES sempre!
De Hélio Pires da Silveira – 21/08/2008
SIMPÓSIO CIDADE CIDADÃ
1 - A política do pleno emprego como prerrogativa da cidadania e base da estabilidade da democracia ampliada – 20/05/2008
2 - Síntese do projeto Cidade Cidadã – 20/05/2008
ESPECIAL
O discurso de posse de Luciano Coutinho no BNDES, em 2/5/2007