Atual
conjuntura
Em
7 de
maio
de 2011, publicamos
no VÍNCULO nº 978
(“Série BNDES”)
o
artigo
“Ensaios
sobre
a
oucura... econômica (ou
Saudades do carioca
Stanislaw Ponte
Preta)”,
elaborado
em
meados
de março daquele
ano. Nele mostrávamos
toda a nossa
estupefação
diante
de uma
conjuntura
bastante
complexa
que
já
indicava
nítidos
sinais
de
desagregação
da
situação
político-econômica
mundial e,
mesmo
assim, o
noticiário
especializado
ainda
assegurava
para
2011/12 um
ambiente
“autista” de tranquilidade
e de
crescimento
.
Ao
contrário, em
nossa
avaliação a
conjuntura
apresentava
fortes
indícios
de uma
nova
recidiva
da
crise
de 2008 e
um
segundo
mergulho recessivo.
Alertávamos
sobre
um
mundo
sofrido, lutando
para
sair
de
um
forte
desaquecimento
com
um
quadro
de desemprego e
insatisfações
sociais
que
se alastravam
pelos
países
árabes
e
por
alguns
europeus,
além
da
tragédia
do
terremoto
no Japão. Explicávamos
a
situação
contraditória
na
qual,
diante
da sofrida
realidade
, assistíamos os
operadores
financeiros
globais
especulando em commodities,
moedas
e
títulos
soberanos
de
países
endividados.
Ou
seja, a
situação
se apresentava
como
estagflação
–
inflação
com
recessão
–, se
nada
fosse
feito
em
torno
de uma
coordenação
mundial.
De
fato,
desde
antes
da
falência
do Lehman Brothers,
em
setembro
de 2008, estamos
comentando,
através
dos
artigos
da “Série
BNDES” (iniciados
com “O
BNDES sempre!”,
de 31/07/2008), que
a
liquidez
adicional
injetada no
sistema
financeiro mundial,
diante
de uma
conjuntura
recessiva, seria
alavancadora de
posições
especulativas
com
maus
presságios
futuros.
Hoje,
após
o ocorrido, é nítido
que
esse
procedimento
provocou o
inchaço
das
cotações
mundiais das commodities:
alimentos,
combustíveis
e
minérios, ocasionando
um
acréscimo
médio
adicional
de 2% no
nível
da
inflação
mundial.
Acreditamos
que
esse
fato – ao
empobrecer
particularmente
populações
dos
países
não
produtores
desses insumos –
foi o
motivo
principal
da “Primavera Árabe”.
Sobre
esse
aspecto
indicamos a
leitura
de
“The
Biggest
Commodity
Bubble of All
Time: Response to
Critics”, de
Randall Wray, da
Escola de Finanças
Funcionais (teoria
apresentada por nós
no artigo “BNDES-TESOURO
por
uma
Política
Monetária
de
Longo
Prazo
”).
No
texto, Wray explica que
a
maior
bolha
de commodity
de
todos
os
tempos, verificada
desde
2004,
não
foi gerada
só
pelo
aumento
de
consumo
da China,
mas, de forma
relevante,
pelos
operadores
financeiros e
suas
posições
alavancadas
nos
mercados
futuros. Em
resumo, o
sistema
financeiro
internacional,
após
a
invasão
do Iraque e a
derrota
de Saddan Hussein,
em 2003,
livre
dos
receios
de uma
guerra
que
poderia
se
prolongar
e
ter
reflexos
nucleares, partiu
para
um
rallye
virtuoso
de
criação
de
crédito
ilimitado,
financiando
consumo,
aquisições
de
imóveis
e especulando com
ativos e
mercadorias.
2011,
o segundo
mergulho
O
primeiro
ato
desse “circuito
virtuoso” termina,
como
vimos,
em
setembro
de 2008,
com
a
injeção
de
recursos
oficiais
pelos
bancos centrais e
Tesouros
dos governos
soberanos no
sistema
financeiro
privado
em
“estado
de
choque”. O
mundo
real
da
produção
e comercialização,
entretanto, fica
em
recessão
até
meados
de 2010,
quando
apresenta
alguns
sinais
de
melhora, incentivando
analistas
precipitados a
concluir
que
o
pior
já
tinha
passado,
apesar
da
clara
evidência
dos
sinais
relevantes
de
aumento
do desemprego e
insatisfações
sociais
comentadas.
Eles
não
perceberam
que
os
mesmos
recursos (títulos públicos)
que
foram emitidos e
trocados
pelos
ativos
“tóxicos” privados
para
salvar
os bancos
acabaram
por
endividar
os
países
centrais.
Hoje, os
bancos
privados
salvos
são
credores
de títulos
soberanos
insolventes, provocando,
principalmente
na Europa, uma
paralisação
do
sistema
financeiro,
com
risco
de
moratória
e insolvência
generalizada.
Ou
seja,
assistimos, agora,
ao segundo
ato
da
crise
de 2008, ou ao
segundo
mergulho recessivo
no qual
os
países
soberanos
se vêem
diante
de
situações
fiscais
que
diante
de
suas
orientações
políticas
ortodoxas os mantêm
presos
em
círculos
de
giz. Explicando melhor:
diante
dos
dogmas
ortodoxos,
esses
países
só
podem
sair
da
recessão
mediante
cortes
fiscais
em
seus
orçamentos, o
que
representa
cortes
de
pessoal
e
gastos
oficiais
que
retroalimentam a
recessão
pela
redução da
Renda
.
Atordoados e reféns
da ortodoxia,
dirigentes
mundiais
não
“querem
perceber”, ainda,
que
a
saída
passa
pela
coordenação
política
e a
troca
da
agenda
de
cortes
fiscais
pela
do
crescimento
econômico
urgente, a
exemplo
do New Deal
de Roosevelt
nos
anos
1930.
Por
esse
caminho,
só
o crescimento
da renda poderá
diluir
a
relação
Dívida
/PIB a
médio
prazo
.
A
loucura
explicitada
Analistas
heterodoxos
alertam
para
o
impasse
que
a ortodoxia está
causando, clamam
por
uma
solução
negociada
mediante a
coordenação
política
dos
principais
países
desenvolvidos
e a
troca
das
agendas
citadas.
Entretanto,
nesse
momento, o
que
vemos é uma
total
anemia
política
dos
principais
líderes
mundiais,
postergando
encontros
que
se mostram
urgentes.
Agora,
com
os nítidos
sinais
de
recessão
mundial, os
analistas
otimistas
do
início
do
ano
“caem na
real” e,
pessimistas, refazem
suas
opiniões, reduzindo
projeções, a
exemplo
do
crescimento
de 4,5%
que
esperavam
para
o Brasil, e declaram
que
o “
mundo
está
louco
”.
Para
nós,
que
nos
sentíamos
atordoados e achávamos
“tudo
louc
” no
início
do
ano, agora os vetores
contraditórios
se definiram e a
situação
se
torna
clara
.
Infelizmente
é o
segundo
mergulho recessivo,
e
nosso
país,
por
exemplo
, infelizmente
caminha
para
um
medíocre
crescimento
em
torno
de 3,5%,
como
tínhamos especulado
no
artigo
“Ensaios
sobre
a
loucura...”.
O
mundo
econômico
refém
da ortodoxia
A
partir
de
agosto,
indicadores
econômicos
nos
EUA revelam
que
a
economia
está
em
ritmo
de desaceleração,
evidenciada
principalmente
pelos
níveis
de solicitação de
auxílio
desemprego. O
presidente
Obama, do Partido
Democrata, e o FED (Federal
Reserve, o Banco
Central dos EUA),
apesar
das
tentativas
de
estímulos
fiscais
e monetárias, ficam
limitados pelas
restrições
políticas
impostas
pelo
Partido Republicano,
atento
à
corrida
presidencial de
2012.
Na
Zona
do
Euro, os
líderes
da Alemanha e da
França buscam
manter a
união
dos 17
países, mas
sofrem
oposição
de
seus
próprios
eleitores
e daqueles
países
que
ainda
não
enfrentaram
problemas
graves.
Por
outro
lado, a
falta
de
coordenação
entre
a
Comissão
Europeia e o
Banco
Central
Europeu,
com
seu
perfil
conservador, posterga
soluções
urgentes
de flexibilização
de
medidas
que
aliviariam a
ansiedade
dos desempregados
gregos, portugueses,
espanhóis,
além
dos
jovens
europeus
que
não
veem
perspectivas
de
emprego
.
Juntos,
EUA e Europa
representam
mais
da
metade
do PIB mundial, o
peso
de
suas
economias
é balizador do
resto
do
mundo, daí o
temor
quanto
aos
sintomas
recessivos e os
problemas
que
vêm enfrentando. A
semana
de
19 a
23 de
setembro
foi
significativa,
pois
mostrou
toda
a volatilidade dos
mercados
diante
das
notícias
das
dificuldades
dos
bancos
europeus
e da
decepção
com
os
anêmicos
pacotes
do FED
ante
a
grande
expectativa
gerada. As
bolsas
mundiais sofreram
forte
desvalorização, o
petróleo, a
principal
commodity, liderou a
queda
das
mercadorias
e o enfraquecido dólar
voltou a
servir
de
porto
seguro
para as
economias
mundiais.
Agora,
os
agentes
se mantêm na
expectativa,
aguardando as próximas
reuniões
dos
líderes
com
alguma
perspectiva
relevante, ansiando
que
nenhum
fato
extemporâneo
aconteça.
Ou
seja,
vivemos
tempos
de
incerteza
em
que
os
mercados
não
oferecem
saídas
socialmente
adequadas; ao
contrário, se
nenhum
acordo
político
aparecer,
sabemos
que
a
solução
de
ajuste,
via
mercado, a
exemplo
do
que
ocorre no Japão, é
a
recessão
prolongada.
No
Brasil...
Aqui,
o
real, que
até
23 de
julho
se valorizava, a
exemplo
de 2008, atingindo
R$ 1,537
por
dólar,
inverteu a
tendência, a
partir
de
agosto,
e rapidamente alcança
e se mantém na
casa
de R$ 1,80 –
depois
de chegar ao
pico
de R$ 1,96
em
22 de
setembro, seguindo a
trajetória
de outras
moedas
do
mundo. Esperamos
que
não
seja uma
fuga
permanente
.
Nos
artigos
anteriores da “Série
BNDES” (“BNDES-TESOURO
X Selic
Maravilha!”, de
19/11/2010; “Presidenta:
planejar
é
preciso!”, de
16/12/2010;
além
de “
Ensaios
sobre
a
loucura...
econômica”, de 07/04/2011)
alertávamos
que
a
fuga
dos
capitais
“corredores”, atraídos
pela
nossa
tentadora e
avantajada
taxa
de juros
,
poderia
voltar
a
ocorrer, a
exemplo
de 2008. Portanto,
era
temerário
manter
uma
taxa
estratosférica...
Alerta
Geral
!
Carlos Thadeu de
Freitas,
economista-chefe da
Confederação
Nacional
do
Comércio
e ex-
diretor
do
Banco
Central, no artigo “O
ajuste
vai
ser
pela
deflação”, publicado no
jornal
O
Globo
de 24/09/2011,
conclui, a
exemplo
de
nossos
piores
receios,
que
uma
vez
esgotada a
munição
fiscal
e monetária
nos
EUA e Europa,
restaria a
opção
da
depreciação
cambial. Entretanto, a
guerra
cambial
competitiva, uma
vez
deflagrada,
resultaria
em
soma
zero.
Assim,
ele
infere
que
o rebalanceamento
global de
longo
prazo,
caso
as
autoridades
monetárias dos
países
não
sejam proativas,
poderá
passar
por
uma
espécie
de
espiral
deflacionária
depressiva nas
economias
centrais.
Então, um
forte
período
deflacionário pode
estar
a
caminho
e, na
medida em
que
isso
acontecer, a
probabilidade
de uma
queda
dos
preços
das commodities
afetaria
diretamente
o Brasil, expondo a
fragilidade
da
conta
de
transações
correntes.
Enfim,
só
nos
resta
esperar
que
uma
solução
política
coordenada, em
nível
mundial, seja
encontrada,
pela
via
do
crescimento
planejado e
não
pela
atual
onda
de austeridade
recessiva.
Para
tanto,
não
faltam instrumentos,
instituições
e
exemplos
na
história
do
século
XX. Basta
recuperar
a
trajetória
dos Estados de
bem-estar
social
dos
anos
1960,
como
fizeram, na
época, a Europa e os EUA.
Entretanto,
devemos
estar
alertas,
pois
entendemos
que
a
situação
já
alcança
um
nível
de
gravidade
tal
que
o
país,
por
motivo
de
segurança,
já
deveria
antecipar
medidas
de
salvaguarda
para
proteger
nossa
economia. Devemos
estar
preparados
para
a
depreciação
de
nossa
moeda, mantida valorizada
por
uma
taxa
de
juros
artificialmente
elevada. Neste
momento, o
câmbio
livre
é a
melhor
defesa
para
o
real. Todavia
isso
vai liberar
níveis
inflacionários
represados
artificialmente
por
tantos
anos
de
política
de
juros
elevados.
Então, é
hora
de
pensar
mecanismos
de
defesa
salarial e,
para
tanto, se faz necessária
a
utilização
da
metodologia
preconizada
pelo
atual
presidente
da AFBNDESPAR,
Claudio Braga de
Abreu e Silva, no
artigo: “Uma
nova
e
derradeira
indexação
negociada”,
publicado no VÍNCULO
nº 967, de
02/12/2010,
para
diluir
os efeitos
inflacionários
represados.
Por
outro
lado,
como
destacamos
nos
artigos
citados neste
trabalho, é
hora
de resgatarmos o
planejamento
estratégico
para
desenvolvermos
nossos
potenciais
em:
energia
elétrica,
exploração
soberana
e planejada do pré-sal,
recuperação
de
nossa
infra
estrutura
viária
social
e
urbana,
além
de organizarmos os
ventos
esportivos
de 2014 e 2016.
Para
tanto
estamos participando
do Fórum
Nacional
de
Desenvolvimento
junto
com
as
Associações
de
Funcionários
do BNB, do IPEA e
dos
Analistas
de
Planejamento
e
Orçamento
do
Ministério
do
Planejamento,
que
intentam
apresentar
um
Plano
de
Desenvolvimento
para
o país.
Finalmente,
é
hora
de “
azeitar
” o
arranjo
institucional
BNDES-TESOURO
para
novamente ser o
financiador de todo
o
projeto
nacional
.
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