"Foi
em Diamantina, onde nasceu
JK, que a princesa
Leopoldina arresolveu se casá..."
–
Samba
do Crioulo Doido, de Sérgio
Porto, o Stanislaw Ponte
Preta
Atual
conjuntura I
Na
introdução do "Samba
do Crioulo Doido", o
jornalista Sérgio Porto, o
genial Stanislaw Ponte
Preta, conta que um
compositor de samba-enredo,
homem de poucas letras, após
anos seguindo o regulamento,
quebrando a cabeça para
compor sobre temas históricos
brasileiros, tais como Abolição,
Inconfidência, Proclamação
e Monarquia, surtou de vez
quando o tema do ano foi a Atual
Conjuntura.
Dono
de humor político cáustico,
Sérgio, falecido
precocemente em 1968, foi um
grande criador de frases,
tais como: "A
prosperidade de certos
homens públicos no Brasil
é uma prova evidente de que
eles vêm lutando pelo
progresso de nosso
subdesenvolvimento".
Exaltador da beleza
feminina, criou a famosa
lista anual "As
certinhas do Lalau",
para contrapor a lista
das "10 mais"
(socialites) do colunista
social Jacinto de Thormes (o
Maneco Muller). Com relação
à beleza da carioca, disse
uma vez, satiricamente, que
"se peito de moça
fosse buzina, ninguém
conseguiria dormir nesta
cidade".
Por
fim, Sérgio Porto foi o
criador do "FEBEAPÁ
– o Festival de Besteiras
que Assola o País". Na
obra compilava frases,
recortes de jornais,
atitudes e resoluções
oficiais que de acordo com
sua narrativa resultava em
situações ridículas, em
pleno regime de exceção.
Seguramente, se vivo
estives-se, Sérgio estaria
na enésima edição do que
agora poderia ser chamado FEBEAMUN
– O Festival de Besteiras
que Assola o Mundo.
Atual
conjuntura II
Mundial
Inspirados
por Sérgio Porto, podemos,
então, tentar entender (ou
não) o que acontece num
mundo louco. Na Série
BNDES, publicada no site
da Associação, temos
relatado os sucessivos
acontecimentos pós-setembro
de 2008, quando, em resumo,
vemos operadores
financeiros, bastante líquidos
e refeitos do susto recente,
especulando em ativos e commodities
– totalmente
dissociados de um mundo real
sofrido e ainda lutando para
sair de um forte
desaquecimento que teima em
perdurar. A propósito, o
documentário vitorioso no
Oscar de 2011, "Inside
Job", retrata
didaticamente o que foi este
escândalo.
Não
bastassem as desastradas ações
humanas, acrescenta-se
infelizmente uma tragédia
natural da proporção do
terremoto do Japão, com
lamentáveis perdas humanas
e ameaça de acidente
nuclear.
No
atual estágio da financeirização,
vemos, de novo no mundo,
situação semelhante aos
meses que antecederam o
setembro de 2008, ou seja,
petróleo, minerais e
alimentos atingindo cotações
elevadas, mas agora,
diferentemente daquele período,
diante de um quadro de
desemprego e insatisfações
sociais que se alastra pelo
globo. Com tantos vetores
contraditórios, podemos,
como resultante, estar
diante de um possível
quadro de estagflação,
inflação de commodities
e baixa atividade econômica
no mundo real, prenúncio de
um quadro abertamente
recessivo.
Estamos,
então, em um momento pré-Ponzi
(metaforicamente, uma grande
bolha especulativa)?
Infelizmente, mesmo diante
do conhecimento atual, em
que o domínio da política
econômica – com suas
principais subdivisões (a
monetária e a fiscal) –
pode acabar com a recessão,
lideranças mundiais teimam
em deixar o mundo líquido,
por um lado, e, ao mesmo
tempo, em desaquecimento
diante de atuações
restritivas na esfera
fiscal. Lideranças mundiais
teimam em não adotar políticas
coordenadas, acreditando que
a aleatoriedade dos mercados
encontrará o caminho da saída.
Não veem que políticas
monetárias frouxas e
fiscais restritivas são
lenha na fogueira da recessão
e razão dos conflitos
sociais que se alastram?
Desejamos
que o bom senso predomine no
último minuto antes do
caos, e políticas de
coordenação prevaleçam
tal como a sugerida por
Keynes em 1944 (leia
"BNDES
–TESOURO e a Alienação
Geral (PDF)";
e "A
financeirização da fome",
de Luiz Gonzaga Beluzzo.
Então,
o que prevalecerá, nessa
atual conjuntura, a
impessoalidade do mercado ou
uma forte atuação humana
de forma coordenada?
Brasil
Após
um crescimento de 7,5% em
2010, parece que tudo se fará
para voltarmos à paz dos
cemitérios. Ao invés
de metas de crescimento de
7% a.a., menor que as taxas
históricas de mais de duas
décadas do I e do C dos
BRIC’s, perseguiremos
metas de inflação de 4,5%
a.a. (até 2012) e
crescimento de 3,5% a.a.
Diante
de uma conjuntura em que os
países tentam de todas as
formas manter suas moedas
depreciadas, a nossa taxa de
câmbio, já extremamente
apreciada, é mais uma vez
fortalecida, haja vista que
em duas rodadas o COPOM
manteve nossa taxa de juros
na posição de maior do
mundo – para a alegria dos
rentistas daqui e do
exterior.
Se
confirmado o momento
Ponzi, não poderemos
presenciar o mesmo quadro
acontecido em 2008, em que
diante da eclosão da crise
demoramos a reduzir a taxa
de juros? Não poderemos
presenciar uma nova depreciação
cambial explosiva e a fuga
dos capitais velocistas?
Estamos diante de uma situação
preocupante? Que medidas
tomar?
Planejar
é preciso
Por
outro lado, vivemos uma
situação paradoxal, uma
conjuntura mundial difícil,
mas um calendário de
eventos esportivos até
2016, além da exploração
do Pré-Sal! E a partir
dessa constatação, surgem
várias interrogações:
Conseguiremos superar o
curto prazo e partirmos para
planejar os próximos anos
favoráveis?
Não
será necessário retomar as
práticas do planejamento
estratégico para atacarmos
nossas dívidas sociais e
recuperarmos nossas
estruturas urbanas,
municipais e regionais? Não
temos de buscar o pleno
emprego e desenvolver nossas
potencialidades dentro dos
princípios da preservação
ambiental e da
sustentabilidade?
Não
temos que planejar o
desenvolvimento de nossa
matriz energética limpa e
logística, e através dela
agregarmos valor ao nosso
setor industrial, atualmente
debilitado pelo câmbio e
pelas elevadas taxas de
juros?
Não
temos que planejar e
desenvolver a exploração
do petróleo do Pré-Sal de
forma a só exportar o
excedente com maior valor
agregado? Não temos que
levantar o real
dimensionamento das reservas para servir de
lastro para as necessidades
cambiais que financiarão a
aquisição dos bens de
capital iniciais necessários
à recuperação do parque
de equipamentos nacional
para a exploração petrolífera?
O excedente também não
poderá financiar um novo
processo de industrialização
autônomo?
Não
temos que ficar alertas
diante das nações amigas
que oferecem seus excessos
de liquidez e suas instalações
e equipamentos ociosos para
financiar nossas
necessidades presentes em
troca do comprometimento de
cotas futuras de petróleo
cru?
Por
tudo isso, estamos apoiando
a iniciativa de participação
no Fórum Nacional de
Desenvolvimento, junto com
as Associações de Funcionários
do BNB, do IPEA e dos
Analistas de Planejamento e
Orçamento do Ministério do
Planejamento, conforme
publicado no último VÍNCULO,
na matéria "Por
um Plano Estratégico de
Desenvolvimento".
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