9 de junho de 2011

OPINIÃO
Ensaios sobre a loucura... econômica (ou Saudades do carioca Stanislaw Ponte Preta)

Helio Silveira

Diretor de Relações Institucionais da AFBNDES

"Foi em Diamantina, onde nasceu JK, que a princesa Leopoldina arresolveu se casá..." Samba do Crioulo Doido, de Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta

Atual conjuntura I

Na introdução do "Samba do Crioulo Doido", o jornalista Sérgio Porto, o genial Stanislaw Ponte Preta, conta que um compositor de samba-enredo, homem de poucas letras, após anos seguindo o regulamento, quebrando a cabeça para compor sobre temas históricos brasileiros, tais como Abolição, Inconfidência, Proclamação e Monarquia, surtou de vez quando o tema do ano foi a Atual Conjuntura.

Dono de humor político cáustico, Sérgio, falecido precocemente em 1968, foi um grande criador de frases, tais como: "A prosperidade de certos homens públicos no Brasil é uma prova evidente de que eles vêm lutando pelo progresso de nosso subdesenvolvimento". Exaltador da beleza feminina, criou a famosa lista anual "As certinhas do Lalau", para contrapor a lista das "10 mais" (socialites) do colunista social Jacinto de Thormes (o Maneco Muller). Com relação à beleza da carioca, disse uma vez, satiricamente, que "se peito de moça fosse buzina, ninguém conseguiria dormir nesta cidade".

Por fim, Sérgio Porto foi o criador do "FEBEAPÁ – o Festival de Besteiras que Assola o País". Na obra compilava frases, recortes de jornais, atitudes e resoluções oficiais que de acordo com sua narrativa resultava em situações ridículas, em pleno regime de exceção. Seguramente, se vivo estives-se, Sérgio estaria na enésima edição do que agora poderia ser chamado FEBEAMUN – O Festival de Besteiras que Assola o Mundo.

Atual conjuntura II
Mundial

Inspirados por Sérgio Porto, podemos, então, tentar entender (ou não) o que acontece num mundo louco. Na Série BNDES, publicada no site da Associação, temos relatado os sucessivos acontecimentos pós-setembro de 2008, quando, em resumo, vemos operadores financeiros, bastante líquidos e refeitos do susto recente, especulando em ativos e commodities totalmente dissociados de um mundo real sofrido e ainda lutando para sair de um forte desaquecimento que teima em perdurar. A propósito, o documentário vitorioso no Oscar de 2011, "Inside Job", retrata didaticamente o que foi este escândalo.

Não bastassem as desastradas ações humanas, acrescenta-se infelizmente uma tragédia natural da proporção do terremoto do Japão, com lamentáveis perdas humanas e ameaça de acidente nuclear.

No atual estágio da financeirização, vemos, de novo no mundo, situação semelhante aos meses que antecederam o setembro de 2008, ou seja, petróleo, minerais e alimentos atingindo cotações elevadas, mas agora, diferentemente daquele período, diante de um quadro de desemprego e insatisfações sociais que se alastra pelo globo. Com tantos vetores contraditórios, podemos, como resultante, estar diante de um possível quadro de estagflação, inflação de commodities e baixa atividade econômica no mundo real, prenúncio de um quadro abertamente recessivo.

Estamos, então, em um momento pré-Ponzi (metaforicamente, uma grande bolha especulativa)? Infelizmente, mesmo diante do conhecimento atual, em que o domínio da política econômica – com suas principais subdivisões (a monetária e a fiscal) – pode acabar com a recessão, lideranças mundiais teimam em deixar o mundo líquido, por um lado, e, ao mesmo tempo, em desaquecimento diante de atuações restritivas na esfera fiscal. Lideranças mundiais teimam em não adotar políticas coordenadas, acreditando que a aleatoriedade dos mercados encontrará o caminho da saída. Não veem que políticas monetárias frouxas e fiscais restritivas são lenha na fogueira da recessão e razão dos conflitos sociais que se alastram?

Desejamos que o bom senso predomine no último minuto antes do caos, e políticas de coordenação prevaleçam tal como a sugerida por Keynes em 1944 (leia "BNDES –TESOURO e a Alienação Geral (PDF)"; e "A financeirização da fome", de Luiz Gonzaga Beluzzo.

Então, o que prevalecerá, nessa atual conjuntura, a impessoalidade do mercado ou uma forte atuação humana de forma coordenada?

Brasil

Após um crescimento de 7,5% em 2010, parece que tudo se fará para voltarmos à paz dos cemitérios. Ao invés de metas de crescimento de 7% a.a., menor que as taxas históricas de mais de duas décadas do I e do C dos BRIC’s, perseguiremos metas de inflação de 4,5% a.a. (até 2012) e crescimento de 3,5% a.a.

Diante de uma conjuntura em que os países tentam de todas as formas manter suas moedas depreciadas, a nossa taxa de câmbio, já extremamente apreciada, é mais uma vez fortalecida, haja vista que em duas rodadas o COPOM manteve nossa taxa de juros na posição de maior do mundo – para a alegria dos rentistas daqui e do exterior.

Se confirmado o momento Ponzi, não poderemos presenciar o mesmo quadro acontecido em 2008, em que diante da eclosão da crise demoramos a reduzir a taxa de juros? Não poderemos presenciar uma nova depreciação cambial explosiva e a fuga dos capitais velocistas? Estamos diante de uma situação preocupante? Que medidas tomar?

Planejar é preciso

Por outro lado, vivemos uma situação paradoxal, uma conjuntura mundial difícil, mas um calendário de eventos esportivos até 2016, além da exploração do Pré-Sal! E a partir dessa constatação, surgem várias interrogações: Conseguiremos superar o curto prazo e partirmos para planejar os próximos anos favoráveis?

Não será necessário retomar as práticas do planejamento estratégico para atacarmos nossas dívidas sociais e recuperarmos nossas estruturas urbanas, municipais e regionais? Não temos de buscar o pleno emprego e desenvolver nossas potencialidades dentro dos princípios da preservação ambiental e da sustentabilidade?

Não temos que planejar o desenvolvimento de nossa matriz energética limpa e logística, e através dela agregarmos valor ao nosso setor industrial, atualmente debilitado pelo câmbio e pelas elevadas taxas de juros?

Não temos que planejar e desenvolver a exploração do petróleo do Pré-Sal de forma a só exportar o excedente com maior valor agregado? Não temos que levantar o real dimensionamento das reservas para servir de lastro para as necessidades cambiais que financiarão a aquisição dos bens de capital iniciais necessários à recuperação do parque de equipamentos nacional para a exploração petrolífera? O excedente também não poderá financiar um novo processo de industrialização autônomo?

Não temos que ficar alertas diante das nações amigas que oferecem seus excessos de liquidez e suas instalações e equipamentos ociosos para financiar nossas necessidades presentes em troca do comprometimento de cotas futuras de petróleo cru?

Por tudo isso, estamos apoiando a iniciativa de participação no Fórum Nacional de Desenvolvimento, junto com as Associações de Funcionários do BNB, do IPEA e dos Analistas de Planejamento e Orçamento do Ministério do Planejamento, conforme publicado no último VÍNCULO, na matéria "Por um Plano Estratégico de Desenvolvimento".

(Texto publicado na edição 978 do VÍNCULO, em 7 de abril de 2011)
OPINIÃO

BNDES-TESOURO e o PAD
24
/11/2011

OPINIÃO

A loucura explicitada ou BNDES-TESOURO: o retorno!
VINCULO 1003 – 6/10/2011

OPINIÃO

Ensaios sobre a loucura... econômica (ou saudades do carioca Stanislaw Ponte Preta) 
VINCULO 978 –
7/4/2011

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Presidenta: planejar é preciso
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BNDES/TESOURO X Selic maravilha
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BNDES/TESOURO: Lobo ou Cordeiro?
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O MAIS GENIAL TEXTO DE CIÊNCIA POLÍTICA DO SÉCULO XX

Os Aspectos Políticos do Pleno Emprego
Michal Kalecki – postado em 27/07/2010

DOCUMENTO

O BNDES–TESOURO definitivo e a Alienação Geral!
Diretoria da AFBNDES – 26/05/2010
(arquivo em PDF)

ARTIGO
BNDES ILLIMITED?
Diretoria da AFBNDES – 24/11/2009
SEMINÁRIO
“O BNDES além da crise”
AFBNDES propõe debate sobre projetos que possam ir além do presente cenário nebuloso, seguindo a tradição nacional de ousar e se fortalecer na crise – 23/07/2009
“O BNDES além da crise”
Os bastidores do seminário na visão do coordenador 26/08/2009
EDITORIAL
BNDES - R$ 100 BILHÕES!
BNDES-Tesouro: premonição ou lógica?
O BNDES além da crise”

Diretoria da AFBNDES – 5/2/2009

CÍRCULO DO DESENVOLVIMENTO
BNDESOCIAL: o resgate do passivo social
De Eduardo Kaplan Barbosa, Gustavo Antonio Galvão dos Santos, Helio Pires da Silveira e Leonardo de Moura Perdigão Pamplona – 29/09/2008
BNDES-TESOURO
Por uma Política Monetária de Longo Prazo
De Hélio Pires da Silveira e Gustavo Antonio Galvão dos Santos – 21/08/2008
O BNDES sempre!
De Hélio Pires da Silveira – 21/08/2008
SIMPÓSIO CIDADE CIDADÃ
1 - A política do pleno emprego como prerrogativa da cidadania e base da estabilidade da democracia ampliada – 20/05/2008
2 - Síntese do projeto Cidade Cidadã – 20/05/2008
ESPECIAL
O discurso de posse de Luciano Coutinho no BNDES, em 2/5/2007