Nos últimos anos, o
BNDES tem passado por
importantes
transformações, com
impactos estruturais na
sua forma de atuação. O
elemento catalisador
desse processo foi a
instituição da TLP como
principal indexador dos
contratos de crédito
celebrados a partir de
2018. Com isso, o Banco
passou a ter uma
estrutura de funding
referenciada a
condições de mercado.
Essa novidade, conjugada
a um longo período de
recessão econômica (o
país caminha para o
sexto ano consecutivo de
crescimento medíocre ou
negativo), baixíssimo
investimento e
convergência da taxa
básica de juros para um
patamar historicamente
baixo, formaram um
cenário que ensejou um
reposicionamento amplo
do Banco, envolvendo
inovações no portfólio
de produtos e busca por
maior fluidez e
agilidade nos processos
associados, com destaque
para a digitalização
intensiva dos canais de
crédito indireto (ADIG);
a criação de novos
produtos diretos com
esteiras semiautomáticas
(Finame Direto, Crédito
Direto Médias Empresas,
BNDES Direto 10); e a
instituição do processo
de habilitação, que
alterou de forma
significativa o fluxo
operacional e a forma de
acesso do cliente ao
BNDES.
Um componente importante
do reposicionamento do
Banco face ao cenário
acima descrito foi
justamente a
estruturação de um novo
arcabouço de
relacionamento com o
cliente. A criação de
uma Área de Fomento (AFO)
derivou da compreensão
sobre a necessidade de
realizar uma gestão
estratégica das ações de
fomento do BNDES, que
permitisse a
identificação de
oportunidades de
investimento e a
intensificação da busca
ativa por novos clientes
potenciais em todas as
regiões do país.
Nesse sentido, foi posto
em marcha um esforço
inédito de inserção
regional do BNDES. Os
escritórios regionais do
Banco (DENOC-Brasília-DF,
DESUL-São Paulo-SP e
DENOR-Recife-PE), antes
com funções
principalmente de
representação
institucional e apoio
operacional, foram
mobilizados para foco
intensivo em ações de
fomento e originação de
negócios, estabelecendo
relacionamento ativo e
sistemático com os
atores de suas
respectivas regiões. No
Rio de Janeiro, uma
equipe de gestão e
inteligência de
prospecção ficou
responsável por delinear
a estratégia, definir
públicos-alvo e as
táticas de fomento;
coordenar a interlocução
com as áreas
operacionais que são
responsáveis pela
análise e contratação
das operações captadas;
além de monitorar e
reportar os resultados.
E os resultados são
dignos de nota. Em pouco
mais de um ano de
atividades, foram
captadas 62 novas
operações diretas, que
correspondem a R$ 2,4
bilhões em carteira de
crédito. São operações
de tíquete médio de R$
38 milhões, um pouco
menor que o observado
historicamente nas
operações diretas do
BNDES. Esse perfil de
operações menores pode
ser explicado, por um
lado, pela já mencionada
baixa propensão
conjuntural a investir,
mas, por outro lado,
pelo apoio a um perfil
de cliente também de
porte menor que o
observado
historicamente, o que
promove a diversificação
da carteira de crédito e
caracteriza a
aproximação do BNDES com
clientes que enfrentam
maior restrição de
crédito, usualmente
premidos por uma oferta
bancária curtoprazista e
de custo elevado,
incompatível com suas
necessidades de
investimento e planos de
crescimento sustentado.
Adicionalmente a esse
volume de operações
tramitando internamente
no BNDES, há um pipeline
de R$ 5,6 bilhões já em
estágio maduro (em
processo de habilitação)
e outras oportunidades
estimadas em R$ 14,8
bilhões em estágios mais
iniciais de prospecção.
Além dos resultados
operacionais concretos
acima descritos, é
possível observar ganhos
intangíveis de imagem e
reputação para o BNDES
junto à sociedade. A
construção de um
relacionamento próximo
com atores locais dos
setores público e
privado impulsiona a
percepção do BNDES como
potencial parceiro de
longo prazo para apoiar
dinâmicas econômicas
regionais. Nos trabalhos
de prospecção, foram
abordados mais de 1.700
clientes potenciais, em
500 municípios do país.
Vale destacar que 97%
desse público não tinha
relacionamento direto
com o BNDES e que 51%
desses clientes estão
sediados nas regiões
Norte, Nordeste e
Centro-Oeste (regiões
que respondem por 29% do
PIB nacional).
Para a estruturação das
ações de fomento, foram
desenvolvidos
instrumentos de
inteligência para
suporte à prospecção e
gestão do pipeline. A
Cosmobase, acessível
para utilização de todo
o Banco, é uma
ferramenta que integra
um amplo conjunto de
informações disponíveis
sobre mais de 30 mil
empresas com potencial
de tomar crédito direto
junto ao BNDES, das
quais 17 mil não têm
nenhum relacionamento
com o BNDES. Essa
ferramenta facilita a
caracterização dos
públicos e a busca por
clientes potenciais com
maior aderência aos
propósitos estratégicos
do BNDES, o que tende a
tornar as abordagens de
fomento mais efetivas.
Cabe destacar também a
implantação de um
sistema de CRM (gestão
de relacionamento com o
cliente) que permite
visão atualizada sobre o
status de cada uma
daquelas 1.700
oportunidades de fomento
trabalhadas, além de
análises agregadas que
subsidiam a gestão da
carteira por parte dos
agentes de fomento e o
acompanhamento dos
resultados pelos comitês
gerenciais. Permite
ainda conhecer e
entender as razões de
insucesso mais
frequentes, o que gera
aprendizado para
eventuais propostas de
mudanças em processos ou
produtos. Assim, as
informações contidas no
CRM dão visibilidade
sobre tudo ao que
acontece antes de um
cliente chegar ao BNDES
e oferece visão
consolidada sobre o
perfil da carteira
futura, indicando ações
antecipativas, correções
de rota e
redirecionamento dos
esforços caso se
identifique algum
descompasso entre o
pipeline em fomento e as
diretrizes estratégicas
da instituição.
A reestruturação
organizacional em curso
no BNDES sinaliza uma
inflexão de diretriz
estratégica que
reorienta o foco do
Banco rumo à prestação
de serviços de
estruturação e
construção de soluções
financeiras voltadas
para o setor público. O
aprendizado e o ativo
gerado pela Área de
Fomento certamente têm a
contribuir nesse novo
cenário e parte de suas
atividades está sendo
incorporada pela nova
Área de Governos e
Relacionamento
Institucional.
É importante preservar e
dar continuidade também
ao legado das ações de
fomento realizadas junto
aos setores produtivos
privados. O compromisso
com o desenvolvimento
produtivo e a geração de
emprego é constitutivo
da ação do BNDES, em
especial se
considerarmos sua fonte
principal de funding,
o Fundo de Amparo ao
Trabalhador (FAT).
Ademais, não há Estado
ou governo sólido sem um
setor produtivo
dinâmico, que gere
empregos de qualidade e
recolha os impostos que
vão contribuir com a
solidez fiscal e o
financiamento da
prestação de serviços
públicos que impactam a
qualidade de vida da
população.
Os passos dados pela AFO
são bastante recentes, o
que limita uma avaliação
mais acurada dos
impactos do seu legado.
Porém, os resultados
parciais já atestam a
importância das
atividades de fomento
estruturado e autorizam
projetar uma perspectiva
de amadurecimento rápido
que pode culminar com um
efetivo reposicionamento
do BNDES como um Banco
mais apto a oferecer
produtos e serviços
aderentes às demandas
sociais e econômicas do
país, contribuindo para
gerar emprego, renda,
modernização do Estado e
dos setores produtivos,
reafirmando assim nosso
compromisso com o
desenvolvimento que
transforma a vida de
gerações de brasileiros.