Em todo o mundo, houve
grande mudança de
perspectiva sobre o
valor e a importância
dos bancos de
desenvolvimento. E por
bons motivos: eles
desempenharam papel
central em promover o
crescimento e o
investimento e em ajudar
a estabilizar a
economia.
Ajudam a sociedade a
resolver grandes
questões sociais
usualmente
desconsideradas pelo
setor privado, como a
desigualdade e o
aquecimento global.
Servem como
intermediário crucial
entre o investidor de
longo prazo e as
necessidades de
investimento em longo
prazo, de uma forma que
os mercados financeiros
privados, tipicamente
concentrados no curto
prazo, não fazem.
É por isso que a Europa
vem expandindo seu banco
de desenvolvimento, o
Banco de Investimento
Europeu, o maior do
planeta. É por isso que
alguns estados dos EUA
criaram novos bancos de
desenvolvimento. É por
isso que o mais
importante grupo de
países de mercado
emergente, o Brics
(Brasil, Rússia, Índia,
China e África do Sul),
criou o Novo Banco de
Desenvolvimento, que vem
florescendo e fazendo
uma contribuição
importante ao
desenvolvimento.
Pesquisas recentes
corroboram esses
insights.
Os empréstimos de bancos
de desenvolvimento se
traduzem em investimento
mais produtivo –
diferentemente de muitos
dos empréstimos do setor
privado, destinados ao
consumo e à habitação.
Ajudam a elevar a
produtividade das
empresas que recebem os
fundos, especialmente as
PMEs (pequenas e médias
empresas), que muitas
vezes encontram
restrições no crédito
que são capazes de obter
do setor privado.
É por isso que é tão
surpreendente, e tão
perturbador, ver o
recente ataque a, e os
esforços para
restringir, um dos
maiores bancos de
desenvolvimento do
planeta, o BNDES.
Isso é especialmente
perturbador porque o
Brasil talvez seja o
emergente para o qual um
banco de desenvolvimento
nacional seja mais
importante. Seu setor
financeiro privado – que
historicamente cobra
juros entre os mais
altos do planeta – faz
um dos piores trabalhos
em termos de cumprir o
papel social de oferecer
financiamento a
empresas, especialmente
PMEs.
Sejamos claros: nenhum
banco é perfeito.
É sempre fácil ver em
retrospecto se um
projeto era bom. O que
os economistas definem
como "questões de
agência" – casos em que
os empregados de uma
organização, ao seguir
seus próprios
interesses, às vezes
fracassam em defender os
melhores interesses
daqueles a quem deveriam
servir – e o que as
pessoas chamam de
"corrupção" acontece
tanto em instituições
públicas quanto
privadas.
O nível de "corrupção"
nas instituições
financeiras privadas e
com fins lucrativos dos
EUA excede por diversas
ordens de magnitude a
corrupção vista em
cooperativas ou em
instituições financeiras
públicas; e os EUA e o
mundo pagaram um preço
elevado por seus
delitos.
Quando falhas em
instituições se tornam
aparentes, a tarefa é
reformar a instituição,
não aboli-la.
O Fed (Federal Reserve),
o banco central dos EUA,
fracassou em seu papel
regulatório nos anos que
antecederam a Grande
Recessão; foi
excessivamente
influenciado por
banqueiros privados que
pediam confiança e
defendiam a
autorregulamentação.
A resposta não estava em
abolir o Fed. A resposta
estava em tornar mais
claras suas
responsabilidades
regulatórias,
reconhecendo os
problemas inerentes
causados pelos bancos
privados.
O crescimento do Brasil
vem sendo volátil. O
país teve mais de uma
década de expansão forte
antes que os preços das
commodities caíssem e a
economia entrasse em
recessão.
O BNDES merece parte do
crédito pelo crescimento
notável do período e por
ajudar a reduzir a
dependência do país da
exportação de recursos
naturais. Mas não pode,
e não deveria, ser
culpado pela recessão.
Se o objetivo é
restaurar o crescimento
sustentável e de longo
prazo, e especialmente
se essa expansão deve
ser equitativa, o BNDES
e outros bancos estatais
de desenvolvimento
precisam ser encorajados
e expandidos, não
reprimidos.
O grande insight sobre o
desenvolvimento nos
últimos 35 anos, durante
os quais alguns poucos
países conseguiram
registrar crescimento
notável, é que as
instituições importam, e
entre elas as mais
importantes são os
bancos de
desenvolvimento.
O Brasil deveria
respeitar essa lição.
(**) Publicado em
21/08/2019 na Folha de
S. Paulo