De boa vontade ou
não, é impossível
negar os 67 anos de
atuação do BNDES,
período em que
fomentou o sonho de
um Brasil
desenvolvido – em
muitos aspectos – e
menos desigual.
Tornou-se o
principal
instrumento de
promoção do
desenvolvimento a
serviço do governo
federal,
atravessando décadas
e governos,
atendendo
praticamente todos
os setores da
economia, servindo a
empresas de todos os
portes e regido por
um conjunto de
valores que incluem
a Ética e a
Transparência.
Era esperado que a
alternância no poder
trouxesse consigo
reflexões acerca do
papel do Banco. Era
esperado também que
essas reflexões
assumissem o caráter
de adaptações e
mudanças no
organograma e no
foco das atividades
do Banco. Mas era
igualmente esperado
que tais
reestruturações
pudessem ser
justificadas e que
caminhassem em
consonância com os
objetivos anunciados
para a instituição.
Até a última gestão,
com os relatórios
produzidos por
empresas de
consultoria
internacionalmente
reconhecidas –
Roland Berger e
Mercer –, a Área de
Administração e
Recursos Humanos do
Banco, capitaneada
pelo então diretor
responsável,
dedicou-se à
formulação de uma
estrutura
administrativa que,
ao fim do processo,
foi anunciada como
sendo a mais ágil e
mais adequada à
missão incumbida ao
BNDES pelo novo
governo. Durante o
longo processo de
debate e
apresentação da
então "nova
estrutura", a
AFBNDES e o corpo
técnico puderam
acompanhar as
motivações e
justificativas da
diretoria, em
observância,
ressalte-se, à
Cláusula 9ª do
Acordo Coletivo de
Trabalho do Sistema
BNDES, que prevê:
"as Empresas
comprometem-se, caso
venham a instituir
algum processo de
reestruturação
interna, a realizar
amplo debate nas
instituições e
examinar as
sugestões feitas
pelos empregados,
através de suas
instâncias
representativas".
A outra "nova
estrutura" – outra
forma de se dizer "re-reestruturação"
– recentemente
anunciada carece dos
mesmos fundamentos
que balizaram a
anterior e que foram
percebidos – pela
AFBNDES, pela Alta
Administração e
pelas consultorias
internacionais –
como essenciais para
a manutenção do
desempenho do Banco
e seu correto
direcionamento para
as missões que o
aguardam no futuro.
Não estavam
previstos, por
exemplo, cortes em
funções de nível
operacional com a
única justificativa
de se patrocinar o
aumento no número de
diretorias.
A extinção de mais
de 40 funções
comissionadas, em
diversos níveis,
para a contratação
de dois novos
diretores vai de
encontro à outra
reestruturação
amplamente debatida
com o corpo
funcional, fere o
Acordo Coletivo de
Trabalho e não se
fundamenta sequer na
lógica econômica –
ao contrário: as
despesas com pessoal
tendem a aumentar
com o aumento das
diretorias. Ignorar
a tradição de
diretores oriundos
do corpo funcional
também é uma má
notícia e uma forma
ruim de inaugurar
uma nova
administração.
É imprescindível que
as justificativas
para a nova
reestruturação sejam
apresentadas o
quanto antes ao
corpo funcional, em
respeito ao ACT em
vigor e às melhores
práticas da
Administração. As
mudanças da nova
reestruturação não
podem estar
sustentadas no mero
silêncio,
principalmente
quando se opõem a
decisões
laboriosamente
construídas. Afinal,
não se pode negar a
um novo governo que
dê a sua cara ao
BNDES: é parte da
saudável alternância
no poder. Mas se é
verdade que o BNDES
é grande demais para
não mudar nunca,
também é verdade que
o BNDES é grande
demais para ser
mudado o tempo todo.