Faleceu hoje [sexta-feira, 5], pela madrugada, o
Professor Emérito do Instituto de Economia e
ex-Reitor da UFRJ Carlos Lessa. É tempo de luto
para nossa comunidade. Lessa foi um professor
brilhante. Durante várias décadas foi
sistematicamente considerado pelos alunos como o
melhor em sala de aula. Como intelectual, foi um
grande intérprete do Brasil e, em especial, do
Rio de Janeiro, cidade que para ele era a
síntese do que tem de melhor e pior do país. Um
homem do seu tempo, orador brilhante, além das
suas muitas aulas foi um conferencista e
palestrante muito influente e extremamente
popular. É imensurável a importância e o impacto
das suas centenas de palestras em um mundo sem
internet, particularmente no período mais duro
do país, em que a circulação das informações
era, muitas vezes, restringida pelo temor e ação
da censura.
Lessa não foi um acadêmico típico, não ficava
fechado em um escritório dialogando apenas com
seus pares. Algumas de suas obras, em especial
seus livros, foram imensamente populares. Seu
manual de introdução a Economia escrito em
conjunto com o brilhante e saudoso Antônio
Barros de Castro, foi junto com o Formação
Econômica do Brasil de Celso Furtado,
mestre dos dois autores, uma das obras de
economia mais vendidas em toda a história
editorial brasileira. O Quinze Anos de
Política Econômica, talvez sua principal
obra acadêmica, mostrou seu fôlego como
historiador. Seu livro Rio de todos os
Brasis é um exemplo de uma outra vertente
desse professor: a admiração e amor pela cidade
em que nasceu. Para ele, a cidade que comprovava
a potencialidade do país converteu-se no
testemunho do desequilíbrio e distância
socioeconômicos nacionais e no paradigma da
má-qualidade de vida.
Além de professor e acadêmico, Lessa foi um
ativista pela democracia, foi um militante pela
renovação do pensamento dos economistas, sendo
um dos fundadores do Instituto dos Economistas
do Brasil e presidente do Conselho Regional de
Economia do Rio de Janeiro. Na UFRJ ocupou
várias funções importantes: foi diretor do
Instituto de Economia, foi Decano do CCJE e foi
Reitor. Atuou ativamente no movimento pela
democratização do Brasil, participou da política
partidária, foi diretor do BNDES (um dos
defensores e maiores responsáveis por
acrescentar um S de Social no nome do Banco) no
governo Sarney e Presidente do Banco no governo
Lula.
Lessa foi um entusiasta e defensor da
universidade pública. Reconhecia a importância
da instituição na formação nacional, na produção
de conhecimentos e reflexão sobre o país. Além
disso, enfatizava a importante função da
universidade pública de criar oportunidades para
jovens talentosos cujas alternativas eram muitas
vezes limitadas pela obscena e persistente
desigualdade social no Brasil. Ensinou e formou
com orgulho muitos estudantes de graduação e
pós-graduação – tendo sido Paranifo e Patrono de
muitas turmas, ao longo de sua carreira de
professor.
Lessa foi um nacionalista e patriota no sentido
clássico, que não se confunde com a vulgaridade
e superficialidade com que esses termos têm sido
usados recentemente. Seu nacionalismo tinha como
implicação sua visão generosa do povo brasileiro
e sua profunda convicção democrática. Queria que
o Brasil fosse uma sociedade cosmopolita, mas
que dialogasse com o mundo a partir de suas
raízes – afirmando seus interesses e qualidades.
Nos reconhecia como a verdadeira América
profunda, onde os povos do mundo se
encontrariam. Esperava – e lutava – para que
nossa sociedade superasse sua história de
desigualdade e atraso econômico e social. Lessa
é um dos últimos desenvolvimentistas históricos.
Faz parte de um país que legou ao mundo projetos
modernos e inovações culturais, como Oscar
Niemeyer, Glauber Rocha, Clarice Lispector, João
Celso Martinez Correa, João Gilberto, Antônio
Carlos Jobim, Milton Santos, Celso Furtado,
Antônio Barros de Castro, Maria da Conceição
Tavares e outros.
Nós, do Instituto de Economia, prestamos nossa
homenagem a esse grande professor e prestamos
nossa solidariedade e sentimento à família pela
perda. Esta é uma perda particularmente sentida,
neste momento grave da história do país, onde
homens com seu nacionalismo culto e contagiante,
compromisso com a democracia e otimismo e
energia fazem muita falta.
Instituto de Economia da UFRJ |
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O canal da AFBNDES no
YouTube traz vídeo com
mensagens sobre o legado de
Carlos Lessa |
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Brasil perde um grande
Brasileiro |
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Depoimentos
de
Paulo Faveret,
José Eduardo Pessoa de
Andrade, Thiago Mitidieri e Antônio Saraiva |
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Depoimentos de
Pedro Palmeira,
Leonardo Pamplona, Pedro Quaresma e
Hélio Pires da Silveira |
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Atrofiar, ‘privatizar’ ou, se
possível, fechar o BNDES, por
Carlos Lessa |
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Matéria publicada no
VÍNCULO 614,
de 5 de fevereiro de 2003, logo após a posse de Carlos
Lessa na Presidência do BNDES |
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O Brasil perde um grande Brasileiro, com B maiúsculo
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Reitoria
da UFRJ |
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Carlos
Lessa era grande demais
–Corecon-RJ |
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