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Edição nº1430 – sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

A PEC da destruição

Substituto da PEC Emergencial, que tramita no Senado, acaba com vinculação obrigatória de recursos orçamentários para saúde e educação e com repasse do FAT ao BNDES   

Está tramitando no Senado o Substituto da PEC Emergencial (nº 186/2019), de autoria do senador Márcio Bittar (MDB-AC), dispondo sobre medidas permanentes e emergenciais de controle do crescimento das despesas públicas. O texto condensa três projetos do governo: PEC Emergencial, PEC do Pacto Federativo e PEC dos Fundos Públicos. A votação em plenário ficou para a semana que vem. 

O relatório de Bittar tem recebido fortes críticas, pois acaba com a vinculação obrigatória de recursos orçamentários para a saúde e a educação. Ou seja: exclui da Constituição a obrigatoriedade de recursos financeiros mínimos para essas duas áreas. A votação da PEC Emergencial tem sido usada pelo governo como contrapartida à nova rodada do auxílio emergencial, que foi pago à população mais carente no ano passado em virtude da pandemia do novo coronavírus.  Atualmente, os estados são obrigados a destinar 12% de seus recursos para a saúde. Os municípios têm de aplicar o equivalente a 15%. Na União, esse percentual era de 15% até 2017, quando o piso passou a ser atualizado pela inflação. No caso da educação, o mínimo é de 25% das receitas com impostos para estados e municípios; e na União, 18% até 2017. 

Repasse do FAT ao BNDES – Outra consequência da PEC é o fim do repasse de 28% do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) ao BNDES, medida que prejudica empréstimos voltados à recuperação da economia e à geração de empregos. No seu artigo 4º, inciso VII, a PEC revoga o parágrafo primeiro do artigo 239 da Constituição, que estabelece que no mínimo 28% da arrecadação do PIS/PASEP serão destinados ao “financiamento de programas de desenvolvimento econômico, por meio do BNDES”. Até 2019, o percentual de repasse era de 40%. Graças à ação decisiva do Congresso Nacional, o percentual foi apenas reduzido, ao invés de ser anulado como queria a equipe econômica do ministro Paulo Guedes na reforma da Previdência. 

“O BNDES aparece na Constituição Federal apenas nesse parágrafo e ele pode ser revogado sem que qualquer discussão de suas consequências seja esboçada: nas justificativas do relator, o BNDES não é sequer mencionado”, destaca o presidente da AFBNDES, Arthur Koblitz, em artigo publicado na Folha de S. Paulo e reproduzido nesta edição do VÍNCULO. “Os repasses do FAT são a fonte de financiamento (funding) mais importante para o BNDES. Para entender a gravidade da proposta é preciso compreender o que nunca esteve tão claro: o fim dos repasses constitucionais é o último movimento de uma série que foi planejada para acabar com o BNDES. A arquitetura da destruição foi posta em marcha a partir de 2016. Não há dúvida de que a conjunção dos ataques será fatal”, alerta o dirigente da Associação.  

A AFBNDES também encaminhou Carta Aberta ao Congresso Nacional, na pessoa do presidente do Senado, senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG), criticando o fim do repasse de recursos do FAT para o BNDES. “É um erro retirar recursos do BNDES no momento de crise que atravessam tanto a saúde como a economia brasileira. Os recursos do BNDES são fundamentais para apoiar o emprego e a renda, e imprescindíveis para dar suporte à recuperação sustentada da economia. Financiam o FAT e o seguro desemprego. O mundo todo tem fortalecido seus bancos de desenvolvimento na gestão da crise, mas o nosso país parece insistir em estar na contramão. É fundamental dispor de instrumentos robustos que permitam garantir o suporte aos projetos de maior risco e requisitos mais desafiadores de financiamento – como infraestrutura – indispensáveis para engatar a recuperação econômica – em cenários em que as fontes privadas se retraem. Persistir na desidratação do BNDES só dificulta a rota de recuperação. É tempo de corrigir a rota, reconhecer, valorizar e fortalecer o BNDES”, defende a Associação. 

Crítico ao Substituto à PEC Emergencial, o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) diz que a tendência é retirar do texto a desvinculação para não criar mais problemas. Na sua avaliação, segundo o Estadão, o fim do repasse ao BNDES praticamente reduz o banco à metade. Para o economista José Roberto Afonso, a PEC pode ferir gravemente o seguro-desemprego. O economista não se conforma que a PEC acabe com a formação da poupança do FAT para aplicar no BNDES. “Já em tempos normais, a medida seria descabida. No meio de uma pandemia, com tantos desempregados, poderia se chamar de emenda do masoquismo”, disse Afonso à coluna de Ancelmo Gois, no O Globo. 

Também está previsto na PEC o congelamento dos salários de servidores federais, estaduais e municipais. Na prática, a PEC amplia o atual congelamento do salário de servidores públicos, previsto para durar até o final de 2021. “A nova regra deve perenizar a proibição pelos próximos anos, isto porque pelo relatório do senador Márcio Bittar, quando as despesas obrigatórias da União atingirem 94% da despesa sujeita ao Teto de Gastos, ficará proibido reajustar os salários dos servidores públicos federais, mesmo para repor a inflação. Quando as despesas chegarem a 85% das receitas dos estados e municípios, o poder público, de forma opcional, pode acionar as medidas de contenção de gasto, incluindo vedação de reajuste salarial, ainda que para recuperar perdas inflacionárias”, denuncia a Central Única dos Trabalhadores (CUT). 

Em encontro com representantes das centrais sindicais na quarta-feira (24), o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), se comprometeu a negociar com os demais senadores a retirada do ponto que acaba com a vinculação obrigatória de recursos orçamentários para a saúde e a educação.  Para o substituto ser aprovado são necessários dois turnos no Senado e na Câmara, com a obtenção de 3/5 dos votos dos parlamentares das duas Casas.  

A destinação de recursos do FAT ao BNDES em emendas de senadores 

O senador Jaques Wagner (PT-BA)  apresentou emenda à PEC Emergencial (nº 110) suprimindo a revogação do § 1º do art. 239 da Constituição, prevista no inciso VII do art. 4º do Substitutivo da CCJ. Tal parágrafo estabelece que no mínimo 28% da arrecadação do PIS/PASEP serão destinados ao “financiamento de programas de desenvolvimento econômico, por meio do BNDES, com critérios de remuneração que preservem o seu valor”. 

“Os recursos do Tesouro Nacional do BNDES foram reduzidos em cerca de R$ 300 bilhões nos últimos anos. Ainda assim, o BNDES operacionalizou cerca de R$ 33,1 bilhões em crédito para micro e pequenas empresas durante a crise em 2020, com 393 mil empresas beneficiadas e cerca de 9,6 milhões de empregos mantidos. Em 2020, mais da metade dos desembolsos do BNDES (R$ 32,3 bi) foi para micro e pequenas empresas. Além disso, em 2020, mais de 40% dos desembolsos do BNDES foram para infraestrutura. O BNDES é um instrumento crucial à retomada do crescimento, ao desenvolvimento econômico e social e à geração de empregos no Brasil. A proposta do relator inviabilizará a operação do banco, com prejuízos ainda maiores para o país em um contexto de elevadas taxas de desemprego e retração do PIB”, justifica Jaques Wagner na sua proposta de emenda.  

O senador José Serra (PSDB-SP) também apresentou emenda (nº 99) ao substituto da PEC Emergencial defendendo um debate mais profundo sobre a matéria no âmbito da CCJ, em conjunto com outras comissões temáticas. “Como parlamentar constituinte, entendo que discutir alterações relevantes no texto constitucional diretamente em Plenário, ainda mais no modelo não presencial, é retirar dos demais senadores a prerrogativa de aprofundar e debater temas de tamanha relevância”, destacou Serra em sua justificativa.  

Entre esses temas, o senador cita a proposta de revogação do § 1º do art. 239 da Constituição, que trata da destinação de recursos do FAT ao BNDES. “Deve-se ter claro que diversas alterações no texto constitucional que estão sendo apresentadas envolvem elevada complexidade técnica. Em linhas gerais, propõem-se novas regras fiscais abrangendo os três Entes da Federação, novo sistema de calamidade pública com repercussões em diversas áreas de governo e alterações no desenho atual do teto de gastos. As propostas compreendem até mesmo a revogação de dispositivos constitucionais que garantem gastos mínimos nas áreas de saúde e educação, bem como transferências de recursos para o BNDES”, destaca Serra.  

Emenda do senador Paulo Rocha (PT-PA), entre outros senadores, busca uma alternativa para a aprovação do pagamento do auxílio emergencial, desvinculando a medida de debates sobre recursos para educação, saúde e desenvolvimento, que precisam de tempo para serem aprofundados pelo Congresso Nacional.  

As emendas em apoio à manutenção do funding do BNDES conseguiram assinaturas suficientes para serem submetidas à votação, prevista para a próxima quarta-feira, 3 de março.

 

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