Na edição do
VÍNCULO 1389,
de 25/04/2020, em
editorial intitulado
“Brasil: crise
política, econômica
e sanitária”,
apresentamos a
posição polêmica de
que “em defesa da
democracia
brasileira, em
defesa da saúde e da
vida dos brasileiros
ameaçadas pela
pandemia do novo
coronavírus,
entendemos que Jair
Bolsonaro não tem
mais condições de
continuar na
Presidência da
República”.
Aparentemente,
alguns sócios da AF
só tomaram
conhecimento dessa
posição no
editorial da semana
passada,
talvez por conta do
seu título: “Apoiamos
todos os movimentos
pelo afastamento do
presidente”,
onde simplesmente
extraímos a
consequência do
posicionamento
anunciado no final
de abril. O outro
propósito do último
editorial foi nos
posicionarmos em
relação à polêmica
sobre o quão ampla
deve ser a frente
democrática. Para
nós, ela deve ser a
mais ampla
possível.
Mas é importante
esclarecer algumas
questões
fundamentais sobre o
nosso
posicionamento.
Em primeiro lugar,
trata-se de uma
posição da diretoria
da AFBNDES. Uma
posição dos
empregados do BNDES
ou dos sócios da
AFBNDES só poderia
ser proclamada
formalmente após uma
plenária ou
assembleia geral.
Quando for oportuno,
submeteremos a
posição da diretoria
a uma assembleia,
como fizemos em
relação a várias
posições que a
diretoria da
Associação assumiu
ao longo dos últimos
quatro anos.
Em segundo lugar,
tal posicionamento
nada tem a ver com
“partidarismo” da
atual diretoria. É
tão ampla a gama de
partidos que
assumiram posição a
favor do
afastamento, que
talvez o oposto
pudesse ser dito, ou
seja, que manter uma
posição a favor ou
neutralidade em
relação ao atual
governo seria sinal
de partidarismo.
Quando a diretoria
da AFBNDES publicou
o editorial
mencionado acima (de
25/04) já haviam se
manifestado
publicamente, do
mesmo modo, o
ex-presidente FHC e
o presidente do
partido Novo, João
Amoêdo, sem
mencionar todos os
partidos que podem
ser considerados de
esquerda e
centro-esquerda (PT,
PDT, PSOL, PCdoB,
PSB, Rede e
Cidadania – antigo
PPS). O que
significa dizer que
quase todos os
partidos e
lideranças que
apresentaram
candidaturas nas
últimas eleições
haviam assumido essa
postura. João Amoêdo,
do Novo, não é a
única liderança que
apoiou Bolsonaro no
segundo turno que
passou a defender o
afastamento do
presidente. Entre as
várias organizações
conservadoras/liberais
que surgiram a
partir de 2013 e que
apoiaram Bolsonaro
no turno final, o
MBL – certamente a
mais conhecida e
bem-sucedida
politicamente – não
só declarou posição
a favor do
impedimento do
presidente, como
protocolou pedido de
impedimento na
Câmara. No movimento
social, as centrais
sindicais iniciaram
campanha pelo
impedimento em 21 de
maio e mais de 400
entidades
(associações,
sindicatos etc.)
entraram também com
pedido coletivo de
impeachment.
Do lado do
presidente,
partidariamente,
restaram parte do
PSL e os partidos do
Centrão, para quem
Bolsonaro já criou
até ministério.
Em resumo, a posição
da diretoria da
AFBNDES é certamente
política, mas de
forma alguma é
partidária, muito
menos eleitoral.
Esses conceitos são
comumente
confundidos, mas é
fundamental
distingui-los. Cada
um usa o termo que
quiser. Esperamos
apenas que os que
discordam da posição
da diretoria sejam
explícitos sobre
suas definições. Já
mencionamos diversas
vezes – em
editoriais e em
comunicações diretas
com os empregados do
Banco – que
conhecemos a
tradição de
partidarização de
boa parte do
movimento social e
somos
completamente
contrários a tal
imiscuidade. Nunca
tivemos, entre os
membros da
diretoria,
posicionamento
partidário e
eleitoral comum,
nunca procuramos ter
e somos contra o uso
eleitoral ou
partidário da
AFBNDES.
Em terceiro lugar,
acreditamos, sim,
que é papel da
AFBNDES se
posicionar sobre
grandes temas da
política nacional.
Como já citamos
algumas vezes nas
páginas desse
jornal,
reivindicamos com
muito orgulho a
história do
posicionamento da
AFBNDES no movimento
da ‘Diretas, Já!’
nos anos 80 (que ao
contrário do que
podem pensar alguns,
certamente não foi
consensual à época).
Entendemos que a
AFBNDES é também um
entidade civil
comprometida com a
democracia no Brasil
e temos a
obrigação de
defender o regime
democrático.
Em quarto lugar,
estamos plenamente
conscientes de que
todo posicionamento
está sujeito a erro,
mas é papel mínimo
de qualquer
liderança tomar
posições e
submetê-las à base.
É um tipo de risco
inerente à função.
Estamos plenamente
conscientes de que
quando nos
posicionamos não
teremos o pleno
acordo do conjunto
dos associados.
Esperamos ter o da
maioria.
Isso nos leva a um
ponto de grande
importância. Como
lidar com a
diversidade de
posições dentro da
AFBNDES? Acreditamos
que garantindo a
expressão das
diversas posições
nas plenárias e, de
forma mais
corriqueira, no
nosso semanário, o
VÍNCULO. Nossa
coluna de Opinião
sempre esteve e
estará aberta aos
que discordam da
diretoria da
AFBNDES.
Infelizmente, entre
os poucos que
expressam
divergências
predomina mais uma
indignação com o
fato de a diretoria
se posicionar, do
que (o que seria
mais construtivo) a
articulação de
argumentos contra os
posicionamentos da
diretoria.
O pleno “respeito”
que alguns
reivindicam pela
diversidade de
visões dos membros
da AFBNDES levaria à
impossibilidade de
ação efetiva da
Associação. A
diversidade de
posições, note-se,
vale para grandes e
pequenas questões.
Então, sugerimos aos
que se sentem muito
indignados em ler
nas páginas do
VÍNCULO posições que
contrariam suas
convicções, que
transformem essa
indignação em
coragem,
determinação,
esforço, para se
contraporem,
explicitamente, à
linha editorial do
nosso semanário.
Temos muito poucos
exemplos de ações
como esta, e,
infelizmente, é mais
fácil lembrar alguns
exemplos da atitude
mais fácil, covarde
e destrutiva, de
tentar contrapor
essas posições por
meio da difusão de
insinuações e
desconfianças
infundadas sobre a
diretoria da
Associação.
Em quinto lugar, aos
que estão
preocupados com a
negociação do acordo
coletivo de trabalho
e outras questões
com a atual direção
do Banco, lembramos
que essa equação
depende muito menos
da boa vontade da
diretoria do BNDES
com a Associação do
que da capacidade de
mobilização dos
empregados. Foi
assim no passado,
continua sendo assim
no presente. Para
dar um exemplo,
defendemos nossa
cláusula de
estabilidade no
último acordo de
forma exemplar, e se
depender da atual
diretoria, faremos o
mesmo novamente.
Mobilização
significa várias
coisas: se associar
à AFBNDES,
acompanhar nossas
comunicações,
prestigiar os
eventos por ela
convocados...
Significa espírito
de solidariedade e
identificação entre
os empregados do
BNDES.
Gostamos de
acreditar que somos
uma organização que
dialoga e prioriza o
diálogo. Temos tido
uma experiência de
aproximação
extraordinária com a
FAPES nos últimos
anos. Temos orgulho
do papel que
cumprimos no sentido
de criar respeito e
confiança na relação
entre a diretoria da
Fundação e seus
beneficiários. Que
fique claro: tivemos
custo para seguir
nesse caminho.
Articulamos
entendimento com uma
diretoria da FAPES
sobre a qual havia
profunda
desconfiança de
vários segmentos de
empregados e
aposentados do Banco
e no momento em que
essa diretoria
realizava uma
reestruturação
organizacional
pesada. Enfrentamos
os incendiários e
irresponsáveis que
queriam fazer uma
guerra santa contra
a Fundação por conta
dessa
reestruturação.
Soubemos manter
independência e
solidariedade com os
colegas da FAPES.
Mantivemos nossa
vigilância sobre as
atitudes da
diretoria da
entidade, mas não
deixamos que essas
questões
contaminassem a
necessidade de
dialogar sobre o que
era de interesse dos
beneficiários.
Do mesmo modo,
soubemos separar
divergência de
convergências com
administrações
anteriores do BNDES.
Mantemos ótimas
relações com alguns
ex-presidentes e
diretores do Banco,
mesmo que tenhamos
divergido de todos
em algum momento e
em alguns pontos.
Algumas vezes de
forma dura.
Alegra-nos ter
contado com Paulo
Rabello de Castro e
Dyogo Oliveira no
histórico evento
contra a PEC da
Previdência, no
Auditório do Banco,
assim como com o
depoimento de
Joaquim Levy na
justa homenagem a
Carlos Lessa.
Infelizmente, a
atual diretoria é
excepcional – no
sentido negativo.
Revelou-se hostil à
instituição e
especialmente
truculenta. Ignorou
pedido de informação
e diálogo vindo da
Associação, nega-se
a defender o BNDES
no Congresso e na
imprensa, esbanja
declarações que
comprometem
empregados do Banco
e chegou a demitir
da forma mais
injusta e covarde um
colega do Banco.
Surpreende-nos que a
atual diretoria
conte com a
proximidade de
vários colegas da
Casa. Ficamos
perplexos em ver na
prática o que esses
colegas pensam e são
capazes de aprovar
sobre a instituição
em que construíram
suas carreiras
profissionais. Mas
nunca nos negamos a
dialogar nas poucas
ocasiões em que
fomos convocados.
Continuamos dando
sugestões
construtivas, e
apoiando as
iniciativas da
diretoria que nos
parecem positivas.
Finalmente, em sexto
lugar, já procuramos
apresentar a
fundamentação de
nossa posição sobre
o atual governo nos
últimos editoriais e
não nos alongaremos
aqui. Mas não é com
satisfação que
sustentamos a
posição sobre a
necessidade do
afastamento do
presidente da
República. Vivemos
uma situação
dramática e estamos
nos encaminhando
para uma experiência
nunca vista por
gerações de
brasileiros. É a
vida de irmãos,
principalmente
alguns dos mais
frágeis
compatriotas, que
está em risco.
Estamos falando de
pessoas com idade
avançada, estamos
falando dos milhões
que têm pior
condição social.
Estamos falando de
um governo que
desorganizou
completamente o
Ministério da Saúde
no meio da pior
crise sanitária que
o país já enfrentou;
de um governo que
não tem pudor em
tentar dificultar
acesso a informações
sobre o avanço da
pandemia; que falhou
seguidamente em
organizar o
atendimento
hospitalar; que
incentiva seus
apoiadores a invadir
hospitais e a
cometer uma série de
crimes em nome do
constante ‘negacionismo’;
que falhou em
produzir ou adquirir
testes. Estamos
falando de um
governo que já deu
prova de total
despreparo no
enfretamento das
consequências
econômicas da
pandemia.
É difícil ainda
vislumbrar o fim
desse governo, mas
isso aumenta – não
diminui – a
importância do
posicionamento de
todos os democratas
brasileiros. Esse
movimento é
necessário, se não
para alcançar o
impedimento, para
manter o presidente
recuado em suas
investidas mais
antidemocráticas.
Isso aumenta a
responsabilidade dos
democratas, e dos
que estão à frente
de entidades da
sociedade civil. É
por compromisso com
esses caros
princípios, e não
por qualquer outra
razão, que tomamos
nossa posição quanto
ao afastamento do
presidente e a
submeteremos, em
breve, ao conjunto
dos empregados do
BNDES.
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