Rapidamente se
espalhou na imprensa
e em redes sociais
a perversa associação
entre o apoio à
exportação de
serviços de
engenharia e o
suicídio, no último
dia 17, do
ex-presidente do
Peru, Alan García.
No dia seguinte,
Merval Pereira já
atacava em seu
artigo, "Tragédia
Política": "O
suicídio do ex-presidente
do Peru Alan García
(...) é a
explicitação trágica
do esquema de
corrupção que a
empreiteira
Odebrecht espalhou
pela América Latina
e África (…). Foi
graças à
interferência do
próprio presidente
Lula (...), e com o
apoio do BNDES, que
a empreiteira se
espalhou por todos
os países governados
por uma esquerda que
tinha como pretexto
a integração
latino-americana, e
objetivo dominar
politicamente a
região" (Será que
Merval acredita na
Ursal?).
No dia 19 de abril,
Katia Mello, de
Veja, na matéria
"Tragédia da
Corrupção" afirma
que foi com os
governos petistas
que teria ocorrido a
"metástase da
corrupção", com a
ampliação dos
financiamentos do
BNDES à Odebrecht
para a América
Latina e a África.
Uma reportagem de
Malu Gaspar na
revista Piauí (nº
130) – "A Exportação
da Propina" –, de
2017, talvez seja a
fonte da tragédia
jornalística. A
reportagem cobre a
história do
envolvimento da
Odebrecht com o
governo peruano,
iniciada em 1979.
Com base em delação
de executivos da
Odebrecht, são
mencionados três
projetos de
infraestrutura
realizados pela
empresa sobre os quais
haveria relatos de
corrupção: a Rodovia
Interoceânica, o
metrô de Lima e o
Gasoduto do Sul.
Cada projeto
envolvendo um
presidente diferente
da República
peruana. Em nenhum
momento fala-se
dos financiadores
dessas obras, mas no
meio da reportagem
há uma condenação da
atuação do BNDES,
que aumentou
"agressivamente" os
financiamentos à
exportação de
serviços de
engenharia na
América Latina e
África.
Esse foi o resultado
do trabalho do
suposto primeiro
time do jornalismo.
O que dizem
informações
facilmente
encontradas através
do
Google?
Nenhum dos projetos
citados envolve
sequer um tostão de
financiamento do
BNDES. E como reagir
à informação de que
o BNDES financiou
apenas duas
operações de
exportação de
serviços de
engenharia no Peru,
e em ambos os casos
sendo os financiados
entidades privadas?
E o que dizer do
fato de que todos os
projetos polêmicos
foram financiados
por bancos
multilaterais,
privados e mercado
financeiro? São
essas instituições
cúmplices da
corrupção? O
Gasoduto do Sul iria
ser financiado por
um sindicato de
bancos privados,
cerca de 20 bancos
associados,
assessorados por um
escritório de alta
reputação de Nova
York.
Será a corrupção uma
peculiaridade
brasileira?
Recentemente grandes
empresas como a
Alstom e a Siemens
se viram em meio a
escândalos de
corrupção
milionários, com o
Brasil entre as
vítimas.
Vamos transformar o
combate à corrupção
numa forma de nos
autoflagelar no
cenário
internacional? Ou
vamos usar a
iniciativa do
combate a nosso
favor?
Complexo de
inferioridade, falta
de patriotismo,
talvez se encontre
aí alguma
explicação. A
democracia
brasileira está
balançando, a
imprensa tem um
papel central a
cumprir. Deveria
estar à altura do
desafio.
São várias as
tragédias na América
Latina.