Opinião

Edição nº1350 – segunda-feira, 24 de junho de 2019

E o Vento Levy (ou isto não é um barco)

Paulo Moreira Franco

 

Economista do BNDES

"Depois de tanto orgulho e tanta estranha

Ociosidade (...)"

(O Cemitério Marinho – Paul Valery)

"Ótimo artigo. Foi bom ter trabalhado com você." Assim um dos meus usuais leitores comentou a versão beta (dica: sempre passe o que você for fazer por vários olhos de diferentes matizes interpretativos) do artigo Milícias. Falava desse parágrafo que acabei retirando:

"Enquanto o isso, o Felipão da economia brasileira, o homem que secundado por Nelson Murtosa comandou este sete a um que foi uma recessão de quase 4% do PIB sem que estivéssemos sob nenhum choque externo, sob nenhuma crise energética, sete a um por pura incapacidade de sair de uma fórmula preestabelecida de condução anti-inflacionária, este poeta da austeridade que ao final nos deu o brexit de Jair Messias e Araújo, nos conduz, pacientemente. É abril, e finalmente há uma diretoria. Mas até agora se foi um trimestre de uma espécie de escola construtivista, com muita apresentação, muita perguntinha curiosa, mas aprovação de matéria que é bom, nada! Aprovação só automática. Mas assim como consigo ler o verso de muito mais que 100 bilhões sendo devolvidos, furadeiras no armário de disponibilidades de caixa do ativo do Banco à espera de uma Marie Kondo, lembro que Felipão foi campeão nacional, e quem sabe há uma esperança que um raio de Coutinho (não convocado em 2014) e Ha-Joon Chang venha a iluminar Levy."

E do último artigo acabei tirando isso, em parte por saber em cima da hora das mudanças em curso (e me desculpem as repetições em relação ao texto acima):

"Mas voltando a mais Joaquim do que Levy, houve um tempo em que achei que ele estava aqui com a maquiavélica intenção de deixar o Banco parado para devolver mais do que 150 bi ao final do ano. O atraso em nomear um sup definitivo para a AC, o trimestre sem diretoria, as perguntas ao mesmo tempo interessadas, ao mesmo tempo inúteis para quem tem decisões imediatas a tomar, que me foram relatadas por pessoas de diferentes áreas em diferentes assuntos, tudo isso seria o que eu faria com essa única missão. A diretoria enquanto colégio construtivista, com perguntinhas criativas, apresentações, grupos de trabalho – mas matéria para aprovação, necas! aprovação só automática! – seria uma forma fabulosa de fazê-lo sem ninguém se dar conta, com as pessoas tendo a ilusão de se estar fazendo alguma coisa.

Hoje vejo falta de criatividade. Vejo uma incapacidade de entender o que é o problema complexo de reger um barco em movimento ao invés da simples execução de uma missão de arrecadação e corte".

No meu andar ele passou a se despedir. Jogou a história de convergência etc. de sempre. Fiz um questionamento sobre o fato de que lá fora todo mundo opera sobre quantitative easing, Ele veio com o papinho de savings glut, o que pra mim é o papo preguiçoso dos que não encararam a empiria da crise pra cá e os desdobramentos teóricos que ela suscita, sintoma do entendimento obsoleto de economia que o levou a presidir a catástrofe de 2015. Não há o mínimo sintoma de autocrítica em Levy.

Joaquim Levy caiu por nada, literalmente. Há alguns aprendizados para quem vier, como, por exemplo, não tirar a BPAR da Lustosa (pois o Sistema – coff coff Globo – vai vir em cima. Lembram do timing em que a matéria da Época veio e ficou por isso mesmo, sem seguimento, ao mesmo tempo em que apenas uma mudança da reestruturação foi revertida?). Outro ensinamento: é bom entrar aqui sabendo o que vai fazer e tendo equipe. O problema é que saber o que vai fazer e ter equipe prévia para tal é mercadoria escassa nesse governo. A única que aparentemente havia está sendo desbaratada pelos seus telegrams.

Guedes, pelo visto, tem muito trabalho com os Russos do Congresso pela frente. E agora mais um na República do Chile, que aparentemente ele resolveu colocar sob um controle pessoal mais estrito. No seu papel de vilão/bad cop, Jair livrou seu Posto Ipiranga de assumir publicamente uma decisão errada. Quantas mais poderá fazê-lo?

Torçamos pra que Bacha tenha saído e Mendonça de Barros chegado.

 

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