Acontece

Edição nº1350 – segunda-feira, 24 de junho de 2019

Desvio de recursos do FAT para Previdência é criticado

A proposta de destinar recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) para cobrir despesas com aposentadorias, retirando-os do BNDES, foi defendida pelo relator da reforma da Previdência (PEC 6/19), deputado Samuel Moreira (PSDB-SP), na terça-feira (18), em concorrida reunião na comissão especial da Câmara dos Deputados. "O BNDES tem que desmamar dos recursos do Tesouro. Temos que construir um entendimento sobre o tema, mas é preciso fazer esse debate", disse. Mas o relatório sofreu fortes críticas durante a reunião.

• O deputado José Guimarães (PT-CE) afirmou que Moreira teria piorado a proposta original do governo. "Não sei como os empresários e a infraestrutura do país vão aceitar a retirada dos recursos do FAT do BNDES. Como é que o banco vai financiar o desenvolvimento? Está aí uma das mais graves questões do seu relatório, a desconstituição do BNDES".

• O deputado Vitor Lippi (PSDB-SP) também quer manter os recursos do FAT no BNDES. Segundo ele, o Banco é a única oportunidade de pequenos e médios empresários conseguirem juros mais baixos no Brasil. "Esses recursos do FAT financiam os empregos e a modernização que o Brasil precisa. Acho que é uma forma inteligente de gerir o recurso do trabalhador", disse.

• O deputado Alessandro Molon (PSB-RJ) argumentou que a medida, se aprovada, gerará desequilíbrio fiscal de longo prazo, "porque é o investimento de longo prazo que gera emprego e renda e que aumenta a arrecadação". "E isto para pagar despesa corrente de previdência? Não é razoável". "A nossa infraestrutura vai muito mal. Estamos na septuagésima terceira colocação no ranking do Fórum Mundial de Infraestrutura. Uma posição péssima. Precisamos de investimentos. E isso não será possível sem os recursos do FAT no BNDES".

• Um dia após a apresentação do relatório do deputado Samuel Moreira, Venilton Tadini, presidente da Abdib (Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base), afirmou que projetos de longo prazo no país, como os ligados a ferrovias, serão diretamente prejudicados pela mudança, caso aprovada: "A mudança é um equívoco pavoroso, parte do pressuposto de que o BNDES é pouco utilizado, mas isso acontece hoje porque o investimento em infraestrutura está baixo. Em uma eventual retomada econômica, haverá escassez de financiamento. Reduzir mais ainda o orçamento do banco é uma temeridade".

• Em nota publicada no site da entidade, a direção da Abdib diz que "O BNDES, historicamente, tem cumprido uma função importante de assessorar e financiar programas e projetos de investimentos com função de promover o desenvolvimento econômico e social. Na contramão, no entanto, têm sido completamente equivocadas as medidas adotadas nos últimos anos que acabam restringindo a potência do banco. A instituição de fomento deve permanecer forte e capacitada para, no longo prazo, escorar a retomada do crescimento econômico quando ele, definitivamente, surgir".

• A despeito de a demanda por recursos estar deprimida no setor industrial, Pedro Wongtschowski, presidente do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), vê com preocupação a proposta que dá fim aos repasses do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) ao BNDES, incluída no relatório da reforma da Previdência. "Esses recursos representam 35% do funding do BNDES. Não concordo que se abra mão disso".

• O presidente do Conselho de Administração da Abimaq (Associação dos Fabricantes de Bens de Capital), João Carlos Marchesan, vê com preocupação o esvaziamento do BNDES, cujos desembolsos tiveram forte queda nos dois últimos anos, e com as propostas que tiram recursos do Banco. "O BNDES não pode perder de vista o propósito para o qual foi criado, que é o de ser um banco de fomento", afirma. Marchesan diz que a instituição pode tocar as privatizações, como quer o governo, e ao mesmo tempo financiar projetos do setor produtivo. Para ele, os bancos privados não são capazes de financiar a indústria. "Ainda que a TLP tenha aproximado das taxas do BNDES aquelas praticadas no mercado, suas linhas de financiamento ainda são competitivas, e seus prazos, mais longos".

• Felipe Salto, diretor da IFI (Instituição Fiscal Independente), órgão ligado ao Senado, criticou a tentativa de recompor o que foi desidratado na proposta de reforma da Previdência com medidas de aumento de receitas de outras fontes. "Questões como o FAT nada têm a ver com a Previdência. É retirar o financiamento do investimento, o pouco que existe, para pagar despesa corrente", afirmou.

• "Cerca de 37% do orçamento do BNDES vêm do Tesouro, já são recursos contingenciáveis. Outros 35% são compostos pela verba do FAT. Se tirar a transferência obrigatória, a situação é mega preocupante", disse a advogada Letícia Queiroz à reportagem da Folha de S.Paulo: "O banco ficaria mais dependente de recursos que variam de acordo com a arrecadação e a vontade política. É ruim porque a instituição financia projetos em que o mercado de capitais não investe porque não tem retorno certo".

• Em nota divulgada na sexta-feira (14), a AFBNDES sustentou que com esta medida querem romper definitivamente com os recursos que a Constituição de 1988 estabeleceu com o BNDES e o desenvolvimento nacional. A Constituição de 1988 definiu que 40% da receita anual do FAT, que também financia os gastos com o abono salarial e o seguro-desemprego, são destinados ao BNDES. O Banco recebe os recursos emprestados, como funding, e devolve os valores para o FAT, remunerados pela mesma taxa de referência que cobra de seus clientes – hoje, a Taxa de Longo Prazo (TLP).

• Sem os recursos do FAT e pressionado pelo Ministério da Economia a acelerar a devolução dos aportes que recebeu entre 2009 e 2014, o BNDES ficaria dependente de captar recursos no mercado. "O problema é que faltam no mercado financeiro brasileiro fontes de longo prazo, como as necessárias nos projetos de investimento financiados pelo BNDES. No curto prazo, a medida obrigaria o BNDES a diminuir muito suas atividades", sustenta reportagem do Estadão.

 

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INSTITUCIONAL

Eventos da AFBNDES no canal do YouTube

Seis eventos institucionais organizados pela AFBNDES no primeiro semestre deste ano podem ser conferidos no canal da entidade no YouTube:

Ato em Defesa do Fundo Amazônia, no dia 4 de junho, em frente ao prédio do BNDES, organizado pela AFBNDES e pela Associação dos Servidores Federais da Área Ambiental no Estado do Rio de Janeiro (ASIBAMA-RJ). Funcionários do Banco, servidores de órgãos fiscalizadores, como Ibama e ICMbio, ambientalistas, representantes de povos indígenas e pequenos agricultores protestaram contra as investidas do Ministério do Meio Ambiente na gestão do Fundo Amazônia.

• Palestra sobre Desenvolvimento brasileiro: entraves e perspectivas, em 24 de maio, na sala de leitura da Biblioteca do BNDES, com o professor André Nassif, do Departamento de Economia da UFF, e aposentado do BNDES.

• Debate Visões alternativas sobre a Reforma da Previdência, em 17 de maio, no Edifício Ventura Oeste, com Fabio Giambiagi, economista do BNDES, e a professora Denise Gentil, da UFRJ.

• Palestra sobre A crise da macroeconomia, em 7 de maio, no Edifício Ventura Oeste, com o professor Daniel Negreiros Conceição (UFRJ). O jornalista e economista José Carlos de Assis também participou do evento.  

• Encontro com o ex-presidente do BNDES Luiz Carlos Mendonça de Barros (1995/1998), que falou sobre o BNDES é a sua história, em 30 de abril, no Teatro Arino Ramos Ferreira.

Ainda faltam ser postados no canal da AFBNDES no YouTube:

• Encontro com os ex-diretores do BNDES Eduardo Rath Fingerl e Wagner Bittencourt, realizado em 30 de maio, no Edifício Ventura Oeste, com o mesmo mote da conversa com Mendonça de Barros (O BNDES é a sua história).

Ato em Defesa do BNDES, ocorrido na última quarta-feira (19), no Teatro Arino Ramos Ferreira, e contra a proposta de retirada dos recursos do PIS e do Pasep do BNDES, presente no relatório da reforma da Previdência apresentado semana passada na comissão especial da Câmara dos Deputados.