No começo dos anos
80, a sociedade
brasileira realizou
um pacto pela
democracia. A partir
daí a esquerda, até
então radicalizada,
depôs armas.Da
mesma maneira, os
militares
brasileiros,
desgastados pelos
longos anos de
exercício da
política, se
retiraram do centro
da vida pública
nacional, abrindo-se
espaço para o
retorno da
pluralidade
democrática. Da
convivência de
multiplicidade de
interesses e
manifestações
resultou o pacto
democrático de 1982.
A bomba do
Riocentro mostrou
que o pacto não
seria fácil de ser
cumprido. O
conservadorismo
excessivo levou ao
ódio e ao fracasso.
Não obstante,
prevaleceu a
tolerância entre
visões distintas de
mundo, prevendo-se a
possibilidade de
alternância de poder
em regime
democrático. Mais
uma vez os
brasileiros buscaram
acomodar, no devir
da formação
histórica, forças
centrífugas
aparentemente
inconciliáveis.
Houve a busca de
consensos como
estratégia nacional.
A partir de 2015,
contudo, o restrito
grupo que assumiu o
controle político
sobre os meios
econômicos do Estado
brasileiro tem
promovido o desmonte
das instituições
públicas. A pretexto
de princípios de
eficiência e tamanho
extraídos de
doutrina ultra
neoliberal, mas sem
qualquer
legitimidade,
promovem-se mudanças
organizacionais
importantes e, até
certo ponto,
irreversíveis.
No caso do BNDES,
consultoria
estrangeira
contratada com
dispensa de
licitação por
dezenas de milhões
de reais afirma, em
documento denominado
"VISÃO 2035: Brasil,
país desenvolvido",
que:
"É preciso criar
condições para o
florescimento de
novos negócios,
mercados e empresas,
e o BNDES pode
contribuir muito por
meio de: ampliação
do acesso a crédito
para micro, pequenas
e médias empresas (MPME),
indução da boa
gestão e governança
em médias empresas
com potencial, apoio
a projetos
inovadores e de alta
tecnologia, e
revisão das
políticas de
conteúdo local,
favorecendo o
comércio exterior e
ganhos de
produtividade com
importação de bens e
serviços".
[Bernardo&Martins,
2018]
Ou seja, nada de
novo além de redução
das exigências de
conteúdo nacional!
Não há nenhuma
palavra sobre apoio
aos entes
subnacionais, a
setores específicos,
à agenda de meio
ambiente!
Não obstante, há
atualmente no BNDES
projeto em curso que
prevê que "os
alinhados"
prevalecerão sobre
os demais, sem
qualquer
compartilhamento de
poder com o
contraditório.
Contratados
novamente com
dispensa de
licitação, os
consultores
estrangeiros irão
sugerir "mudanças
organizacionais" em
breve.
A AFBNDES terá
nos próximos meses
papel fundamental na
defesa da livre
expressão crítica
dos funcionários.
Aqui no BNDES a
sociedade brasileira
investiu pesado. Não
há nem narrativa
"verdadeira", nem
"universal", que
legitime e
justifique a censura
ao pensamento
crítico interno à
organização. Isso
faz parte da
democracia.