A Rede de
Observatórios da
Segurança registrou
2.423 casos de
violência contra a
mulher no último
ano. Ou seja, a cada
quatro horas ao
menos uma mulher foi
vítima de
violência. É o que
revela o
boletim “Elas Vivem:
dados que não se
calam”, que foi
lançado na última
segunda-feira, 6 de
março. A terceira
edição do documento
apresenta o
monitoramento de
sete estados: Bahia,
Ceará, Pernambuco,
São Paulo, Rio de
Janeiro e pela
primeira vez,
Maranhão e
Piauí. Entre os
casos registrados,
495 são feminicídios.
“Ou seja, uma mulher
morre por ser mulher
a cada dia”, destaca
o boletim.
Segundo a Rede,
trazer à tona esses
números, que
representam vidas de
mães, irmãs, filhas,
faz com que os
governos possam
criar políticas
públicas para evitar
essas violências e
preservar vidas.
Afinal, muitos
desses casos
poderiam ter sido
evitados pela quebra
do ciclo da
violência por meio
de ações do Estado e
do sistema de
justiça”.
O maior número de
eventos foi
registrado em São
Paulo (898) – um a
cada dez horas. São
casos como o da
jovem sequestrada
que teve o rosto
tatuado com o nome
do ex-companheiro
ou da procuradora-
geral espancada no
local de trabalho.
Mas é a Bahia o
estado com maior
taxa de crescimento
em relação ao último
boletim, com uma
variação de 58%, com
ao menos um caso por
dia. Além de ser o
primeiro em
feminicídios do
Nordeste com 91
registros. “Existe a
necessidade de que
todas as pessoas
tenham um
conhecimento social
sobre essas questões
para que a gente
possa transformar
esses números
que aumentam a cada
ano”, explica a
pesquisadora baiana
Larissa Neves.
O Rio de Janeiro
também apresentou
uma alta
significativa de 45%
em um ano com casos
de repercussão
nacional no estado
como o do estupro
de uma parturiunte
cometido pelo
anestesista ou
do chefe
de investigações da
delagacia da mulher
acusado de agredir a
ex-companheira.
E, ainda, agressões
políticas a mulheres
durante a campanha
eleitoral. O Rio chegou a registrar ao menos um
caso de violência
contra a mulher a
cada 17 horas e
casos de violência
sexual praticamente
dobraram, passando
de 39 para 75.
Pernambuco é o
segundo estado do
Nordeste em
registros de
violência contra a
mulher (225), com
pelo menos um caso a
cada dois dias. O
estado também passou
a liderar os números
de transfeminicídios
– posição ocupada
pelo Ceará nos
últimos dois anos.
Segundo a
pesquisadora da Rede
em Pernambuco, Dália
Celeste, essa
condição se dá pela
negligência do
governo. “Houve um
silenciamento e a
omissão do governo
em relação à criação
de políticas
públicas mesmo após
a onda de ataques
transfóbicos em
2021. Corpos trans e
travestis passam por
um processo de
desumanização e são
vistos como corpos
que não deveriam
existir, o que
alimenta os crimes
de ódio”, afirma.
Enquanto isso, as
mulheres cearenses
vivenciaram um
aumento de casos de
violência sexual. O
número quase dobrou,
passando de 17 para
31 casos.
O Piauí registrou 48
casos de
feminicídios. No
estado, os
equipamentos de
acolhimento se
encontram na capital
e deixam as mulheres
de outras
localidades
desamparadas. Já o
Maranhão, é o
segundo estado do
Nordeste em
agressões e
tentativas de
feminicídio. Os
maranhenses
registram um caso de
violência contra a
mulher a cada 54h.
A maior parte dos
registros nos sete
estados tem como
autor da violência
companheiros e
ex-companheiros das
vítimas. São eles os
responsáveis por 75%
dos casos de
feminicídio. As
principais
motivações são
brigas e términos de
relacionamento.
“Para além da
responsabilidade
individual
precisamos refletir
sobre a
responsabilidade do
estado em tolerar
que tantos
feminicídios
aconteçam. Já foram
assinados tratados e
já avançamos em
algumas direções,
mas ainda se permite
a impunidade. E isso
se dá ao não saber
como esse crime
acontece, não se
fazer o devido
registro, não
qualificar
juridicamente da
maneira correta”,
explica Edna Jatobá,
coordenadora do
observatório da
segurança de
Pernambuco.
Informações sobre a
metodologia de
coleta das
informações e sobre
a Rede de
Observatórios da
Segurança
aqui. |