Com o andamento dos trabalhos da equipe de
transição, surgem, a cada dia, diversas
propostas para o próximo governo colocar em
prática. “Isto é perfeitamente
compreensível. Será um governo democrático,
sustentado por uma frente ampla. Cada
segmento quer apresentar suas propostas e
vê-las serem colocadas em prática”, afirmou
a presidenta da Confederação Nacional dos
Trabalhadores do Ramo Financeiro
(Contraf-CUT) e coordenadora do Comando
Nacional dos Bancários, Juvandia Moreira.
Juvandia, que participou, na quinta-feira
(1º/12), da reunião
de sindicalistas com presidente eleito,
Luiz Inácio Lula da Silva, disse ainda que a
Contraf-CUT também debate, já faz muito
tempo, sobre os problemas do país e tem
propostas para solucioná-los. “No nosso
último Congresso, por exemplo, as reflexões
giraram sobre o tema ‘Reconstruir o Brasil
que a gente quer’”, lembrou a presidenta da
Contraf-CUT. “É público que defendemos a
recuperação do papel dos bancos públicos de
incentivador do desenvolvimento com
distribuição de renda. Eles precisam ter
força para ajudar a reconstruir o nosso
país, força para reverter a
irresponsabilidade de suas gestões, que, ao
que tudo indica, foram prejudicados pela
busca desenfreada de privatização e pela
reeleição do atual presidente da República.
Mas, o momento é de transição. Nossas
propostas serão apresentadas ao próximo
governo, no momento oportuno, para
defendermos os interesses da classe
trabalhadora e da categoria bancária em
específico”, completou.
Ataques aos bancos públicos
“Algumas das medidas tomadas pelas gestões
dos bancos públicos, desde 2017, os levaram
à beira da destruição”, afirmou o empregado
da Caixa Econômica Federal e diretor da
Contraf-CUT, Rafael de Castro. “São medidas
que prejudicam a atuação dos bancos públicos
como fomentador do desenvolvimento econômico
e social com justiça e respeito às
realidades regionais e diferenças
socioeconômicas da nossa população”,
completou (veja abaixo algumas destas
medidas).
“Queremos um banco público que esteja
presente nas periferias e cidades pequenas,
e que trate com respeito e dignidade os
funcionários, para que estes não sejam mais
submetidos a metas abusivas”, disse
coordenador da Comissão de Empresa dos
Funcionários do Banco do Brasil (CEBB), João
Fukunaga, ao lembrar que nos últimos anos
foram fechadas 1.500 agências e houve uma
redução de 10 mil postos de trabalho no BB.
“O próximo governo será diferente do atual.
Lula já afirmou diversas vezes que vai
voltar a utilizar os bancos públicos para
fomentar o desenvolvimento econômico e
social. Além disso, trata-se de um governo
popular e democrático, que já está ouvindo
e, com certeza, vai respeitar a categoria e
classe trabalhadora como um todo”, afirmou
Fukunaga.
Descapitalização e uso político
No apagar das luzes de seu mandato, o atual
presidente da República e seu ministro da
Economia continuam com os ataques contra os
bancos públicos. Na quarta-feira (30/11), a
imprensa noticiou que a Caixa
aprovou um plano para devolver R$ 21,1
bilhões ao Tesouro Nacional referentes
aos contratos de Instrumentos Híbridos de
Capital e Divida (IHCDS), firmados entre a
Caixa e a União, que foram capitalizados
durante as gestões petistas.
O acordo prevê a devolução de R$ 3 bilhões
ainda neste ano. O restante será devolvido
de forma parcelada: R$ 5 bilhões em 2023, R$
6,3 bilhões em 2025 e R$ 6,8 bilhões em
2026.
Para técnicos da Caixa, a devolução da forma
como foi estabelecido pode comprometer a
liquidez do banco no futuro e prejudicar a
gestão a ser indicada pelo presidente eleito
Luiz Inácio Lula da Silva.
Na avaliação de Rita Serrano, eleita pelos
empregados para representa-los no Conselho
de administração da Caixa, que foi contra a
proposta, a devolução pode causar “sérios
danos” à instituição, “incentivar medidas de
privatização das operações do banco, reduzir
sua capacidade operacional de atuação como
fomentador do crédito e limitar
investimentos na gestão do próximo governo”.
Além da Caixa, os demais bancos públicos
também sofrem com o processo de
descapitalização. Em setembro, atendendo
pedido do Ministério da Economia, o Tribunal
de Contas da União determinou que todos os
bancos apresentassem um cronograma de
devolução de recursos ao Tesouro. O BNDES
informou que serão devolvidos quase R$ 70
bilhões até o fim de 2023. O BB fará um
pagamento antecipado de R$ 1 bilhão neste
ano e outros R$ 71 bilhões até 2028.
Crédito para poucos
A Caixa Econômica Federal, que foi acusada
de, durante o período eleitoral oferecer
crédito de maneira irresponsável, até para
que não tinha como quitar os empréstimos,
atitude classificada como de caráter
eleitoral, desacelerou a concessão de
crédito após as eleições, alegando apenas
que a concessão de crédito obedece a
critérios internos de governança.
A verdade é que, antes das eleições
presidenciais, enquanto
outros bancos desaceleravam as
concessões diante da alta da Selic e do
aumento da inadimplência, a Caixa criou
produtos como o microcrédito para clientes
negativados, acelerou no crédito
imobiliário, com taxas promocionais e
pacotes especiais para o financiamento à
construção. Tais medidas levaram ao estouro
do orçamento do banco para a carteira de
crédito, sem que houvesse captação
suficiente de recursos para suplantar as
concessões.
“Atualmente, a Caixa fechou linhas de
crédito. As novas contratações são somente
com quem tem muito dinheiro”, disse Rafael
de Castro. “Isso é ruim para o banco e para
os empregados, que não têm como cumprir as
metas estabelecidas pelo banco”, explicou.
Esse cavalo de pau na política de crédito do
banco fez com que o Ministério Público
abrisse, nesta quarta-feira (30) mais
um procedimento de investigação contra a
diretoria do banco.
Passado o segundo turno das eleições
presidenciais, em novembro, a Caixa passou a
adotar critérios rigorosos para a concessão
do crédito. Na ocasião, o estou no
orçamento, que era de R$ 892 bilhões, já
havia ocorrido, tendo alcançado R$ 994
bilhões na carteira de crédito.
Além do MP, tendo como base os números dos
últimos balanços e notícias divulgadas pela
imprensa, auditores do Tribunal de Contas da
União (TCU) também já estavam de olho na
mudança de critério e nos índices de
liquidez e solvência da Caixa.
Fonte:
Contraf-CUT |