O que aconteceu com o
Rio de Janeiro vanguardista na política, da
resistência à ditadura, de Brizola e das
vitórias eleitorais de Lula e Dilma? Por que
as camadas populares, em grande parte, votam
em candidatos da extrema direita?
Na edição de novembro do Jornal dos
Economistas, publicado pelo Corecon-RJ,
alguns autores aprofundam o debate.
José Luis Fevereiro, do Instituto por
Direitos e Igualdade, destaca que
historicamente o Rio tem uma classe média
progressista e uma periferia com menor
organização social, ao contrário de São
Paulo. A esquerda precisa construir força
política nas periferias empobrecidas da
capital e na Baixada, que concentram
evangélicos e trabalhadores sem vínculo.
Lula tem que romper com o neoliberalismo
para retirar os trabalhadores da hegemonia
do conservadorismo.
Alexandre Freitas, da UFRRJ, avalia que a
ausência de um projeto de desenvolvimento
econômico no estado possibilitou o casamento
entre a milícia e o mercado, que criou
currais eleitorais. O voto nessas regiões
possui uma natureza social, econômica e
política muito mais complexa do que o
tradicional voto de cabresto.
Luciana Ferreira, da UFRRJ, faz um balanço
histórico da evolução política e econômica
do Rio. Políticas neoliberais adotadas no
país a partir da década de 90 contribuíram
para o esvaziamento econômico e pobreza no
estado. A ausência do Estado criou condições
para o fortalecimento das milícias e
lideranças religiosas.
Bruno Sobral, da Rede Pró-Rio, e Leandro
Damaceno e Vinícius Boechat, que trabalham
no governo do estado, traçam um histórico
dos problemas do estado desde a fusão ainda
não consolidada até o Novo Regime de
Recuperação Fiscal. Uma mudança de paradigma
na política fluminense passa pelo
fortalecimento da sua administração pública.
Karine Vargas,
da Alerj, e Fabio Pontes, do Banco do
Brasil, detalham a evolução da dívida,
receita, resultado primário e investimentos
do estado nas duas últimas décadas. O estado
investiu com recurso de terceiros e sem
sustentabilidade financeira, levando à crise
fiscal em 2015 e à venda de patrimônio (Cedae).
Nadine Borges,
da OAB/RJ, afirma que o que vimos no Rio é
um alinhamento com o fascismo. Muitos dos
eleitores que votaram em Castro são
evangélicos e vivem em áreas com milícias.
Esse domínio é agravado pela política de
amnésia forçada sobre a população. O voto
não uma escolha às claras, mas sim um
caminhar vendado para o cadafalso. |