1968. Ao me formar,
encontrei um Brasil
pleno de empregos.
Eu simplesmente
desconhecia que o
mundo não era sempre
assim... tudo
tão
facil.
Logo
consegui um bom
emprego na Standard
Electrica S/A, uma fábrica
da multinacional
americana
(ITT)
em Vicente de
Carvalho, onde hoje
é o Shopping
Carioca. Mas era
possível
voar mais alto.
Eu
era curioso,
irrequieto,
descobri que a
vetusta The Western
Telegraph Company
Limited estava
abrindo uma empresa
de consultoria,
chamada WESTEC -
Western Serviços
Tecnicos Ltda. Fui
lá, encontrei um
simpático
inglês que me
contratou como
Diretor Técnico.
Tinha apenas 9 meses
de formado, meu
antigo chefe da SESA
dizia que eu estava
começando por onde
ele gostaria de
terminar
a
carreira. Mas o
sonho ainda iria
mais alto. Continuei
me mexendo, descobri
que a MONTREAL
Engenharia também
ia entrar nas
Telecomunicações,
através
da MONTOR S/A
Projetos e Sistemas.
Fui lá, me
contrataram como
Coordenador de
Projetos. A cada
salto, o salário
dobrava.
1973. Casamento com
Marlene, logo a
cegonha trouxe duas
crianças. Então
o mundo veio abaixo.
A Guerra do Yom
Kippur determina a
primeira crise do
petróleo,
pegando o Brasil
desprevenido,
altamente dependente
do petróleo
árabe.
A
economia
sofre um baque
terrível. Perdi o
emprego
e
foi difícil
arranjar outro.
Provei o gosto
amargo do desemprego
durante alguns
poucos meses, o
suficiente para
saber como é
desagradável.
Um colega me deu a mão,
fui admitido na
INDUCO. Era uma fábrica
de elevadores que
aproveitando o
renascimento das
Telecomunicações
Nacionais passou a
fabricar
equipamentos para o
setor. Instalada em
uma espécie
de depressão
no terreno, na Rua
Fonseca Telles,
em São
Cristóvão.
Da rua não
se via a fábrica.
Não
era grande coisa,
mas não
havia outra opção.
Mas ali ficaria
apenas cerca de um
ano.
1975. Um belo dia o
jornal publicou um
anuncio: um certo
BNDE convoca para
concurso público.
Eram 30 vagas para
cada especialidade.
Engenharia,
Economia, Direito e
Contabilidade. O
resto já sabemos,
era o começo de uma
história
fantástica,
que durou 36 anos
maravilhosos. No dia
em que soube da
aprovação, avisei os
colegas: pessoal,
vou deixá-los...
um antigo funcionário
me deu os parabéns,
ao que retruquei,
ora vou ser apenas
um número
... ao que ele
completou: sim, mas
um número
RESPEITADO. E foi
isso que aconteceu.
Era um senhor idoso,
cujo filho também
trabalhava lá, no
nosso mesmo Setor de
Vendas. Mas porque
estou contando tudo
isso?
Porque
todas essas empresas
não
existem mais, a não
ser o nosso querido
BNDES. Desapareceram
a SESA, WESTERN,
WESTEC, MONTREAL,
MONTOR
e
INDUCO.
Década de 80. Viagem
para visitar uma fábrica
com o Grupo de Análise.
Durante o almoço,
conversa vai,
conversa vem, o
empresário
nos conta que ele
nunca contratava
ninguém
que havia trabalhado
em empresas
extintas. Então
pensei com meus botões...
ainda bem que já
estou empregado...
pois pode haver
outros assim.
O almoço foi em uma
bela churrascaria
campestre, ampla,
agradável.
Despedimo-nos, e
nunca mais ouvi
falar da empresa.
Anos depois, uma notícia
no jornal me chamou
a atenção. Houve um
assalto em uma
churrascaria.
Com
a chegada da
polícia,
um tiroteio ocorreu
com os bandidos
atirando a esmo, e
um dos clientes foi
atingido
mortalmente. Não
pude acreditar, mas
não
havia dúvida.
Sim,
era
ele,
o empresário, na
mesma churrascaria.
Como sói
acontecer em casos
assim, a empresa se
ressentiu com a
terrível perda, a
sucessão mostrou-se
impossível, afinal o
finado ainda era
jovem, e a consequência
foi o fechamento da
empresa.
Em meus pensamentos
naqueles dias
tristes, mentalizei
que os funcionários,
agora com uma
empresa extinta em
seus currículos,
viessem a encontrar
novos empregos, onde
o fato não tivesse
maior significado.
Recentemente, tomei
conhecimento que
aquela tradicional
churrascaria,
existente há mais de
meio século, não
resistiu ao impacto
da terrível
pandemia que assola
a Humanidade, e
acaba de fechar as
portas.
O tempo passou. Ao
recordar estas
antigas historias,
constato que
percorri incólume a
Estrada da Vida. No
caminho, muitas
alegrias, e algumas
poucas tristezas,
pelo que,
contrito, agradeço
ao Eterno, Rei do
Universo, que nos
deu Vida,
nos sustentou
e
nos fez Alcançar
este Momento!
P.S. Esta é uma
história
ficcional. Qualquer
semelhança com
pessoas vivas ou
mortas terá sido
mera coincidência. |