A edição de março do Jornal dos Economistas,
publicado pelo
Corecon-RJ,
propõe-se a aprofundar o debate sobre a
dívida pública brasileira – “para além do
dogma do ‘ajuste’ e analogias simplórias tão
em voga na grande imprensa”, destaca o
editor.
Antonio Lacerda, presidente do Conselho
Federal dos Economistas (Cofecon), enfatiza
que o pagamento de juros sobre a dívida
pública chegou a quase R$ 2 trilhões em
2017-2021. “Cabe buscar diminuir esse custo
com uma desindexação gradual e ampliação do
vencimento dos títulos. A insistência no
pseudoajuste nos condena à estagnação. Sem
crescimento não é possível um equilíbrio
fiscal”, ressalta.
David Deccache, da UnB, reitera que as
analogias entre a dívida pública em moeda
doméstica e dívidas familiares são
equivocadas. “A dívida pública, se bem
gerida, é um importante mecanismo de
desenvolvimento econômico e social”,
defende.
Antonio José Alves Junior, da UFRRJ, e
Rogério Studart, do Cebri, desconstroem a
tese de que a desconfiança empresarial da
“solvência” da dívida é a principal causa da
crise econômica. “Em um país afligido pelo
desemprego e fome, repetir essa tese é
desumano”, criticam.
Eleutério Prado, da USP, destaca que,
segundo a visão keynesiana, a dívida pública
não tem a mesma lógica da privada e que o
Estado nunca quebrará ao se endividar em
moeda própria. Segundo ele, o neoliberalismo
surgiu em resposta à queda das taxas de
crescimento do PIB e de lucro e promove a
destruição do “capitalismo civilizado”.
Maria Lucia Fattorelli, da Auditoria Cidadã
da Dívida, ressalta que a dívida pública
deveria viabilizar o desenvolvimento
socioeconômico. Mas o processo foi usurpado
por mecanismos que transferem dinheiro
público para bancos e rentistas. “A
auditoria integral da dívida torna-se cada
vez mais necessária”, defende.
Franklin Serrano, da UFRJ, e Julia Braga, da
UFF, apontam que o tamanho da dívida pública
não é um sinalizador da “solvência do
Estado”, nem tem impacto relevante sobre o
prêmio de risco-país e a taxa de juros
externa paga pelo Brasil. “As transferências
de renda do setor público para os detentores
dos títulos da dívida acentuam a
desigualdade social”, atestam.
Glaucia Campregher, da UFBA, pergunta o que
tanto atrapalha ver o déficit fiscal como
salvação nacional em épocas em que o gasto
privado deixa inutilizados capital e
trabalho. “Estado algum jamais quebrou por
dívida interna. Já governos podem e devem
cair, se usam o falso moralismo da
responsabilidade fiscal para não honrar a
sua responsabilidade para com a sociedade”,
destaca.
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