“A CAIXA nasceu em
1861 mexendo com o
sonho de então dos
brasileiros: o sonho
de ser livre,
favorecendo a
poupança dos
escravos para a
obtenção de sua
alforria. Ao longo
do tempo satisfez o
desejo dos pais em
garantir um bom
futuro para os
filhos, assegurou
que o sonho da casa
própria se
transformasse em
realidade e
possibilitou o
acesso a bens e
serviços para os
brasileiros.
Tornou-se assim o
banco da casa
própria, da
poupança, do FGTS,
das loterias, do
saneamento, dos
programas sociais e,
graças ao seu
caráter 100%
público, participou
ativamente da
recomposição da
economia em momentos
de crise.
No entanto, ao longo
destes 160 anos
muitos momentos
difíceis foram
enfrentados pela
CAIXA. Foram poucos
bancos públicos que
sobreviveram à má
gestão e à
deterioração fiscal
ocorridas ainda sob
a ditadura militar.
Com o agravamento do
caos monetário dos
anos 80 até início
dos anos 90, a CAIXA
foi levada a uma
reestruturação
financeira e
patrimonial
realizada em 2001,
que retirava dela a
capacidade de
executar políticas
públicas e reduzia
sua participação no
mercado bancário,
com agências
superlotadas,
lotéricos
desmotivados,
escassos
correspondentes
bancários e sem
produtos e/ou
serviços com
tecnologia e
qualidade. A CAIXA
então passou a
concentrar seus
recursos em
operações de
Tesouraria, gerando
daí quase todo o seu
resultado líquido.
Assim, não apenas as
políticas públicas
foram abandonadas,
mas o negócio de
crédito comercial
passou a ser visto
como secundário – ou
até mesmo
desnecessário.
A partir de 2003,
com o governo Lula e
a mudança na matriz
de desenvolvimento,
a CAIXA retoma sua
missão institucional
de banco público. A
expansão na oferta
de crédito, a
contratação de
empregados e a
abertura de novas
agências deu-se em
paralelo à
internalização do
processo das
loterias, à
realização de um
amplo processo de
inclusão bancária e
à efetivação da
maior parte dos
pagamentos dos
benefícios sociais
dos brasileiros.
Desde então, a CAIXA
assegurou sua
rentabilidade e
desempenho
econômico-financeiro.
Ampliou o crédito à
pessoa física e
jurídica, mantendo
baixas taxas de
inadimplência,
aumentando o lucro
líquido e, sempre
que possível,
contribuindo com os
dividendos ao
Tesouro, tendo
também assumido um
papel indispensável
no enfrentamento da
crise financeira de
2008.
Mas a partir do
golpe de 2016, a
assunção de Temer e
sobretudo com a
eleição de Bolsonaro
– obtida graças ao
impedimento
criminoso da
candidatura de Lula
– implementaram-se
um conjunto de
políticas neoliberal
e privatizante que
geraram graves
consequências
econômicas e sociais
ao país. Com estas
políticas, em meio
ao surgimento e
agravamento da
pandemia, houve um
processo de
desestruturação do
Estado Nacional, com
a queda do PIB, dos
investimentos, do
crédito total e a
ampliação do
desemprego, da
desigualdade e da
volta da fome ao
país.
Em paralelo, a CAIXA
sofreu um conjunto
de políticas que
desprezaram sua
sustentabilidade com
o claro objetivo de
favorecer a
liquidação da
Empresa, fatiando-a
para vendê-la em
partes.
Embora a CAIXA
esteja sendo
verdadeiramente
dizimada neste
processo, o lucro
extraordinário dos
últimos anos
favoreceu a
desinformação, a
proliferação de
mentiras e o
preconceito, como
mais uma do
Presidente Jair
Bolsonaro ao afirmar
que “A Caixa lá
atrás, com aquele
ladrão de nove
dedos, dava
prejuízo”.
Mas esses resultados
são verdadeiramente
positivos? Quais
elementos compõe
esse resultado? Como
e a que custo se
chegou a tal
resultado?
Uma análise
minimamente realista
mostra que esses
resultados foram
fruto basicamente de
três fatores: da
venda dos ativos da
CAIXA, do
encolhimento da
Empresa e da queda
das taxas de juros.
O terceiro fator foi
uma externalidade
involuntária,
derivada da
diminuição das taxas
de juros e que
obviamente
beneficiou o
resultado da Caixa.
No entanto, a maior
parte do lucro
apresentado em 2019
e 2020 foi
proveniente de
operações que
geraram resultados
não recorrentes,
derivados da
alienação de ativos,
como a venda de
Notas do Tesouro
Nacional (NTN-B), de
ações da Petrobras,
da CIELO, do Banco
Pan, dentre outras,
estratégia adotada
pela atual
administração desde
o início de sua
gestão e que
compromete o futuro
da Empresa.
O comemorado
resultado de 2019
foi, na verdade, um
resultado medíocre e
devastador para a
CAIXA pois,
descontados somente
esses dois
componentes – R$
11,5 bi dos
resultados não
recorrentes e R$
4,17 bi de
diminuição das
provisões – o lucro
líquido da CAIXA
seria pouco mais que
R$ 5 bi naquele
exercício. Em 2020,
seguiu-se a mesma
linha destrutiva e
dos R$ 13,2 bilhões
do lucro líquido da
CAIXA, R$ 5,9
bilhões foram
provenientes de
operações não
recorrentes, como
novos acordos
operacionais
firmados pela CAIXA
Seguridade e novas
alienações de
ativos.
Com a venda de
participação da
CAIXA Seguridade,
recentemente
realizada, a empresa
viu
significativamente
comprometida suas
receitas futuras.
Processo este
agravado com a
constituição e
alienação do chamado
“banco digital”, que
representará mais
uma cisão da parte
lucrativa da CAIXA,
com a transferência
de ativos e corpo
funcional
especializado para
uma empresa que será
vendida em seguida.
Bolsonaro, Guedes e
a atual gestão da
CAIXA pretendem
fazer isso também
com parte da Asset,
criando uma DTVM e
abrindo seu capital.
O mesmo vale para as
áreas de loterias e
cartões.
Para que a CAIXA
possa romper com o
processo de
liquidação e
privatização será
necessário que o
Brasil acabe com
estas políticas de
Bolsonaro e Guedes,
que só tendo como
suposto objetivo o
mercado e os
contratos privados,
ignoram a
importância do
Estado e tentam
favorecer a sua
desestruturação,
provocando a queda
do PIB, dos
investimentos, do
crédito total e a
ampliação
desenfreada do
desemprego e da
desigualdade.
Outros países, como
os EUA e os
europeus, apesar das
diferenças, já
implementam outras
políticas que visam
minimizar os efeitos
da crise, modernizar
as economias e
fortalecer seu
dinamismo, na maior
parte dos casos
tendo o investimento
público como motor
do crescimento
econômico e do
emprego.
No caso brasileiro,
já se vislumbra a
conformação de uma
ampla aliança
política para que se
possa ter outro
governo que venha a
acabar com a atual
desestruturação do
Estado, da economia
e da sociedade.
Desta forma, se
poderá implementar
uma outra política
que garanta a
recuperação
econômica e a
retomada da redução
das desigualdades no
País com uma CAIXA
recuperada, 100%
pública e, portanto,
capaz de auxiliar o
crescimento e
desenvolvimento do
Brasil.” |