Já
faz
muitos anos. Dias de
quase feriado,
o BNDES
meio vazio, andares
pululando de crianças
correndo pelos
corredores. Para a
meninada, o
Banco
era um sonho: mexer no
computador, cafezinho,
água gelada, máquinas
de somar, elevador,
restaurante...
No
Natal, festa ainda
maior: Papai Noel
chegava carregado de
presentes, logo cercado
pelas crianças. Quem via
se emocionava: as
criancinhas embevecidas
ouvindo,
atentas,
os
conselhos do Bom
Velhinho. Tão competente
na função de Papai Noel
como na de alto
executivo, anos depois
aquele colega fora
guindado a uma
diretoria
do Banco. Mas pouco
ficou
–
logo convocado pelo
governo
federal
para importante função.
A Casa, celeiro de
ministros,
secretários,
prefeitos,
perdera mais um de seus
filhos diletos, já que
ele não mais retornou–
depois presidindo
importante instituição
financeira.
Paradoxalmente, era um
Papai Noel judeu...
Algo
que não é de estranhar
sob o sol tropical dessa
Terra Abençoada.
Mas o tempo não para.
Anos depois,
algumas daquelas
crianças
voltaram;
desta vez como
estagiários ou técnicos
aprovados nos concursos
públicos,
para satisfação dos
pais. Agora estão
pós-graduados.
(Apenas
um detalhe pouco
lembrado hoje
em
dia, mas a pós-graduação
nasceu no Brasil graças
ao BNDES. O grande público
ficaria surpreso em
saber que o Brasil deve
a um banco federal,
especialmente a um
seleto grupo de
servidores do
Funtec,
o impulso inicial que
desencadeou o notável
avanço brasileiro na
formação de
mestres
e
doutores,
até então diplomados
unicamente no
exterior).
No
fundo do auditório,
enquanto os netinhos
sentam na frente para
não perder um único
momento da festa, antigo
benedense contempla as
crianças, os sorrisos
inocentes,
o
encantamento,
as
tradicionais canções de
Natal... Este
será seu
último
ano na ativa. Já
preencheu o requerimento
de aposentadoria,
aguardando apenas o dia
em que completará o
tempo.
No
friozinho do ar-condicionado,
o ruído branco de fundo
o acalenta, e um sonho
se materializa na sua
mente. Parece ver-se ele
mesmo em uma festinha
assim, há muitos anos,
de avental branco,
cercado por outras
crianças. Reconhece um
ou outro, este se tornou
um grande médico, aquele
engenheiro, outros
seguiram diferentes
caminhos. Uns tiveram
muita sorte;
outros, menos. Para
alguns a vida sempre
sorriu, para outros o
destino nem tanto. Com
um nó na garganta,
lembra de tantos anos
atrás, a escola acanhada
de uma comunidade
modesta do subúrbio, o
pequeno prédio pintado
de azul, onde aprendeu o
a-b-c... Saudades.
Se
lhe dissessem, jamais
acreditaria:
‘Você
vai ser avô...
Um
dia vai ter muitos
netinhos...
Vai
passar a vida
trabalhando pelo Povo
Brasileiro, tão sofrido,
mas tão cheio de
esperança’.
Era um salão simples,
nada que se comparasse
às
poltronas estofadas,
ao
ar-condicionado
do
Banco.
Mal havia máquinas de
escrever, computador nem
pensar, nem mesmo
telefone na escola. Mas
tudo mudou. Mudam as
cidades, já muito poucos
de nós ainda moramos ali
por perto, mudam os
uniformes, não mais
aventais, agora
camisetas. Mudam até as
crianças. Rostinhos
morenos, a provar com o
sorriso infantil que
somos todos iguais. A
festinha vai terminando
e
os netinhos procuram o
vovô, que desperta de
suas divagações. Hora
de voltar para casa. A
profecia do Eterno no
sonho de Jacob, filho de
Isaac e neto de
Abraão...
A
visão da Era Messiânica,
que virá após muito
sofrimento para a
Humanidade...
Nestes
tempos
‘pandemônicos’,
que o Eterno proteja
nossa gente brasileira! |