Opinião

Edição nº1420 – sábado, 12 de dezembro de 2020

Natal Benedense

Israel Blajberg

Engenheiro aposentado do BNDES

faz muitos anos. Dias de quase feriado, o BNDES meio vazio, andares pululando de crianças correndo pelos corredores. Para a meninada, o Banco era um sonho: mexer no computador, cafezinho, água gelada, máquinas de somar, elevador, restaurante...  

No Natal, festa ainda maior: Papai Noel chegava carregado de presentes, logo cercado pelas crianças. Quem via se emocionava: as criancinhas embevecidas ouvindo, atentas, os conselhos do Bom Velhinho. Tão competente na função de Papai Noel como na de alto executivo, anos depois aquele colega fora guindado a uma diretoria do Banco. Mas pouco ficou logo convocado pelo governo federal para importante função. A Casa, celeiro de ministros, secretários, prefeitos, perdera mais um de seus filhos diletos, já que ele não mais retornou depois presidindo importante instituição financeira. Paradoxalmente, era um Papai Noel judeu... Algo que não é de estranhar sob o sol tropical dessa Terra Abençoada.   

Mas o tempo não para. Anos depois, algumas daquelas crianças voltaram; desta vez como estagiários ou técnicos aprovados nos concursos públicos, para satisfação dos pais. Agora estão pós-graduados.  

(Apenas um detalhe pouco lembrado hoje em dia, mas a pós-graduação nasceu no Brasil graças ao BNDES. O grande público ficaria surpreso em saber que o Brasil deve a um banco federal, especialmente a um seleto grupo de servidores do Funtec, o impulso inicial que desencadeou o notável avanço brasileiro na formação de mestres e doutores, até então diplomados unicamente no exterior).  

No fundo do auditório, enquanto os netinhos sentam na frente para não perder um único momento da festa, antigo benedense contempla as crianças, os sorrisos inocentes, o encantamento, as tradicionais canções de Natal... Este será seu último ano na ativa. Já preencheu o requerimento de aposentadoria, aguardando apenas o dia em que completará o tempo.  

No friozinho do ar-condicionado, o ruído branco de fundo o acalenta, e um sonho se materializa na sua mente. Parece ver-se ele mesmo em uma festinha assim, há muitos anos, de avental branco, cercado por outras crianças. Reconhece um ou outro, este se tornou um grande médico, aquele engenheiro, outros seguiram diferentes caminhos. Uns tiveram muita sorte; outros, menos. Para alguns a vida sempre sorriu, para outros o destino nem tanto. Com um nó na garganta, lembra de tantos anos atrás, a escola acanhada de uma comunidade modesta do subúrbio, o pequeno prédio pintado de azul, onde aprendeu o a-b-c...  Saudades. Se lhe dissessem, jamais acreditaria: ‘Você vai ser avô... Um dia vai ter muitos netinhos... Vai passar a vida trabalhando pelo Povo Brasileiro, tão sofrido, mas tão cheio de esperança  

Era um salão simples, nada que se comparasse às poltronas estofadas, ao ar-condicionado do Banco. Mal havia máquinas de escrever, computador nem pensar, nem mesmo telefone na escola. Mas tudo mudou. Mudam as cidades, já muito poucos de nós ainda moramos ali por perto, mudam os uniformes, não mais aventais, agora camisetas. Mudam até as crianças. Rostinhos morenos, a provar com o sorriso infantil que somos todos iguais. A festinha vai terminando e os netinhos procuram o vovô, que desperta de suas divagações.  Hora de voltar para casa. A profecia do Eterno no sonho de Jacob, filho de Isaac e neto de Abraão... A visão da Era Messiânica, que virá após muito sofrimento para a Humanidade... Nestes tempos pandemônicos, que o Eterno proteja nossa gente brasileira! 

 

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