“Compromisso com
a transparência”
já era um
conceito batido
quando Montezano
e cia
desembarcaram na
Avenida Chile
100; entretanto,
isso não impediu
que os
recém-chegados
tomassem o
conceito como se
tivessem acabado
de inventá-lo.
Para os
empregados do
BNDES nada podia
soar mais
estranho. No
período pós-PT a
preocupação com
a transparência
tinha virado um
mantra. Cada
presidente se
comprometendo
mais que o
anterior com a
transparência do
Banco.
Depois de um ano
de gestão,
podemos indagar:
o discurso da
transparência
virou uma
prática? Nesse
sentido é
importante
registrar alguns
fenômenos
estranhos,
anômalos na
história do
BNDES, que
surgiram na
atual
administração,
apesar de seu
discurso:
1. A saída de
André Laloni e a
venda da
carteira de
ações da
BNDESPar. Até
hoje não foi
apresentada
qualquer
explicação na
Casa ou para a
imprensa sobre o
afastamento do
diretor, que foi
antecedido pela
destituição de
uma
superintendente.
Volta a sanha
para
vender a
carteira da
BNDESPar
e ainda não
sabemos o que
ocorreu nos
casos referidos,
nem foi feita a
apresentação
prometida
internamente
sobre o processo
de venda das
ações. É muito
pequeno o número
de empregados
que, assim como
o presidente,
compra a tese
original de
Laloni de que a
carteira da
BNDESPar coloca
o Banco em risco.
2. O que faz um
ex-PM
na assessoria do
presidente do
BNDES,
como informou a
imprensa? Tem
gente que acha
essa pergunta
preconceituosa.
Obviamente, não
é. A razão do
espanto, por um
lado, seria a
mesma se o
assessor fosse
bombeiro
hidráulico,
atriz da Globo,
jogador de
futebol,
filósofo etc.
Não é óbvio o
que assessores
com essas
expertises
teriam a dar
para o bom
funcionamento da
presidência do
BNDES. Por outro
lado, dentro de
um governo em
que o presidente
da República
pilota um
sistema de
informações
paralelo, em que
o Ministério da
Justiça colhe
informações
sobre servidores
que se definem
como
antifascistas, é
claro que tal
nomeação, não
explicada, causa
desconforto.
O fato de que o
ex-PM foi
inicialmente
nomeado assessor
da presidência
da República e
depois afastado
por conta de uma
falsa notícia,
torna tudo ainda
mais esquisito.
A imprensa
levantou a
dúvida. O Banco
respondeu com
silêncio.
3.
Também foi
divulgado que o
BNDES fez
propaganda em
sites ligados ao
“gabinete do
ódio”.
O presidente do
BNDES diz que é
apolítico.
Perguntamos: um
presidente
apolítico
acredita que
existe o
“gabinete do
ódio”, pilotado
por seus amigos
de infância e
juventude, os
filhos do
presidente da
República?
Deveria
concordar em
fazer propaganda
institucional
nesses sites?
Isso é bom para
a imagem do
BNDES? Seria a
atual diretoria
apolítica capaz
de contratar,
por exemplo, o
“Terça Livre”,
do jornalista
fake Alan dos
Santos, para a
assessoria de
comunicação?
4. Controverso
ex-membro do
Conselho de
Administração do
Banco do Brasil,
Marcelo Serfaty
foi impedido de
participar de
discussões sobre
fundos de ações
do BB por conta
de suas relações
com o fundo de
investimento
G5 Partners.
Tal fato, como
vimos, não
impediu sua
“promoção” a
presidente do
Conselho de
Administração do
BNDES
–
quando uma das
prioridades do
CA seria a venda
da carteira da
BNDESPar (uma
das
“5 metas de
Montezano”).
Amigo do
ministro Paulo
Guedes e
ex-sócio do
Banco Pactual
(os dois saíram
juntos da
sociedade),
Serfaty tem se
mostrado o mais
ativo presidente
da história do
Conselho. A
AFBNDES pediu
informações
sobre
Marcelo Serfaty,
mas elas nunca
foram entregues.
Agora quem pede
é
o
Ministério
Público Federal.
Além de Paulo
Guedes e Serfaty,
o presidente do
BNDES também é
oriundo do
Pactual. Talvez
seja verdade que
partidos
políticos
perderam
influência na
indicação de
membros do
governo (mas é
claro que a
aproximação
acelerada do
presidente e do
núcleo militar
do governo com o
Centrão mostra
que isso está
mudando
rapidamente). O
caso do BNDES,
por outro lado,
parece mostrar
que o “partido
dos bancos”
ganhou
influência
inédita. Além de
uma linha de
comando sobre o
BNDES toda
egressa do
Pactual, vemos
evidência disso
também na
cobertura da
revista Veja,
que teve parte
de suas dívidas
comprada pelo
mesmo Pactual. A
Veja faz hoje
propaganda
aberta das ações
da atual
diretoria do
BNDES, ao mesmo
tempo em que
denuncia
supostas
mordomias dos
empregados do
Banco às
vésperas da
negociação do
Acordo Coletivo
de Trabalho. Mas
coincidências
acontecem, não
é?
Transparência,
já!