Diante do que pudemos
assistir na reunião
ministerial de 22 de
abril, poderíamos chamar
o evento de Reunião
Cloroquina – aquela que
não resolve nada e causa
muito estrago
colateral.
Começa com a
apresentação pelo Gen.
Braga Netto de um tal
Plano Pró-Brasil, cujos
powerpoints
fariam o Dr. Dallagnol
babar de inveja. O Plano
é multifocal: foco nas
parcerias entre as
esferas pública e
privada; foco nas
desigualdades regionais;
foco na energia e
indústria; foco em
finanças e controle;
foco no meio ambiente; e
por aí vai... O plano se
assemelha ao olhar dos
insetos, ou seja,
composto por uma grande
quantidade de unidades
focadas, isoladas com a
forma de um hexágono.
Cada uma dessas unidades
funciona como um olho
simples, então o inseto
possui milhares deles
para que enxerguem algo
parecido com pedacinhos
– separados como um
mosaico impróprio à
focalização a grandes
distâncias, portanto, as
imagens somente serão
nítidas quando os
objetos estiverem a, no
máximo, um metro de
distância dos olhos. O
que é perfeito para
orientação visual
imediata de uma mosca ou
abelha, mas que pode ser
péssimo para o
planejamento estratégico
de um país.
Assim que o general
(atrapalhado com as
folhas-cópias dos
slides) acabou de
fazer a apresentação de
8 minutos do plano que,
em tese, deve ir até
2030, o Dr. Paulo Guedes
apontou suas baterias
antiaéreas para a
mosquinha de olhar
multifocal chamada
Pró-Brasil, e disparou:
“Por favor, não chamem
de Plano Marshall, pois
revela um despreparo
enorme...”.
Após a cutucada do
ministro do
Desenvolvimento Regional
na fala do Dr. Guedes, o
ministro do Meio
Ambiente, Ricardo
Salles, deu sua aula de
ética imprópria para
menores de 120 anos. Ele
propôs o aproveitamento
da distração da mídia
com a provável maior
pandemia de nossa
história (cujo número de
mortes poderá passar das
50.000 almas) para fazer
“passar a boiada” das
reformas infralegais.
Ter quem subscreva tal
aberração de princípios
torna o quadro ainda
mais desolador.
O presidente da Caixa
falou em histeria
coletiva. Guedes voltou
a defender a
privatização do Banco do
Brasil. Damares se
empolgou com o
endurecimento na relação
com os governadores e
prefeitos. Moro
balbuciou meia dúzia de
palavras, pedindo a
inclusão do item “foco
na segurança”, nos
powerpoints do gen.
Braga Netto. Tudo isso
recheado com a miríade
de palavrões do senhor
presidente da República.
A grande Dercy Gonçalves
ficaria roxa de vergonha
se viva fosse e lá
estivesse.
Bem, para o observador
de fora, qualquer
tentativa de dar sentido
lógico e prático ao
ocorrido nesta reunião
esbarraria na
impossibilidade de se
realizar aquilo que o
biólogo britânico Thomas
Huxley (1825-1895)
chamava de a governança
do mundo pelas ideias.
Segundo ele, é questão
da mais alta importância
que nossas teorias sobre
as coisas estejam tanto
quanto possível
respaldadas na realidade
dos fatos, afastadas do
erro e lastreadas na
ética, pois o poder das
ideias, consubstanciado
em ações bem delineadas,
é tão importante quanto
os recursos físicos e
monetários. Se assim
for, a fatídica reunião
pode espelhar, além da
falta de recursos
financeiros afirmada
categoricamente pelo Dr.
Guedes – “O país tá
quebrado!” –, o quão
longe estamos da sã
consciência, das ideias
criativas e promissoras
que embasam os projetos
destinados ao sucesso, e
o deserto de homens
capazes de pô-los em
prática. A maior
tragédia de uma
sociedade é quando os
governantes não estão à
altura dos desafios de
seu tempo. |