Rio.
Não pense que não há uma
profunda tristeza. Mesmo
assim, rio. Minha
natureza à ironia ou
isso é um traço
geracional? Sei lá.
Sigo. Assim. Aceito. Por
acaso me incluiria
Cabral entre os
estoicos?
Há algum tempo lia um
pouquinho de Heidegger
para discutir com uma
amiga que fazia uma
tese. Tempo em que eu
zoava com o pobre texto
publicado neste veículo
por um amigo então
diretor. Aleteia (e sua
frenemy Veritas)...
Araújo a cita, naquele
discurso de posse
surreal quando abriu com
São João e terminou com
Anchieta, discurso que
as pessoas não se deram
ao trabalho de entender
(não que prestasse) e
aqui eu faço um pequeno
box:
(Fosse ele ministro de
Marina, as alusões a São
João e ao amor seriam um
belo complemento poético
às propostas da
presidente.
Definitivamente, não era
o caso em se tratando de
Jair Messias. O mesmo
ocorre com José de
Alencar, que ele
meramente cita como
escritor sem denotar que
também foi um notável
pensador político – e
quem o afirmou como tal
é nada mais nada menos
que Wanderley Guilherme
dos Santos. Mas mesmo
assim, fosse ele
ministro da cultura
deste governo, qual
seja, existisse tal
criatura nos arcanos
maiores do atual baralho
de Brasília, coisas ali
seriam aplicáveis.
Pero no hay: ele é
ministro das relações
exteriores. Fim da
picada e deste box)
... e que abre falando
de aleteia. E
desvelamento é o que o
The Intercept vem
fazendo, tornar público,
transparente, um dos
principais cernes do
Golpe.
Agora veremos um monte
de pessoas que foram
"iludidas" aparecerem
por aí. Queridos, vocês
não foram iludidos.
Vocês podem ter sido
usados, mas vocês não
foram iludidos. Como as
pessoas que, ao ouvir as
gravações do Aécio
proferindo um texto que
ficaria muito bem na
boca de Al Pacino quando
cubano, ficaram
surpresas. Pó pará:
o nível de pureza ali
está só maior, mas a
trincada truculência é
aquela do playboy dos
debates. Vocês choraram
a derrota, vocês
comemoraram o Golpe,
vocês tomaram Temer e
sua turma pelo meio da
testa. Não era nem letra
miúda: está na bula do
remédio que pediram, em
letras garrafais. E como
consequência, temos o
governo que a Lava Jato
elegeu. Cesar Maia tem
isso claro. Quem acha
que foi zap e fake news,
ou Steve Bannon, acorde:
fake news é o Jornal
Nacional, é o tambor da
reforma da Previdência
diariamente batido na
grande imprensa. Vocês
continuam a tomar esse
rivotril que lhes dá um
sono tranquilo, essa
pílula azul que Neo
deixou de lado.
O antipetismo pelo visto
é um campo de iludidos
seriais. Ele é
construído em cima de
instituições sendo
rasgadas.
O antipeemedebismo é um
misto de ressentimento e
desprezo pelo mundo
local. O PMDB era o
equilíbrio perverso, mas
ainda assim equilíbrio e
ordem, que um bando de
burocratas como nós
rasgou.
O governo que aí está, a
nu, é isto. As milícias
e Mamon.
Com a crise econômica
que se instalou, com a
estupidez que é o teto
constitucional de
gastos, não há
sobrevivência para o que
é um governo
fundamentalmente
ilegítimo. Vejam:
legalmente é o governo,
legalmente trabalho para
ele, legalmente ele tem
o poder de propor e
executar, de destituir
pessoas etc. e tal. E
vocês nunca vão me ver
contestar essas
atribuições enquanto
funcionário do BNDES.
Mas a legitimidade deste
governo, dessa ordem
institucional, foi-se.
A menos que o TSE zere o
jogo – e razões para
fazê-lo não faltam –, o
país está condenado à
anomia. O problema é que
todas as forças que
jogaram para destruição
do quadro institucional
que existiu até a
primeira metade desta
década não tem outra
aposta.
Sintoma do que se passa
lá fora segue o Banco. O
governo que cá chegou,
cujo poder lhes caiu no
colo pela destruição
promovida no Golpe, não
tem projeto algum. Mais
Joaquim do que Levy, o
presidente nos pergunta
o que devemos fazer para
então nos dizer que
vamos fazer o que
dissemos a ele como se
não fosse ele o
presidente, como se isso
não fosse uma grande
comédia acontecendo.
Aqueles que prosperaram
com o Golpe, ou os que
retornaram passado o
furacão de Maria, a
Silvia, se aferram às
suas posições ou choram
perseguições (como se
não tivessem feito a
mesma coisa sob Temer).
Vocês se dão conta que o
Banco continua sob
acusação na Bullish? Se
os membros da
catafonocracia benedense
foram inocentados pelo
juiz, junto com Joesley,
o que ganhou dinheiro
com a história, e com
Antônio, consultor e
delator, Guido e Luciano
continuam respondendo ao
processo. Guido. Sabe os
500 milhões? Foi Guido
quem os pôs cá.
No olhar de Fitzcarraldo
de Paulo Guedes vejo uma
insana potência criativa
(o que não é
propriamente um
projeto). Mas ela não
chega até nós. Longe de
concordar, ela é o que
é, é o que temos, e
neste momento boiamos no
nada. Ao largo há
insanidades maiores,
Weintraub, por exemplo
(alguém já pensou na
hipótese, ao ouvi-lo em
"Cantando na Chuva", que
ele seja
Alex DeLarge décadas
depois, recuperado de
sua traumática
terapia?). Enquanto for
legal este governo
ilegítimo há que
lapidá-la, pois é o que
poderemos ter, "como
o velho marinheiro que
durante o nevoeiro leva
o barco devagar".
Cessadas as oito décadas
e meia do Mecânico, seis
das quais neste pedaço
do planeta, Plutão em
breve transita. O tempo
tem suas piadas. E eu
rio, Marco Aurélio, eu
rio e espero.