Opinião

Edição nº1349 – quinta-feira, 13 de junho de 2019

Aleteia

Paulo Moreira Franco

 

Economista do BNDES

Rio.

Não pense que não há uma profunda tristeza. Mesmo assim, rio. Minha natureza à ironia ou isso é um traço geracional? Sei lá. Sigo. Assim. Aceito. Por acaso me incluiria Cabral entre os estoicos?

Há algum tempo lia um pouquinho de Heidegger para discutir com uma amiga que fazia uma tese. Tempo em que eu zoava com o pobre texto publicado neste veículo por um amigo então diretor. Aleteia (e sua frenemy Veritas)... Araújo a cita, naquele discurso de posse surreal quando abriu com São João e terminou com Anchieta, discurso que as pessoas não se deram ao trabalho de entender (não que prestasse) e aqui eu faço um pequeno box:

(Fosse ele ministro de Marina, as alusões a São João e ao amor seriam um belo complemento poético às propostas da presidente. Definitivamente, não era o caso em se tratando de Jair Messias. O mesmo ocorre com José de Alencar, que ele meramente cita como escritor sem denotar que também foi um notável pensador político – e quem o afirmou como tal é nada mais nada menos que Wanderley Guilherme dos Santos. Mas mesmo assim, fosse ele ministro da cultura deste governo, qual seja, existisse tal criatura nos arcanos maiores do atual baralho de Brasília, coisas ali seriam aplicáveis. Pero no hay: ele é ministro das relações exteriores. Fim da picada e deste box)

... e que abre falando de aleteia. E desvelamento é o que o The Intercept vem fazendo, tornar público, transparente, um dos principais cernes do Golpe.

Agora veremos um monte de pessoas que foram "iludidas" aparecerem por aí. Queridos, vocês não foram iludidos. Vocês podem ter sido usados, mas vocês não foram iludidos. Como as pessoas que, ao ouvir as gravações do Aécio proferindo um texto que ficaria muito bem na boca de Al Pacino quando cubano, ficaram surpresas. Pó pará: o nível de pureza ali está só maior, mas a trincada truculência é aquela do playboy dos debates. Vocês choraram a derrota, vocês comemoraram o Golpe, vocês tomaram Temer e sua turma pelo meio da testa. Não era nem letra miúda: está na bula do remédio que pediram, em letras garrafais. E como consequência, temos o governo que a Lava Jato elegeu. Cesar Maia tem isso claro. Quem acha que foi zap e fake news, ou Steve Bannon, acorde: fake news é o Jornal Nacional, é o tambor da reforma da Previdência diariamente batido na grande imprensa. Vocês continuam a tomar esse rivotril que lhes dá um sono tranquilo, essa pílula azul que Neo deixou de lado.

O antipetismo pelo visto é um campo de iludidos seriais. Ele é construído em cima de instituições sendo rasgadas.

O antipeemedebismo é um misto de ressentimento e desprezo pelo mundo local. O PMDB era o equilíbrio perverso, mas ainda assim equilíbrio e ordem, que um bando de burocratas como nós rasgou.

O governo que aí está, a nu, é isto. As milícias e Mamon.

Com a crise econômica que se instalou, com a estupidez que é o teto constitucional de gastos, não há sobrevivência para o que é um governo fundamentalmente ilegítimo. Vejam: legalmente é o governo, legalmente trabalho para ele, legalmente ele tem o poder de propor e executar, de destituir pessoas etc. e tal. E vocês nunca vão me ver contestar essas atribuições enquanto funcionário do BNDES. Mas a legitimidade deste governo, dessa ordem institucional, foi-se.

A menos que o TSE zere o jogo – e razões para fazê-lo não faltam –, o país está condenado à anomia. O problema é que todas as forças que jogaram para destruição do quadro institucional que existiu até a primeira metade desta década não tem outra aposta.

Sintoma do que se passa lá fora segue o Banco. O governo que cá chegou, cujo poder lhes caiu no colo pela destruição promovida no Golpe, não tem projeto algum. Mais Joaquim do que Levy, o presidente nos pergunta o que devemos fazer para então nos dizer que vamos fazer o que dissemos a ele como se não fosse ele o presidente, como se isso não fosse uma grande comédia acontecendo. Aqueles que prosperaram com o Golpe, ou os que retornaram passado o furacão de Maria, a Silvia, se aferram às suas posições ou choram perseguições (como se não tivessem feito a mesma coisa sob Temer).

Vocês se dão conta que o Banco continua sob acusação na Bullish? Se os membros da catafonocracia benedense foram inocentados pelo juiz, junto com Joesley, o que ganhou dinheiro com a história, e com Antônio, consultor e delator, Guido e Luciano continuam respondendo ao processo. Guido. Sabe os 500 milhões? Foi Guido quem os pôs cá.

No olhar de Fitzcarraldo de Paulo Guedes vejo uma insana potência criativa (o que não é propriamente um projeto). Mas ela não chega até nós. Longe de concordar, ela é o que é, é o que temos, e neste momento boiamos no nada. Ao largo há insanidades maiores, Weintraub, por exemplo (alguém já pensou na hipótese, ao ouvi-lo em "Cantando na Chuva", que ele seja Alex DeLarge décadas depois, recuperado de sua traumática terapia?). Enquanto for legal este governo ilegítimo há que lapidá-la, pois é o que poderemos ter, "como o velho marinheiro que durante o nevoeiro leva o barco devagar".

Cessadas as oito décadas e meia do Mecânico, seis das quais neste pedaço do planeta, Plutão em breve transita. O tempo tem suas piadas. E eu rio, Marco Aurélio, eu rio e espero.

 

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