Não acreditamos que
a nova Diretoria do
BNDES fará qualquer
perseguição política
ou caça às bruxas.
Não parece que o
BNDES ficou na mão
de grupos do governo
que por vezes
apontam nessa
direção.
Não esperamos também
que faça eco às
acusações infundadas
de "caixa preta",
nem que entre no
jogo de eleger bodes
expiatórios para
atender às demandas
da "rua" (discurso
de campanha
antipetista que,
infelizmente,
encontrou no BNDES
uma fonte de
fantasias
extremamente
conveniente).
A reputação do novo
presidente do Banco,
mesmo entre seus
críticos, é de
alguém que conhece a
máquina pública, e
que se preocupa com
a coerência e
consistência do que
fala e escreve. Por
isso são relevantes
seus depoimentos
públicos no passado
recente considerando
"respeitável" o
nível de
transparência do
BNDES quando
comparado com outras
instituições,
inclusive
internacionais.
Queremos acreditar
que teremos uma
Diretoria que não se
comportará como mera
interventora do
Ministério da
Fazenda (agora da
Economia) no BNDES,
capaz, por exemplo,
de tocar o processo
que mereceria ser
conhecido como "a
conspiração da TLP".
Por isso, esperamos
que a nova Diretoria
discuta com o corpo
funcional as linhas
gerais do rumo para
onde pretenda
conduzir o BNDES.
Queremos um BNDES
transparente para os
cidadãos e queremos
um BNDES
transparente para os
funcionários que
aqui trabalham.
Claro que a
iniciativa está na
mão de quem
legitimamente foi
indicado pelo novo
governo. Claro que a
obrigação de
apresentar novas
propostas está na
mão da nova direção.
Mas é legítimo
também que quem
trabalha e conhece o
Banco seja escutado,
possa se manifestar,
e que possa debater
para aperfeiçoar as
propostas, aumentar
seu potencial de
sucesso ou reduzir
as chances de
fracasso.
Insistimos na nossa
linha editorial que
os dois últimos anos
foram de crise, de
mudanças, e algumas
positivas. Queremos
um Banco com debate
interno. Queremos
cada vez mais um
Banco que reflita
sobre o que faz, que
reflita sobre o
país.
Como uma Diretoria
que faz parte do
governo, mas tem
independência para
cumprir as missões
do BNDES, esperamos
que avalie e
reavalie a
continuação das
devoluções dos
aportes do Tesouro
Nacional, que será
certamente demandada
por Brasília. Temos
um desafio nacional
de colocar em marcha
um grande pacote,
bem planejado, de
obras de
infraestrutura.
Temos o desafio de
modernizar um parque
industrial que perde
competitividade para
a revolução
incessante na Ásia.
Temos o desafio de
aumentar a taxa de
investimento,
condição mínima de
qualquer
transformação
positiva na
economia. Para tudo
isso precisamos do
BNDES e dos recursos
que estão hoje à sua
disposição.
É mais difícil
acreditar que a nova
Diretoria concordará
que precisamos de
taxas subsidiadas
para injetar esses
recursos na
economia, uma vez
que o novo
presidente mais de
uma vez se
manifestou
incondicionalmente
favorável à TLP. Mas
não é impossível que
com o passar do
tempo, com a
imposição da
realidade, e desde
que se mantenha o
debate na Casa, a
nova Diretoria venha
a mudar de posição.
O problema da
atuação do BNDES
nunca foi o volume
de subsídios
concedidos, mas a
negociação das
contrapartidas que
foram pactuadas em
troca deles com o
setor público e
privado. Os casos de
sucesso e fracasso
podem ser mapeados
nesse segundo
terreno.
Tememos uma
Diretoria que por
não entender a
importância da
negociação de
contrapartidas,
simplesmente acabe
com os critérios de
"conteúdo local",
que sofreram
interessante
reelaboração recente
por técnicos do
BNDES.
Finalmente, no plano
organizacional, é
preciso enfrentar as
demandas simultâneas
e incompatíveis de,
por um lado, maior
agilidade, resultado
da pressão advinda
de taxas mais
próximas do mercado
e, por outro, maior
controle,
decorrente, em
particular, do ultra
ativismo do TCU e
suas consequências
internas no Banco.
Muitos funcionários
do BNDES testemunham
atônitos o
desenrolar dessa
contradição.
Esforços de aumento
de agilidade, muitas
vezes exigindo
reestruturações
traumáticas, são
frequentemente
cancelados por uma
burocratização
crescente,
decorrente de
procedimentos
ligados aos aspectos
jurídicos do
processamento das
operações. Aqui a
força do novo
presidente junto ao
TCU será
fundamental.