PAS: Manter ou Mudar? – Parte 1

Ruy Siqueira Gomes

Economista do BNDES, ex-diretor de Seguridade da FAPES

"Só existe opção quando se tem informação. Ninguém pode dizer que é livre para tomar o sorvete que quiser se conhecer apenas o sabor limão"
Gilberto Dimenstein

"A má informação é mais desesperadora que a não-informação"
Charles Colton

Escolhi essas duas citações, atribuídas a figuras tão díspares, como justa introdução para este artigo sobre a FAPES e sobre o momento no qual estamos vivendo. Durante 15 meses, entre os anos de 2016 e 2017, tive a oportunidade de trabalhar como diretor de Seguridade da nossa Fundação de Assistência e Previdência Social. Nesse período, procurei dar minha contribuição para a melhoria dos nossos planos de saúde (PAS) e previdência (PBB), mas, acima de tudo, aprendi muito. E, muito embora tenha encerrado meu ciclo como gestor, acredito que mantenho a responsabilidade de compartilhar o aprendizado adquirido.

De forma geral, hoje constato nos colegas benedenses a impressão de que é inevitável fazer algo em relação ao PBB, nosso plano de previdência, bem como certa dose de satisfação por, após amplo debate, finalmente termos selecionado um caminho a seguir. Já no tocante ao PAS, parece existir apenas um temor generalizado e a total incerteza sobre o que está por vir. Nada mais justo, uma vez que as conversas ainda estão recém-iniciadas e existem ameaças reais no ar.

A maioria dos benedenses, ativos e assistidos, deve estar ciente de que, no início do presente ano, foram publicadas as Resoluções n°s 22 e 23 da Comissão Interministerial de Governança Corporativa e de Administração de Participações Societárias da União –CGPAR. Estas resoluções, se aplicadas na íntegra e sem discussões prévias a respeito de nossos direitos trabalhistas e da extensão do conceito de direito adquirido, extinguiriam o PAS, nosso plano de saúde, como o conhecemos hoje. As mudanças preconizadas por tais resoluções podem ser integralmente conferidas no link que segue: http://www.planejamento.gov.br/assuntos/empresas-estatais/legislacao/resolucao-no-23-de-18-de-janeiro-de-2018-diario-oficial-da-uniao-imprensa-nacional.pdf

Diante desta ameaça, precisaremos, juntos, fazer escolhas que definirão nosso futuro e de nossas famílias. Para superar esse desafio com sucesso e ainda unidos, é imprescindível que todos tenham um patamar minimamente aceitável de conhecimento sobre o PAS. Não é meu objetivo nesse artigo discutir as exigências das citadas resoluções ou mesmo possíveis soluções de contorno. Gostaria apenas de oferecer algumas informações relevantes e por vezes ignoradas sobre o benefício de saúde que hoje possuímos, de forma que cada benedense forme seu juízo de valor a respeito do que está em jogo. Nesse contexto, apresento a breve reflexão a seguir, organizada de forma a responder pelo menos duas fundamentais perguntas que versam sobre a qualidade e o custo do PAS. Então, vamos a elas.

1. Quais planos de saúde de mercado são melhores que o PAS?

Esta é uma pergunta capciosa. Em geral, a resposta deveria variar de acordo com o que cada indivíduo valoriza em um plano de saúde. Por causa disso, normalmente eu me esquivaria de tentar oferecer uma resposta única e objetiva. Neste caso, porém, acho que posso arriscar uma resposta com um bom nível de segurança e, em seguida, oferecer minhas justificativas. Então vamos lá: não existe no mercado, e jamais existirá, qualquer plano de saúde que se compare ao PAS.

Ao longo da minha experiência como gestor da FAPES, tive a oportunidade de receber e analisar diversas reclamações e sugestões de melhoria para nosso plano de saúde. Temos, sim, problemas a resolver, principalmente no tocante à boa utilização de novas e mesmo antigas tecnologias. É preciso trazer com urgência mais comodidade e menos burocracia aos beneficiários. Nesse sentido, claro, temos muito a nos inspirar nos planos de mercado. O PAS, porém, não é apenas isso.

A maioria dos beneficiários interage com o plano de saúde em eventos simples e repetitivos, tais como pedidos de autorização e reembolso. Assim, muitas vezes, a impressão que possuem do PAS é que ele seja uma grande burocracia, facilmente substituível por outros planos premium oferecidos no mercado, com melhores recursos de acesso e maior rede de médicos. A exceção a esse convívio burocrático está nos poucos titulares e dependentes que, a cada ano, encontram a assistência da FAPES na encruzilhada entre a vida e a morte, como em graves situações de internação ou de emergências. São esses beneficiários que conhecem o momento onde o PAS realmente é diferente. Portanto, essa é razão da minha segurança em classificar nosso plano de saúde como algo fora de série: o PAS é incomparavelmente melhor exatamente quando mais precisamos.

Por definição, não existe um plano comercial que vá lutar pela manutenção da sua integridade física e mental como a FAPES fará. Isso acontece simplesmente porque os planos de saúde de mercado obedecem à lógica da lucratividade das empresas que fazem sua gestão. Seja qual for a governança que se apresente, o triste fato é que, nessas empresas, existem metas financeiras para serem cumpridas e benchmarks outros a serem respeitados. À sombra dos mais belos slogans, nossa saúde para elas será sempre apenas business as usual. Perceba: eu não tenho nada contra metas e benchmarks e até os admiro, mas entendo que eles não podem se sobrepor à saúde de um ser humano. Assim, no mercado, se mais um dia de internação para seu dependente estiver entre um gestor e uma meta, infelizmente você pode vir a encontrar grandes dificuldades. É lamentável e deplorável, mas é a realidade. Ou já não ouvimos histórias assim de pessoas de nosso convívio?

Nesses planos de mercado, que usualmente abarcam centenas de milhares de participantes, cada pessoa é um número. Em um plano premium, é um número VIP, mas, ao fim e ao cabo, é apenas um número. A FAPES recebe centenas de pedidos de reembolso em um curto período de tempo. Então, ao menos nesse tipo de evento, cada item ali, com certeza, também é processado como um número. Mas, por outro lado, se você ou seu dependente estiver no leito de um hospital lutando pela própria vida, a Fundação possui uma equipe médica dedicada e extremamente qualificada acompanhando seu avanço a cada dia. São profissionais que vão aparecer não somente para segurar sua mão e trazer uma palavra de alento, mas para discutir seu caso com a equipe responsável, garantindo que o melhor está sendo feito, que os recursos públicos não estão sendo desperdiçados, e, acima de tudo, deixando claro que a FAPES quer lutar por você e por sua família até as últimas consequências.

Sabemos que o relacionamento da FAPES com seus participantes está bastante esgarçado. Problemas e dúvidas diversas erodiram profundamente aquela que deveria ser a base das nossas relações: a confiança entre as partes. Nesse contexto, um serviço excelente, estruturado com profissionalismo ao longo de décadas, respeitado e admirado por todos os pares no mercado de saúde, é, às vezes, colocado em questionamento de forma absolutamente injusta. Nosso plano de saúde é, muito provavelmente, o maior benefício que possuímos e, portanto, demanda que lutemos por ele com afinco, como se lutássemos por aquilo pelo qual a FAPES zela: nossas vidas.

Por fim, como recomendo para qualquer caso médico grave: sempre busque uma segunda opinião. Assim, por favor não tomem minhas palavras simplesmente como verdade. Que tal conversar com algum beneficiário do PAS que já utilizou o plano em uma situação de vida ou morte? Depois dessa resposta, pergunte a si mesmo: qual plano de saúde você quer para a sua família?

Na continuação deste artigo, vamos refletir um pouco sobre os custos do PAS, sua evolução nos últimos anos e sua comparabilidade com os custos dos planos disponíveis no mercado. Obrigado e até lá.

 
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