Turbulências à vista...
 

Celso Evaristo Silva
Empregado do BNDES
 
Aos poucos, o desenrolar dos fatos confere nitidez ao mosaico político pós-impeachment. As filiais estrangeiras das empresas petrolíferas terão direito a 1 trilhão de reais de cortes de impostos nas concessões do Pré-sal, cujas descobertas vieram pelo esforço tecnológico de décadas dos engenheiros e técnicos brasileiros.

O casamento da Boeing com a Embraer não fica só no âmbito da aviação comercial. Também engloba a Divisão de Defesa da empresa brasileira. Das três unidades operacionais da Embraer - Aviação Comercial, Executiva e Defesa e Segurança - esta última já responde por 15% da receita líquida.

O blá-blá-blá inicial era de que a Boeing estava só interessada na nova linha de jatos regionais da Embraer (o que já não seria pouco), do mesmo jeito que a Airbus havia feito com a Bombardier. Há, no longo prazo, a estratégia de ampliar sua carteira de aeronaves no segmento regional - o que mais cresce no mundo. Com a atuação agressiva de três novos competidores - a chinesa Comac, a United Aircraft russa e da japonesa Mitsubishi, além da Airbus Bombardier e Lockheed Martin, a Boeing quer fazer valer para si os dois fatores essenciais do capitalismo contemporâneo: escala e inovação tecnológica. Qualquer vantagem nesses dois aspectos, por menor que seja, conta na competição planetária em setores de ponta.

Mas a questão central não se resume a isso. Envolve tecnologia e know how militar desenvolvidos pelos engenheiros da Embraer desde 1969. Tecnologia e ciência são intangíveis ou semi-intangíveis mais valorizados no mundo de hoje. Há também fatores de soberania nacional em jogo, mas a Boeing garante que segredos militares serão preservados (não é piada; é sério). Em outras palavras: só os americanos teriam acesso.

Agora (ou desde sempre) já se sabe que o interesse é grande na área de jatinhos executivos e na produção de aviões militares. Desde sua criação pelos militares em 1969, a empresa participa de vários projetos no campo da defesa e seu setor de aviação militar é reconhecido como o de maior inovação tecnológica.

É prudente lembrar que, no dia 19 de julho, o Ministério da Fazenda solicitou consulta ao Tribunal de Contas da União sobre a possibilidade de abrir mão das ações golden share da Embraer, Vale e IRB-Brasil Resseguros. Que confere poder de veto em questões como venda, programas militares e acesso à tecnologia.

Os defensores do Free Market Society argumentam, usando o sempre generoso espaço de nossa grande mídia ‘isenta’, pra sair em defesa da união das duas empresas, que a Embraer é subvencionada pelo Estado. Segundo eles, boa parte dos componentes das aeronaves é fabricada fora do país (principalmente nos EUA) e que o contribuinte brasileiro, via BNDES, estaria financiando empregos por lá, ao financiar aviões montados aqui e vendidos para aquele país. Desta forma, a união com uma empresa robusta dispensaria a Embraer de financiamentos estatais do Brasil.

Quando interessa, os neoliberais defendem com ardor a integração do Brasil na cadeia produtiva global. Quando uma empresa brasileira emerge nesse sistema com certa autonomia, tal gente veste a máscara da proteção ao contribuinte brasileiro: é o nacionalismo de conveniência às avessas, cujo efeito é uma levantada de bola pra turma do Norte cortar.

 
 
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