No ato, que durou
hora e meia, os
empregados
questionaram
pronunciamento do
presidente Michel
Temer, feito no
sábado passado,
segundo o qual a
presidente Maria
Silvia Bastos
Marques, por ele
indicada, teria
moralizado o BNDES e
colocado "ordem na
casa". No sábado
mesmo, a AFBNDES
rebateu Temer em
rede social: "Sobre
o pronunciamento de
hoje (20), a
Associação dos
Funcionários do
BNDES quer destacar
que a presidente do
Banco, Maria Silvia
Bastos Marques, não
poderia ter
‘morali-zado’ o
BNDES porque não se
‘moraliza’ uma
instituição que,
desde a sua
fundação, em 1952,
sempre atuou com
ética, espírito
público, excelência
e compromisso com o
desenvolvimento".
Na manhã de
segunda-feira, o
presidente da AF,
Thiago Mitidieri,
ratificou esta
posição: "Quando
Temer diz que houve
a moralização do
BNDES, é preciso
perguntar: o que ele
está querendo dizer
com isso? Não há
motivos para que se
faça uma moralização
no BNDES. E se há
alguma instituição
no Brasil que
necessite ser
moralizada, não é o
Temer quem tem
condições para fazer
isto. Até porque na
mesma delação em que
Joesley Batista, da
JBS, diz que não
pagou propina para
funcionários do
Banco, ele afirma
que pagou propina
para o presidente da
República".
Críticas ao
Fantástico –
A manifestação de
segunda-feira já
estava convocada
pela AFBNDES quando
veio ao ar no
domingo à noite, no
programa Fantástico,
da Rede Globo,
reportagem com o
objetivo de atacar a
imagem do Banco e de
seu corpo funcional.
De forma leviana, o
programa garantiu
revelar um novo
personagem na
"controversa
expansão da JBS com
incentivos públicos"
– em referência a
José Cláudio Rego
Aranha, ex-chefe na
área de mercado de
capitais do Banco,
hoje aposentado,
acusando-o, de forma
irresponsável, de
"agente duplo,
suspeito de
favorecer o grupo
JBS em negócios
milionários".
Durante o ato de
segunda-feira,
transmitido ao vivo
na página da
Associação no
Facebook e coberto
por jornalistas do
Valor Econômico e da
Folha de S. Paulo,
dirigentes da
AFBNDES, do
Sindicato dos
Bancários do Rio e
inúmeros empregados
do Banco se
revezaram ao
microfone, cobrando
posição firme da
atual administração
do Sistema BNDES na
defesa da
instituição e de
seus funcionários,
"que são os mais
interessados em que
se esclareça tudo,
porque é o nome
deles que está sendo
jogado na lama",
como disse
Mitidieri. Os
funcionários
insistiram,
inclusive, que o
Banco deveria exigir
direito de resposta
à emissora dos
irmãos Marinho.
Na fala que abriu a
manifestação, o
presidente da
AFBNDES bateu forte
na reportagem do
Fantástico: "Aquilo
foi um absurdo. A
Rede Globo foi na
casa do Aranha sem
se identificar,
começou a fazer um
monte de perguntas e
depois fez aquela
edição, colocando o
colega, que é
conselheiro de uma
empresa por
indicação do BNDES,
como agente duplo.
Pelo amor de Deus!
Quantos funcionários
do BNDES são
conselheiros de
empresas por
indicação do Banco?
Então todos esses
colegas são agentes
duplos por conta
disso? Por que não
foi apresentada
alguma prova que
incriminasse o
Aranha? Não foi dito
nada que desabonasse
a conduta dele. Não
se pode pegar uma
pessoa,
criminalizá-la e
colocar seu nome e
sua imagem numa rede
de televisão da
forma como foi
feito. Todo mundo
aqui tem que se
colocar no lugar do
colega e refletir:
isso podia ter
acontecido comigo!"
Cobrança à
direção do BNDES –
Thiago
Mitidieri, entre
outros empregados,
cobrou da direção do
BNDES uma posição
firme e contundente
em defesa do Banco e
dos empregados – e
com a maior
transparência
possível: "Onde
estão os
esclarecimentos
sobre a operação JBS?
Nós já perguntamos à
atual Diretoria do
Banco sobre a
legalidade da
operação. E a
resposta foi de que
não houve nada
ilegal. Então a
Diretoria precisa
vir a público
esclarecer isto. É o
nosso nome que está
sendo jogado na
lama, a nossa
reputação, a nossa
imagem".
Para o presidente da
Associação, também é
necessário
esclarecer a
política de
conselheiros
indicados pelo
BNDES: "É preciso
mostrar que não foi
feito nada de
ilegal, que tudo
estava dentro das
normas, com o
conhecimento da CVM,
do Banco Central e
de órgãos
reguladores. Tudo
isso precisa ser
feito de forma
transparente. Que
história é essa de
agente duplo?".
Mitidieri chamou
atenção para a
necessidade de
informações sobre a
operação da JBS: "A
gente sabe que a
Diretoria criou um
comitê de crise e
uma comissão de
apuração interna,
mas tudo precisa ser
feito com urgência.
É preciso dar
explicações ao
público interno e à
sociedade".
Outra coisa que
precisa ser
esclarecida –
segundo o dirigente
da Associação – é o
seguinte: "Na
delação do Joesley,
ele fala que
conversou com Temer
para que ele
interviesse junto à
Maria Silvia para
poder aprovar a
reorganização
societária da JBS.
Nós sabemos que o
BNDES não aceitou
isso. Sabemos que o
corpo funcional foi
contra essa
proposta. Agora, o
que a presidente do
BNDES tem a dizer a
respeito? O nome
dela é que foi
citado".
Esclarecimentos
necessários –
Para o 1º
vice-presidente da
AFBNDES, José
Eduardo Pessoa de
Andrade, vivemos uma
crise muito séria
que pode desembocar
na saída do
presidente da
República. "E nós,
queiramos ou não,
estamos envolvidos
nessa crise
política, com o
presidente
desqualificando, de
forma inaceitável,
uma das instituições
mais importantes do
Estado brasileiro,
que é o BNDES". José
Eduardo avalia que é
preciso agir com
firmeza e
inteligência: "É
necessário, desta
forma, que haja um
esclarecimento
interno sobre a
operação da JBS para
que a gente possa
defender a lisura da
nossa instituição
com conhecimento de
causa. Nós sabemos,
mas a população não
sabe, que nossas
decisões são tomadas
de forma coletiva,
que há um trabalho
técnico envolvido,
que existem normas
para enquadramento,
que os relatórios
são feitos por
equipes de técnicos,
que há uma
hierarquia de
decisões de órgãos
colegiados etc.
Então, nós
precisamos cobrar da
Administração uma
apresentação sobre a
operação da JBS. E
que nessa
apresentação se abra
espaço para nossos
questionamentos,
para as nossas
dúvidas diante de
tudo o que vem sendo
veiculado sobre o
tema".
O vice-presidente
considera
fundamental, ainda,
que tal
esclarecimento
também seja dirigido
à imprensa, de forma
a combater coisas
que têm sido
divulgadas de forma
irresponsável,
ilegítima e
mentirosa.
Abraço de afogado –
Segundo Arthur
Koblitz, 2º
vice-presidente da
AFBNDES, nós
assistimos, no
último sábado, à
presidente Maria
Sílvia receber o
abraço do maior
afogado do Brasil:
"Quem gostaria aqui
de ter sido citado
no pronunciamento do
presidente Temer?
Ela foi lembrada
como uma pessoa que
está tentando
‘moralizar’ o BNDES.
Poderia ter sido só
azar, mas há, no meu
modo de ver, um
padrão nesse
discurso. Na
primeira vez em que
surgiram notícias de
que a presidente
poderia perder o
cargo no Banco, ela
foi defendida pelo
site O Antagonista,
que decretou: ‘A
presidente Maria
Silvia é honesta
demais para o
BNDES’. Há alguns
dias, quando
estávamos envolvidos
no episódio da
condução coercitiva
de empregados do
Banco para depor na
Polícia Federal, o
ministro Meirelles
afirmou: ‘A Maria
Silvia não pode ser
envolvida em coisas
que aconteceram
antes de sua gestão
no BNDES’. E agora a
gente vê O Globo
informar que ‘essas
regras absurdas’ de
nomeação para os
conselhos de
administração das
empresas valiam
antes da atual
gestão do BNDES.
Esta gestão,
portanto, estaria
‘moralizando’ o
Banco... Eu vejo um
padrão nisso. Não
acho que seja uma
coisa aleatória".
Segundo Koblitz,
internamente há um
discurso semelhante.
"Desde que assumimos
e começaram os
ataques de ministros
do TCU ao BNDES,
procuramos a
Diretoria e
cobramos: queremos
uma reação forte.
Nos foi dito que
isto não era
possível porque o
TCU era um órgão
sensível a
manifestações muito
contundentes. Um ano
depois, o que
ocorreu? Nossos
colegas foram
conduzidos
coercitivamente.
Essa estratégia
funcionou? Está
funcionando? Fica,
cada vez mais claro,
que eles não irão
nos defender. Nós
estamos revoltados
com tudo isto. Nós
estamos indignados.
E nós queremos uma
Diretoria que
expresse esta
revolta, esta
indignação. Só assim
poderemos enfrentar
uma onda claramente
política levantada
contra o BNDES",
afirmou.
Segundo ele, a atual
direção da AFBNDES
não foi eleita para
fazer oposição à
gestão da presidente
Maria Silvia. "Nós
fomos eleitos
durante a gestão
Luciano Coutinho. E
nós achávamos que
havia muita coisa
problemática no
Banco. Não coisas
ilegais, não essas
corrupções que estão
insinuando. A gente
achava que tinha
muita coisa para
mudar. Faltava
engajamento, debate
de ideias e a gente
queria trabalhar
para promover isto.
Não temos mandato
algum para defender
Luciano Coutinho ou
o governo do PT,
porque não é isto o
que está em questão.
O que está em jogo é
esta instituição. E
tudo está
relacionado: a
defesa ética do
Banco, a defesa da
TJLP e a crítica à
devolução dos R$ 100
bi. Temos que lutar
pelo Banco em todas
essas frentes",
defendeu.
"Tem gente que acusa
esta luta de ser
corporativista, mas
isto não é verdade,
porque as pessoas
que estão aqui não
estão preocupadas
com seus cargos.
Quem está aqui está
movido por uma coisa
maior, está movido
por um ideal, porque
estabeleceu uma
relação mais
profunda com esta
instituição. É isto
o que nos une, é
isto o que nos
move".