Opinião

Edição nº1548 – sexta-feira, 23 de junho de 2023

Um conto num aniversário, por uma retirante paraense

Thaís da Silva Freire – Advogada do BNDES

Nesse meu aniversário de 20 anos de BNDES e de 71 anos dessa instituição da qual tenho orgulho de pertencer, quantas lembranças vêm à tona. Pois bem, como boa advogada que gosta de escrever, vou contar um conto, já que minhas jornadas no BNDES e no Rio de Janeiro estão na mesma página da minha vida.

No outono de 2003, cá chegava eu em terras cariocas. A garotinha tímida que se escondeu atrás dos estudos desde criança, que não viu Chaves e Star Wars – dizem os amigos “porque estava estudando” –, que tinha o apelido de “munhequinha de ouro”, Velma (do Scooby-Doo), Donatello (a Tartaruga Ninja) ou qualquer outro personagem anos 80 que fosse o mais inteligente do grupo, manteve a sua saga e foi aprovada no concurso para o Banco, graças aos valores, orientações e educação que sua mãe querida proporcionou, em meio ao enorme esforço e dedicação de criar três meninas sozinha e a quem ela tem profunda gratidão.

No meio da indecisão, sem certeza nenhuma, decidiu assumir o cargo e ouvir o sábio conselho de uma amiga conterrânea, hoje benedense aposentada, Maria de Fátima de Queiroz, que dizia: “Tu tens que ir nem que seja para dizer que não gostaste e retornares”. E eis, então, que, em meados de 2003, cá chegara ela, uma retirante paraense, encantada com a beleza do Rio de Janeiro, naquele domingo ensolarado em que pousara pela primeira vez no Santos Dumont, deslumbrada com a esplêndida paisagem natural composta por mar, pedra e verde, em meio a uma cidade urbanizada um tanto descontraída para os padrões nortistas, em que as pessoas andavam de roupa de banho e chinelas nas calçadas.

Mas ela ficou um pouco ressabiada, ante as notícias de balas perdidas e arrastões que chegavam no Norte e, também, ficou um pouco assustada com o turbilhão do vai e vem do trabalhador carioca, com a velocidade dos transeuntes, nas calçadas, no metrô, nas ruas, que não paravam para se olhar, que ficavam chateados se, com um passo mais lento, você atrapalhasse a correria, como diz Gilberto Gil em Lamento Sertanejo, sentindo-se “como rês desgarrada nessa multidão boiada caminhando a esmo”. 

Sim, foi um choque cultural. E nem a cidade maravilhosa foi capaz de a livrar, nos primeiros anos, da melancolia que sobre ela se abatera, ante a solidão e a hospitalidade carioca que passava ao largo do que se poderia considerar de fato uma hospitalidade à moda paraense. Meus amigos cariocas que me perdoem, mas para conquistar seus corações tem que ralar um pouquinho.

Enfim, cheguei ao BNDES e a primeira lembrança sentimental de acolhimento que tive foi o jardim do Banco. Por ele entrei na Casa. Tão magnífica obra de Burle Marx parecia um tapete vermelho (ou melhor, verde) estendendo-se à minha frente como num gesto de boas-vindas e até hoje não passo por ele incólume, eis que sempre o vejo como que pela primeira vez, encantada com sua beleza.

Mas me lembro, também, hoje com menos chateação e mais comicidade, das observações impactantes do funcionário da xerox (naquela época ainda existia), que, ao se deparar com meu diploma da Universidade da Amazônia, perguntou-me se a universidade ficava no meio da floresta; ou dos comentários sobre meu sotaque e regionalismos, que uma vez ou outra me faziam pedir ao colega que consultasse o Aurélio (o dicionário) para lhe provar que a palavra existia e que aquilo não era um erro de português. Mais uma vez, meus amigos cariocas que me perdoem, mas tive que quebrar em muitas ocasiões a empáfia sudestina e dava uma esnobada lembrando que minha conjugação verbal correta na segunda pessoa me fazia merecedora de respeito por respeitar a língua mais do que vocês.

Pequenos espantos à parte, de uma minoria, o fato é que o Banco e o Rio de Janeiro me deram e têm me dado muitas preciosidades, amigos que fiz, pessoas maravilhosas que conheci, meu filho, o mar, meus esportes, música boa, amor e uma cidade maravilhosa que reconheço a cada dia e que aprendi a amar, apesar dos problemas que carrega, ainda admirada de sua beleza, como naquele domingo de outono de 2003 em que, pela primeira vez, pisava em terras cariocas.

Muito feliz de completar 20 anos num Banco que tem como propósito o desenvolvimento econômico, social e ambiental do Brasil, um lugar onde podemos sonhar em fazer um país melhor, mais digno e menos desigual para a imensa massa de marginalizados, numa sociedade que só vai dar certo se resolvermos os dilemas que giram em torno do espectro da indignidade e da naturalização da desigualdade.

Viva o BNDES! Gratidão!

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