Nesse meu
aniversário de
20 anos de BNDES
e de 71 anos
dessa
instituição da
qual tenho
orgulho de
pertencer,
quantas
lembranças vêm à
tona. Pois bem,
como boa
advogada que
gosta de
escrever, vou
contar um conto,
já que minhas
jornadas
no BNDES e no
Rio de Janeiro
estão na mesma
página da minha
vida.
No outono de 2003,
cá chegava eu em
terras cariocas.
A garotinha
tímida que se
escondeu atrás
dos estudos
desde criança,
que não viu
Chaves e Star
Wars – dizem os
amigos “porque
estava
estudando” –,
que tinha o
apelido de
“munhequinha de
ouro”, Velma (do
Scooby-Doo),
Donatello (a
Tartaruga Ninja)
ou qualquer
outro personagem
anos 80 que
fosse o mais
inteligente do
grupo, manteve a
sua saga e foi
aprovada no
concurso
para o
Banco, graças
aos valores,
orientações e
educação que sua
mãe querida
proporcionou, em
meio ao enorme
esforço e
dedicação de
criar três
meninas sozinha
e a quem ela tem
profunda
gratidão.
No meio da
indecisão, sem
certeza nenhuma,
decidiu assumir
o cargo e ouvir
o sábio conselho
de uma amiga
conterrânea,
hoje benedense
aposentada,
Maria de Fátima
de Queiroz, que
dizia: “Tu
tens que ir nem
que seja para
dizer que não
gostaste e
retornares”. E
eis, então, que,
em meados de
2003, cá chegara
ela, uma
retirante
paraense,
encantada com a
beleza do Rio de
Janeiro, naquele
domingo
ensolarado em
que pousara pela
primeira vez no
Santos Dumont,
deslumbrada com
a esplêndida
paisagem natural
composta por
mar, pedra e
verde, em meio a
uma cidade
urbanizada um
tanto
descontraída
para os padrões
nortistas, em
que as pessoas
andavam de roupa
de banho e
chinelas nas
calçadas.
Mas ela ficou um
pouco
ressabiada, ante
as notícias de
balas perdidas e
arrastões que
chegavam no
Norte e, também,
ficou um pouco
assustada com o
turbilhão do
vai e vem
do trabalhador
carioca, com a
velocidade dos
transeuntes, nas
calçadas, no
metrô, nas ruas,
que não paravam
para se olhar,
que
ficavam
chateados se,
com um passo
mais
lento, você
atrapalhasse a
correria, como
diz Gilberto Gil
em
“Lamento
Sertanejo”,
sentindo-se
“como rês
desgarrada nessa
multidão boiada
caminhando a
esmo”.
Sim, foi um
choque cultural.
E nem a cidade
maravilhosa foi
capaz de a
livrar, nos
primeiros anos,
da melancolia
que sobre ela se
abatera, ante a
solidão e a
hospitalidade
carioca que
passava ao largo
do que se
poderia
considerar de
fato uma
hospitalidade à
moda paraense.
Meus amigos
cariocas que me
perdoem, mas
para conquistar
seus
corações tem
que ralar um
pouquinho.
Enfim, cheguei
ao BNDES e a
primeira
lembrança
sentimental de
acolhimento que
tive foi o
jardim do Banco.
Por ele entrei
na Casa. Tão
magnífica obra
de Burle Marx
parecia um
tapete vermelho
(ou melhor,
verde)
estendendo-se à
minha frente
como num gesto
de boas-vindas e
até hoje não
passo por ele
incólume, eis
que sempre o
vejo como que
pela primeira
vez, encantada
com sua beleza.
Mas me lembro,
também, hoje com
menos chateação
e mais
comicidade, das
observações
impactantes do
funcionário da
xerox (naquela
época ainda
existia), que,
ao se deparar
com meu diploma
da Universidade
da Amazônia,
perguntou-me se
a universidade
ficava no meio
da floresta; ou
dos comentários
sobre meu
sotaque e
regionalismos,
que uma vez ou
outra me faziam
pedir ao colega
que consultasse
o Aurélio (o
dicionário)
para
lhe provar que a
palavra existia
e que aquilo não
era um erro de
português. Mais
uma vez, meus
amigos cariocas
que me perdoem,
mas tive que
quebrar em
muitas ocasiões
a empáfia
sudestina e dava
uma esnobada
lembrando que
minha conjugação
verbal correta
na segunda
pessoa me fazia
merecedora
de respeito por
respeitar
a língua mais do
que vocês.
Pequenos
espantos à
parte, de uma
minoria, o fato
é que o Banco e
o Rio de Janeiro
me deram e têm
me dado muitas
preciosidades,
amigos que fiz,
pessoas
maravilhosas que
conheci, meu
filho, o mar,
meus esportes,
música boa, amor
e uma cidade
maravilhosa que
reconheço a cada
dia e que
aprendi a amar,
apesar dos
problemas que
carrega, ainda
admirada de sua
beleza, como
naquele domingo
de outono de
2003 em que,
pela primeira
vez, pisava em
terras cariocas.
Muito feliz de
completar 20
anos num Banco
que tem como
propósito o
desenvolvimento
econômico,
social e
ambiental do
Brasil, um lugar
onde podemos
sonhar em fazer
um país melhor,
mais digno e
menos desigual
para a imensa
massa de
marginalizados,
numa sociedade
que só vai dar
certo se
resolvermos os
dilemas que
giram em torno
do espectro da
indignidade e da
naturalização da
desigualdade.
Viva o BNDES!
Gratidão!