Movimento

Edição nº1548 – sexta-feira, 23 de junho de 2023

Trabalhadores, empresários e governo criticam decisão que mantém juros altos

O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central voltou a ignorar a pressão da sociedade pela redução dos juros e manteve na quarta-feira (21) a taxa básica (Selic) em 13,75% ao ano, sem sinalizar um corte à frente. Em comunicado, a autoridade disse que o cenário demanda "cautela e parcimônia", ressaltando ser necessário "paciência e serenidade".

A Central Única dos Trabalhadores (CUT), a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e um grupo de 51 integrantes do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável da Presidência da República, dentre eles a empresária Luiza Heleno Trajano, escreveram notas pedindo a redução na taxa de juros. Os documentos da Fiesp e dos membros do Conselhão foram divulgados antes do anúncio da manutenção da Selic em 13,75%, já a CUT publicou nota após o comunicado do Copom.

"É hora de baixar os juros para retomar a atividade econômica, gerar emprego e renda. É urgente uma política monetária adequada", dizia o texto capitaneado pela empresária do Magazine Luiza. “Por conta disso, integrantes do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável, o Conselhão, representando empresários, trabalhadores e sociedade civil, somam suas vozes para manifestar sua preocupação com a necessidade de o Copom iniciar o processo de redução da taxa de juros, sem o qual o Brasil não poderá voltar a crescer”, acrescenta o texto.  

Fiesp – “Depois de dez meses com a Selic estacionada em 13,75%, tendo a inflação recuado 7,95 pontos percentuais em 12 meses até maio, este é um momento crucial para a autoridade monetária decidir pelo início do ciclo de baixa da taxa de referência, dando fôlego à economia. Nada justifica o Brasil seguir com o título de campeão mundial de juros reais”, apelou a Fiesp. (Veja nota abaixo).

“O remédio amargo, adotado em condições excepcionais para conter um movimento altista de preços, é um veneno para a atual realidade econômica de descompressão inflacionária, com demanda fraca, câmbio em queda e a expectativa de contas públicas controladas, graças, inclusive, ao novo regime fiscal em fase final de tramitação no Congresso”, continuou a Federação das Indústria do Estado de S. Paulo.

A CUT, por sua vez, disse que a decisão do Copom de manter a taxa básica de juros, a Selic, “em extorsivos 13,75%, mesmo diante de um cenário de queda da inflação e melhoria dos indicadores macroeconômicos, é um atentado ao esforço do governo para a reconstrução do Brasil”.

“Não há por que manter a taxa de juros nesse patamar elevado. A inflação está sob controle, a valorização do real perante o dólar é uma realidade, o governo atua em todas as frentes para reconstruir o Brasil, mas o Banco Central tem agido como um poder à parte, na contramão da vontade da maioria da população e dos poderes constitucionais e das reais necessidades de um país em reconstrução”, ressaltou a Central, que defende a retirada de Roberto Campos Neto da presidência do BC. (Confira íntegra da nota abaixo).

Boicote – A equipe econômica também reagiu mal à decisão do Copom e interpretou o comunicado como um "boicote" ao governo Lula, que tem cobrado o corte na Selic para estimular a atividade econômica.

Segundo a Folha de S. Paulo, um dos pontos que causou indignação é o trecho do comunicado do Copom que cita "alguma incerteza residual sobre o desenho final do arcabouço fiscal", apesar de a proposta ter sido aprovada na quarta-feira (21) pelo Senado Federal com poucas mudanças. Embora a decisão do BC tenha sido divulgada antes da votação, lembra o jornal, o texto do parecer já era conhecido desde a terça-feira (20).

“Havia uma expectativa da equipe econômica de que o Banco Central adotasse uma mensagem mais suave no documento, abrindo a porta para uma possível flexibilização da política monetária já no mês de agosto – o que foi frustrado pelo texto divulgado pela autoridade monetária”, destaca a Folha.

O ministro Fernando Haddad, que está acompanhando o presidente Lula em viagem à Europa, disse que o comunicado do Copom foi “muito ruim” e que o BC está contratando um problema. “Nós estamos contratando um problema com essa taxa de juros. É isso que essa decisão significa. Está contratando inflação futura e aumento da carga tributária futura (...). Há um descompasso entre o que está acontecendo com o dólar, com a curva de juros, com a atividade econômica”. 

Lula – Ainda repercutindo a decisão do Copom, o presidente Lula, em coletiva de imprensa concedida ontem (22) em Roma, disse que o presidente do BC, Roberto Campos Neto, joga contra a economia brasileira e que deve ser cobrado pelo Senado, que tem poder para avalizar uma mudança no comando da instituição. "Eu acho que esse cidadão joga contra a economia brasileira. Não existe explicação aceitável para que a taxa de juros esteja em 13,75%. Não temos inflação de demanda no Brasil", afirmou Lula.

"É irracional o que está acontecendo no Brasil. Você tem uma taxa de juros de 13,75% com inflação de 5%, ou seja, cada vez que reduz meio ponto a inflação, aumenta o juro real no país. Não é possível tomar dinheiro emprestado para pagar 14% ao ano, às vezes 18% ao ano", acrescentou. 

Nota da CUT

Senado precisa agir: o Brasil está sendo boicotado

“A decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central de manter a taxa básica de juros, a Selic, em extorsivos 13,75%, mesmo diante de um cenário de queda da inflação e melhoria dos indicadores macroeconômicos, é um atentado ao esforço do governo para a reconstrução do Brasil.

A autonomia do Banco Central e a manutenção de Roberto Campos Neto, um agente do então governo Bolsonaro, como presidente dessa instituição essencial à regulação macroeconômica, beneficiam a minoria de especuladores e rentistas, em prejuízo da classe trabalhadora, quem produz, comercializa, presta serviços, enfim, da maioria da população, que não aguenta as altas taxas de juros praticadas do Brasil.

A manutenção da taxa Selic obriga o governo a gastar mais na negociação dos títulos públicos federais. Mantê-la alta, desnecessariamente, prejudica o investimento produtivo e a geração de emprego e renda. Faz o governo gastar bilhões com juros e ficar com menos recursos para investir em saúde, educação, desenvolvimento científico, moradia, obras e fomentar o investimento produtivo.

Os investidores, por sua vez, preferem a especulação, com a qual conseguem ganhar muito fazendo pouco, e deixam de investir na produção, comércio e serviços, ou seja, impedem o país de gerar empregos.

As altas taxas de juros aumentam os preços, encarecem os empréstimos e empurram o consumo para baixo. Reduzem a capacidade de consumo, enfraquecem o comércio e paralisam a produção, impactando negativamente nos empregos.

Não há por que manter a taxa de juros nesse patamar elevado. A inflação está sob controle, a valorização do real perante o dólar é uma realidade, o governo atua em todas as frentes para reconstruir o Brasil, mas o Banco Central tem agido como um poder à parte, na contramão da vontade da maioria da população e dos poderes constitucionais e das reais necessidades de um país em reconstrução.

A CUT em unidade com as demais Centrais Sindicais foram para as portas do Banco Central, em capitais em todo o país, nesta quarta-feira (20), denunciar os juros extorsivos e pressionar pela redução da taxa. Com a injustificável e inaceitável manutenção da Selic, a pressão agora será sobre o Senado, para que retire da presidência do Banco Central um homem que, deliberadamente, prejudica o Brasil, que faz oposição ao governo a partir de uma instituição essencial para o crescimento econômico sustentável do país, com geração de emprego e renda.

A lei de autonomia do BC, definida pela Lei Complementar nº 179/2021, prevê que o presidente do Banco Central pode ser substituído se for considerado inapto para cumprir com os objetivos do BC ou se renunciar. Em caso de demissão, é necessário o aval do Senado Federal. Campos Neto tem se mostrado inapto, o que exige ação do Senado.

A Central Única dos Trabalhadores manifesta, mais uma vez, seu veemente repúdio a essa postura inaceitável do Banco Central e conclama toda a sua base, todas as organizações da sociedade brasileira e poderes constituídos para que solicitem que o Senado Federal tome as medidas cabíveis para retirar da presidência do BC um inimigo do Brasil”.

Nota da Fiesp

Momento é crucial para o Banco Central iniciar ciclo de baixa da Selic

“Nesta quarta-feira (21/6), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anuncia a taxa de juro básica Selic. Depois de dez meses com a Selic estacionada em 13,75%, tendo a inflação recuado 7,95 pontos percentuais em 12 meses até maio, este é um momento crucial para a autoridade monetária decidir pelo início do ciclo de baixa da taxa de referência, dando fôlego à economia. Nada justifica o Brasil seguir com o título de campeão mundial de juros reais.

O remédio amargo, adotado em condições excepcionais para conter um movimento altista de preços, é um veneno para a atual realidade econômica de descompressão inflacionária, com demanda fraca, câmbio em queda e a expectativa de contas públicas controladas, graças, inclusive, ao novo regime fiscal em fase final de tramitação no Congresso.

A realidade está exposta pelos próprios índices de preços IPCA e IGP-M: eles indicam uma economia em franco processo de desaquecimento e mesmo deflação. Juros altos despropositados empobrecem o país. Famílias e empresas estão endividadas e o crédito está caro e escasso. Esse ambiente hostil compromete o futuro do Brasil.

Embora o desempenho do Produto Interno Bruto no primeiro trimestre tenha sido uma boa surpresa, a concentração desse resultado em um único segmento, a agropecuária, distorce a compreensão da situação da economia. O setor de serviços teve atuação fraca, a construção civil recuou pelo segundo trimestre, a taxa de investimento caiu. A indústria de transformação amargou a terceira retração seguida – a sétima nos últimos dez trimestres.

Inflação estável, com política monetária adequada, é condição para o crescimento econômico fluir conforme o anseio geral. A dinâmica inflacionária está contida. Resta acertar a política monetária, até para termos tranquilidade para darmos atenção aos demais problemas que impedem o desenvolvimento pleno do país”.

Leia também...

Copom mantém política restritiva ao desenvolvimento do país com Selic em 13,75% Contraf-CUT

Sabotagem: Campos Neto não baixa os juros e mantém Selic em 13,75% Sindicato dos Bancários do Rio 

 

Institucional

Nota Técnica do Dieese sobre o Arcabouço Fiscal

Institucional

O Brasil no século XXI e seu desempenho macroeconômico

Opinião

Um conto num aniversário, por uma retirante paraense, por Thaís da Silva Freire

Opinião

71, por Paulo Moreira Franco

Opinião

Charge de Nelson Tucci

 
 

EDIÇÕES ANTERIORES

(a partir de 2002)

INSTITUCIONAL

“Não há explicação técnica para Selic alta”, diz professor da UFF

O economista e professor da Faculdade de Economia da Universidade Federal Fluminense (UFF), Victor Araujo, analisou, em entrevista ao Programa Faixa Livre (22/6), a manutenção da taxa básica de juros (Selic) em 13,75% pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central. Para ele, não há motivos econômicos, apenas políticos, para a decisão do BC. Ele também comentou a aprovação do novo arcabouço fiscal pelo Senado.

Para acessar o vídeo, clique aqui.