Num sábado de
sol, típico de
um verão tardio
que insiste em
fixar residência
no Rio de
Janeiro, nos
reunimos para
fazer um
circuito
histórico.
Caminhamos por
ruas antigas da
região portuária
da cidade
“maravilhosa”
para conhecer um
pouco mais sobre
a história dos
nossos
antepassados e
sobre nós
mesmos. Somos
parte de um
grupo de
benedenses
refletindo sobre
a diversidade
étnico-racial
dentro e fora da
Casa.
Vivenciar a
experiência do
Circuito
Histórico da
Pequena África
foi um evento
importante de
conexão e
fortalecimento
entre pessoas
que se conheciam
pouco, mas que
carregam
trajetórias de
muita luta,
preconceito e
superação. No
Circuito,
percorremos os
caminhos
tortuosos
seguidos por
nossos
antepassados ao
chegarem nas
terras
brasileiras e
relembramos as
violências
enfrentadas por
eles em vida e
após a morte,
quando seus
corpos eram
descartados como
objetos. Tivemos
a oportunidade
de refletir
sobre como as
agressões a que
eles foram
expostos há
alguns séculos
ainda impactam
na vida dos seus
descendentes e
deixam as suas
marcas
atualmente.
O retorno a esse
período sombrio
nos fez pensar
sobre como o
passado e o
presente estão
intrinsecamente
ligados, já que
ainda hoje
encontramos
pessoas negras
vivendo nas
ruas, expostas à
violência e à
fome,
abandonadas à
própria sorte e
sujeitas a uma
cultura
escravista nas
relações
cotidianas. É
inevitável a
empatia e a
reflexão sobre
como vivem seus
descendentes na
atualidade e
como nosso país
precisa
trabalhar para
melhorar as
condições de
vida do povo
negro,
oferecendo
educação,
oportunidades e,
acima de tudo,
dignidade a
esses cidadãos
muitas vezes
invisíveis.
Especialmente,
como
funcionárias do
BNDES, nossos
corações vibram
e sentimos uma
enorme vontade
de trabalhar
para que essas
mudanças
efetivamente
ocorram. A
iniciativa do
presidente
Aloizio
Mercadante em
patrocinar a
criação de um
museu para
contar a
história do Cais
do Valongo
(principal porto
de entrada de
africanos
escravizados no
mundo), cujo
valor como
memória da
violência contra
a humanidade,
representada
pela escravidão,
é inestimável,
nos fez enxergar
com outros olhos
o Largo da
Prainha, onde os
negros
resistiam, se
comunicavam e
ajudavam uns aos
outros nas
fugas, a Igreja
de São Francisco
da Prainha, a
Escola Padre Dr.
Francisco da
Motta e a Pedra
do Sal – locais
históricos nos
quais o samba, a
resistência, a
criatividade e a
criação marcam
presença. Fomos
ao Jardim
Suspenso do
Valongo,
localizado no
Morro da
Conceição e
construído em
1906 na gestão
do prefeito
Pereira Passos,
que mostra como
“maquiaram” a
cidade para
tentar apagar
todo e qualquer
vestígio da
herança negra no
lugar conhecido
como Pequena
África. Mesmo
sabendo que, até
poucos anos
antes, logo
abaixo, nos
sobrados da Rua
Camerino,
africanos
escravizados
eram
comercializados,
objetificados e
desumanizados.
Durante o
percurso, também
conhecemos o
Armazém Docas
Dom Pedro II –
projetado pelo
engenheiro negro
André Rebouças e
erguido na
segunda metade
do século XIX, e
a Praça da
Harmonia.
Finalizamos o
circuito no
Cemitério Pretos
Novos, local
onde os restos
mortais de
dezenas de
milhares de
negros e negras
que – após
sequestrados e
separados de
suas famílias,
não resistiam à
longa travessia
e aos maus
tratos impostos
– eram
descartados,
queimados e
amontoados como
meros objetos,
sem qualquer
demonstração de
respeito ou
consideração às
suas memórias.
Percorrer esse
trajeto é uma
oportunidade
única de
conhecer a
história de
resistência
desse povo,
fortalecer as
responsabilidades
históricas e
reconhecer a
incomensurável
contribuição dos
africanos e seus
descendentes à
formação e ao
desenvolvimento
cultural,
econômico e
social do Brasil
e do continente
americano.
As situações
pelas quais já
passamos e ainda
enfrentamos como
pessoas negras
perpassam as
desigualdades
resultantes de
um legado de
escravidão e
racismo em nosso
país. Conhecemos
muito bem os
desafios e as
dores que
precisamos
enfrentar e
superar
diariamente.
Compreender a
história por
trás disso tudo
nos une e nos
faz reconhecer,
perceber e saber
quem realmente
somos. Temos o
direito de
resgatar a nossa
verdadeira
memória que, por
muito tempo,
permaneceu
apagada e foi
propositalmente
substituída por
uma visão
distorcida do
que realmente
aconteceu.
Assim, poderemos
aprender,
desenvolver e
multiplicar
saberes! É tempo
de trazer à tona
o que pode
fazer-nos sentir
verdadeiramente
parte dessa
sociedade,
compreendendo o
quanto o povo
negro contribuiu
e ainda
contribui para o
desenvolvimento
do nosso país e
que tudo isso
precisa ser
reconhecido.
Estamos num
momento de
autoconhecimento,
de valorização
da cultura, de
busca de
pertencimento,
de resgate e de
respeito!
Falar em
Circuito
Histórico pode
parecer que
estamos nos
restringindo ao
passado e ao
sofrimento
vivido pelos
negros
escravizados,
mas não! Estamos
tratando de
presente e
futuro! Ainda
vivenciamos esse
legado
escravagista e
racista
diariamente em
diversas
situações.
O racismo que
permeia a
sociedade passa
por questões
históricas, mas
há quem, ainda
hoje, tente
ocultá-lo
dizendo que ele
não existe ou é
apego ao
passado. Mas ele
é real e deve
ser enfrentado
com educação
antirracista
para toda e
qualquer pessoa,
independente das
inúmeras
diferenças e
características
pessoais. Falar
de racismo e
equidade racial
não é um assunto
de negros! É um
assunto de
todos! É urgente
evoluirmos em
aprendizados
sobre letramento
racial,
percebendo como
as relações
raciais refletem
nossa sociedade
e, assim,
trabalharmos
perspectivas
antirracistas em
todos os espaços
que convivemos.
Hoje,
encontramos no
BNDES um espaço
para o diálogo
nos campos da
diversidade, da
equidade e da
inclusão e nos
vemos motivados
a trabalhar em
busca de
resultados
positivos para o
Banco e para a
sociedade.
Honramos a luta
dos nossos
ancestrais,
reverenciamos o
seu legado e
estamos
preparados,
unidos e
dispostos a
seguir
contribuindo na
construção de um
futuro melhor e
mais justo para
todos os
brasileiros!
(*) Esse texto
reflete a
opinião de suas
autoras e não
necessariamente
do grupo que
participou do
Circuito.
► Leia também o
artigo
“Somos todos
racistas”,
de Rogerio Plank,
nesta edição do
VÍNCULO.