EDITORIAL

Edição nº1453 – sexta-feira, 6 de agosto de 2021

Alguns minutos antes do webinário de quinta-feira (5) sobre o plano de retorno ao trabalho presencial, tivemos uma reunião com o Subcomitê de Contingência do BNDES.  

Na reunião, discutimos em cima dos pontos que apresentamos no comunicado da AFBNDES encaminhado ontem aos empregados (ver sua reprodução aqui no VÍNCULO) e a respeito de algumas propostas da enquete da semana passada sobre o tema. Os superintendentes disseram o seguinte sobre os pontos do comunicado:

Que haviam incorporado a sugestão de que, caso a pandemia se encontre num estado em que não seja viável a ocupação do Edserj acima de 400, 500 pessoas, o Banco irá instituir rodízio ou escalonamento dos empregados. Tal proposta já seria parte do plano. 

Infelizmente, não houve menção a esse ponto durante o webinário, nem no documento “Perguntas e Respostas”. Não vimos nada registrado, escrito. Nossa sugestão: incluam essas informações numa versão revisada do documento.  

Sobre a vacinação, disseram que todos são favoráveis à obrigatoriedade da imunização, mas que isso deve ficar por conta da consciência cidadã dos empregados. Insistimos que não abriremos mão dessa exigência: não vacinados não podem ingressar no Edserj.  Reforçamos a sugestão presente no comunicado da AFBNDES de que nos reuníssemos para estipular quais seriam as consequências sobre os que se recusarem a vacinar. O superintendente da AJ não se mostrou fechado a essa possibilidade.

Descobrimos apenas na apresentação o quão será frouxo o mecanismo de controle da vacinação. Os empregados determinarão, por si mesmos, sua volta seguindo as instruções de imunização – retornando 15 ou 30 dias, a depender da vacina, após a última dose. Qualquer um que resolva voltar após a primeira dose poderá desta forma proceder, assim como os que resolverem não se vacinar.

Ou seja: vamos ter no Edserj a segurança que teremos no transporte público.  

O superintendente da AJ disse que antes de pensar em medidas proibitivas, eles preferiam tentar trabalhar no convencimento dos empregados sobre a importância da vacinação.

Decepção foi ver o que aconteceu minutos depois no webinário. Contra o que a prioridade no convencimento sugeria, assistimos ao silêncio do presidente do BNDES sobre a vacinação! Não fez menção à vacinação! E isso não foi tudo. O presidente aparecia no vídeo como se estivesse no BNDES e sem usar máscara! O sinal foi de clara, absoluta, adesão ao negacionismo. Ora, se o presidente do BNDES quisesse transmitir sua preocupação com a vacinação ou com protocolos de segurança, deveria estar disposto a enfatizar especialmente essas questões, uma vez que faz parte de um governo negacionista. Seria necessário que atuasse para desfazer a impressão de sua associação com as teses do clã Bolsonaro.

Longe disso, o presidente não mencionou protocolos, vacina, testagem. Preferiu atuar como um motivador ou animador de festa: “vamos celebrar!”, “somos latinos!”, “vamos encostar”... são apenas algumas joias presentes no seu discurso improvisado de ontem. Jair Bolsonaro não faria melhor. De todas as falas equivocadas de Montezano ao longo dos dois últimos anos, e a lista é grande, essa é sem sombra de dúvida a campeã. Nada poderia mostrar mais a sua completa alienação em relação à preocupação dos empregados do BNDES. Estávamos todos reunidos preocupados com nossa saúde e a de nossas famílias, todos querendo entender qual é a motivação desse repentino retorno presencial. Em que bolha vive Gustavo Montezano? Não há ninguém na diretoria, ou entre os superintendentes ou assessores, para lhe dar algum feedback sobre sua visão? Está absolutamente cercado de yes men? Ou será que isso revela um traço mais estrutural de personalidade, uma falta absoluta de noção, como diz a gíria carioca?  

Sobre a testagem para avaliar o sucesso dos protocolos adotados no Edserj, disseram em reunião que encomendaram da FAPES um estudo sobre se seria necessário e como seria implementado o sistema de testagem. Para nossa surpresa, o “Perguntas e Respostas” divulgado ontem, único documento sobre o “plano” de retorno, contém a seguinte informação:

“Cabe ressaltar, no entanto, que a FAPES não recomenda a realização rotineira de testagem para Covid-19 por meio de RT-PCR como condicionante de liberação ao trabalho presencial, dada a inviabilidade de tal medida”.  

Nos chocou completamente essa incongruência. Gostaríamos que a FAPES se manifestasse a respeito.  

Procuramos o superintendente da APEC, que garantiu que havia falado que essa tinha sido a resposta da FAPES na nossa reunião – é possível, a reunião foi muito corrida –, mas que o pedido por um novo estudo da FAPES decorreu da nossa ênfase no tema.  Nossa sugestão: incluam essas informações numa versão revisada do “Perguntas e Respostas”.

Aproveitando essa questão, achamos importante deixar claro para a administração: ficaríamos muito mais seguros se a FAPES tivesse tido um papel protagonista na formulação técnica de protocolos e de segurança para o retorno. As equipes médicas da Fundação contam com o apreço da Casa. Durante a pandemia, os elogios foram constantes.  Chama a atenção o fato de que a FAPES, acompanhando outras organizações públicas e privadas tão diferentes como IBGE, CVM e Itaú, não tenha determinado o retorno presencial de seus empregados! Mais: já criou uma metodologia de trabalho híbrido para ser implementada quando ocorrer o retorno! (Nossos cumprimentos à equipe de benedenses que dirige a FAPES. É a prova da excelência a que nos acostumamos no Banco! Parabéns!).

Finalmente, os colegas superintendentes do Subcomitê de Contingência garantiram que manterão reuniões periódicas com a AFBNDES, dando transparência às informações que utilizaram para avaliar o andamento da ocupação do Edserj e da pandemia.

Colegas dos escritórios de Recife, Brasília e São Paulo, nos desculpem se ainda não abordamos suas questões diretamente, mas estamos atentos e só não o fizemos ainda pela premência de retorno já anunciado de diversas atividades no Rio de Janeiro.

Para concluir esse longo editorial, tocamos no ponto mais importante e mais inacreditável do webinário de ontem: nenhuma palavra do presidente do BNDES sobre as razões para o retorno.

Por que o BNDES e seus empregados deveriam ser mobilizados dessa maneira, antecipando uma discussão como essa quando estamos operando bem do jeito que está? Como antecipar e programar esse retorno sem elaborar uma proposta de trabalho híbrido? Não é a “normalização” com o mercado que pretendem? Não estão assistindo todas as organizações importantes fazendo esse debate?

Do discurso incoerente apresentado ontem (“não teria sido bom elaborar o trabalho híbrido antes porque não teríamos a experiência que temos hoje, apesar do trabalho que tivemos até agora não ser remoto de verdade, e mesmo que fosse trabalho remoto é muito diferente de trabalho híbrido, então temos que voltar para o trabalho presencial para poder propor o trabalho híbrido etc. etc.), não se extrai nada. Seria melhor uma autocrítica sincera. Erramos. Voltamos ao presencial quando tivermos uma proposta de trabalho híbrido. Por que não? Mais dois ou três meses seriam mais do que suficientes. Não estamos falando de “Rocket Science”, como dizem os americanos.

O BNDES na sua organização, no seu tratamento de pessoal, era para servir de modelo para outros. Em que profundidade ignoram o que significa a empresa que dirigem!  

Dos comentários em grupos de WhatsApp, alguns nos sensibilizaram em especial. Comentários de colega mais velhos que estão próximos da aposentadoria.  

O tom era de desânimo, de melancolia. Comentários que emergem da lembrança da organização que viram brilhar e ser referência por décadas no país, e que agora se apresenta desse jeito, com esse grau de amadorismo, de improviso. Como o Banco chave do planejamento do país, ou mesmo o “banquinho de serviços” que Montezano tem em mente, pode apresentar um desempenho como o de ontem à noite?  

É o tom predominante em todo o país. Em outras épocas, o BNDES conseguiu se blindar do caos lá fora, vide a época da ditadura. Hoje estamos bem no meio do caos.

Hora de não perder a esperança, de cantar com Chico Buarque, que a idade das trevas passará: “Apesar de você amanhã há de ser outro dia”.

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