Alguns minutos antes
do webinário de quinta-feira (5) sobre o
plano de retorno ao trabalho presencial,
tivemos uma reunião com o Subcomitê de
Contingência do BNDES.
Na reunião, discutimos
em cima dos pontos que apresentamos no
comunicado da AFBNDES encaminhado ontem aos
empregados (ver sua
reprodução aqui no VÍNCULO)
e a respeito de algumas propostas da enquete
da semana passada sobre o tema. Os
superintendentes disseram o seguinte sobre
os pontos do comunicado:
Que haviam incorporado
a sugestão de que, caso a pandemia se
encontre num estado em que não seja viável a
ocupação do Edserj acima de 400, 500
pessoas, o Banco irá instituir rodízio ou
escalonamento dos empregados. Tal proposta
já seria parte do plano.
Infelizmente, não
houve menção a esse ponto durante o
webinário, nem no documento “Perguntas e
Respostas”. Não vimos nada registrado,
escrito. Nossa sugestão: incluam essas
informações numa versão revisada do
documento.
Sobre a vacinação,
disseram que todos são favoráveis à
obrigatoriedade da imunização, mas que isso
deve ficar por conta da consciência cidadã
dos empregados. Insistimos que não abriremos
mão dessa exigência: não vacinados não podem
ingressar no Edserj. Reforçamos a sugestão
presente no comunicado da AFBNDES de que nos
reuníssemos para estipular quais seriam as
consequências sobre os que se recusarem a
vacinar. O superintendente da AJ não se
mostrou fechado a essa possibilidade.
Descobrimos apenas na
apresentação o quão será frouxo o mecanismo
de controle da vacinação. Os empregados
determinarão, por si mesmos, sua volta
seguindo as instruções de imunização –
retornando 15 ou 30 dias, a depender da
vacina, após a última dose. Qualquer um que
resolva voltar após a primeira dose poderá
desta forma proceder, assim como os que
resolverem não se vacinar.
Ou seja: vamos ter no
Edserj a segurança que teremos no transporte
público.
O superintendente da
AJ disse que antes de pensar em medidas
proibitivas, eles preferiam tentar trabalhar
no convencimento dos empregados sobre a
importância da vacinação.
Decepção foi ver o que
aconteceu minutos depois no webinário.
Contra o que a prioridade no convencimento
sugeria, assistimos ao silêncio do
presidente do BNDES sobre a vacinação! Não
fez menção à vacinação! E isso não foi tudo.
O presidente aparecia no vídeo como se
estivesse no BNDES e sem usar máscara! O
sinal foi de clara, absoluta, adesão ao
negacionismo. Ora, se o presidente do BNDES
quisesse transmitir sua preocupação com a
vacinação ou com protocolos de segurança,
deveria estar disposto a enfatizar
especialmente essas questões, uma vez que
faz parte de um governo negacionista. Seria
necessário que atuasse para desfazer a
impressão de sua associação com as teses do
clã Bolsonaro.
Longe disso, o presidente não mencionou
protocolos, vacina, testagem. Preferiu atuar
como um motivador ou animador de festa:
“vamos celebrar!”, “somos latinos!”, “vamos
encostar”... são apenas algumas joias
presentes no seu discurso improvisado de
ontem. Jair Bolsonaro não faria melhor. De
todas as falas equivocadas de Montezano ao
longo dos dois últimos anos, e a lista é
grande, essa é sem sombra de dúvida a
campeã. Nada poderia mostrar mais a sua
completa alienação em relação à preocupação
dos empregados do BNDES. Estávamos todos
reunidos preocupados com nossa saúde e a de
nossas famílias, todos querendo entender
qual é a motivação desse repentino retorno
presencial. Em que bolha vive Gustavo
Montezano? Não há ninguém na diretoria, ou
entre os superintendentes ou assessores,
para lhe dar algum feedback sobre sua visão?
Está absolutamente cercado de yes men? Ou
será que isso revela um traço mais
estrutural de personalidade, uma falta
absoluta de noção, como diz a gíria carioca?
Sobre a testagem para
avaliar o sucesso dos protocolos adotados no
Edserj, disseram em reunião que encomendaram
da FAPES um estudo sobre se seria necessário
e como seria implementado o sistema de
testagem. Para nossa surpresa, o “Perguntas
e Respostas” divulgado ontem, único
documento sobre o “plano” de retorno, contém
a seguinte informação:
“Cabe ressaltar, no
entanto, que a FAPES não recomenda a
realização rotineira de testagem para Covid-19
por meio de RT-PCR como condicionante de
liberação ao trabalho presencial, dada a
inviabilidade de tal medida”.
Nos chocou
completamente essa incongruência.
Gostaríamos que a FAPES se manifestasse a
respeito.
Procuramos o
superintendente da APEC, que garantiu que
havia falado que essa tinha sido a resposta
da FAPES na nossa reunião – é possível, a
reunião foi muito corrida –, mas que o
pedido por um novo estudo da FAPES decorreu
da nossa ênfase no tema. Nossa sugestão:
incluam essas informações numa versão
revisada do “Perguntas e Respostas”.
Aproveitando essa
questão, achamos importante deixar claro
para a administração: ficaríamos muito mais
seguros se a FAPES tivesse tido um papel
protagonista na formulação técnica de
protocolos e de segurança para o retorno. As
equipes médicas da Fundação contam com o
apreço da Casa. Durante a pandemia, os
elogios foram constantes. Chama a atenção o
fato de que a FAPES, acompanhando outras
organizações públicas e privadas tão
diferentes como IBGE, CVM e Itaú, não tenha
determinado o retorno presencial de seus
empregados! Mais: já criou uma metodologia
de trabalho híbrido para ser implementada
quando ocorrer o retorno! (Nossos
cumprimentos à equipe de benedenses que
dirige a FAPES. É a prova da excelência a
que nos acostumamos no Banco! Parabéns!).
Finalmente, os colegas
superintendentes do
Subcomitê de
Contingência garantiram que manterão
reuniões periódicas com a AFBNDES, dando
transparência às informações que utilizaram
para avaliar o andamento da ocupação do
Edserj e da pandemia.
Colegas dos
escritórios de Recife, Brasília e São Paulo,
nos desculpem se ainda não abordamos suas
questões diretamente, mas estamos atentos e
só não o fizemos ainda pela premência de
retorno já anunciado de diversas atividades
no Rio de Janeiro.
Para concluir esse
longo editorial, tocamos no ponto mais
importante e mais inacreditável do webinário
de ontem: nenhuma palavra do presidente do
BNDES sobre as razões para o retorno.
Por que o BNDES e seus
empregados deveriam ser mobilizados dessa
maneira, antecipando uma discussão como essa
quando estamos operando bem do jeito que
está? Como antecipar e programar esse
retorno sem elaborar uma proposta de
trabalho híbrido? Não é a “normalização” com
o mercado que pretendem? Não estão
assistindo todas as organizações importantes
fazendo esse debate?
Do discurso incoerente apresentado ontem
(“não teria sido bom elaborar o trabalho
híbrido antes porque não teríamos a
experiência que temos hoje, apesar do
trabalho que tivemos até agora não ser
remoto de verdade, e mesmo que fosse
trabalho remoto é muito diferente de
trabalho híbrido, então temos que voltar
para o trabalho presencial para poder propor
o trabalho híbrido etc. etc.), não se extrai
nada. Seria melhor uma autocrítica sincera.
Erramos. Voltamos ao presencial quando
tivermos uma proposta de trabalho híbrido.
Por que não? Mais dois ou três meses seriam
mais do que suficientes. Não estamos falando
de “Rocket Science”, como dizem os
americanos.
O BNDES na sua
organização, no seu tratamento de pessoal,
era para servir de modelo para outros. Em
que profundidade ignoram o que significa a
empresa que dirigem!
Dos comentários em
grupos de
WhatsApp, alguns nos sensibilizaram em
especial. Comentários de colega mais velhos
que estão próximos da aposentadoria.
O tom era de desânimo,
de melancolia. Comentários que emergem da
lembrança da organização que viram brilhar e
ser referência por décadas no país, e que
agora se apresenta desse jeito, com esse
grau de amadorismo, de improviso. Como o
Banco chave do planejamento do país, ou
mesmo o “banquinho de serviços” que
Montezano tem em mente, pode apresentar um
desempenho como o de ontem à noite?
É o tom predominante
em todo o país. Em outras épocas, o BNDES
conseguiu se blindar do caos lá fora, vide a
época da ditadura. Hoje estamos bem no meio
do caos.
Hora de não perder a
esperança, de cantar com Chico Buarque, que
a idade das trevas passará: “Apesar de você
amanhã há de ser outro dia”. |