Acontece

Edição nº1453 – sexta-feira, 6 de agosto de 2021

Recuperando-se de ataque bolsonarista, Eduardo Debaco fala ao VÍNCULO e agradece apoio e solidariedade 

“A publicidade do caso é importante para que a covardia do agressor bolsonarista não fique impune e também para que a sociedade entenda a ameaça concreta que esses extremistas representam para todos nós”

Em 4 de julho de 2020, o colega benedense Eduardo Debaco escreveu um artigo no VÍNCULO sobre a perversidade da Covid-19. “Obviamente, um vírus não pode ser perverso. A maldade pressupõe intencionalidade, racionalidade. Mas o vírus é cruel e talvez só venha a entender realmente quem tiver uma pessoa próxima internada. O mundo mudou do dia para a noite. Agora só saímos para a rua por obrigação e, quando isso ocorre, quando vou ao supermercado ou ao hospital, fica uma sensação de que vai dar pra aproveitar um pouco o ‘passeio’. Mas não há nada no caminho, às vezes um cafezinho, em pé. Desvio das pessoas, que nem sempre têm o mesmo cuidado, procuro lugares ventilados. Mas o pior até agora é isso, saber que há pessoas internadas, sem ninguém conhecido por perto...”, dizia o colega.

Pois no último domingo (1º), Debaco foi atacado covardemente por um manifestante bolsonarista na Zona Sul do Rio. Ele foi atropelado e acabou internado com duas fraturas na perna. Segundo depoimento do associado em vídeo, ao criticar um manifestante por não usar máscara, foi empurrado para a rua, onde um carro o atropelou.

“Simplesmente falei para ele: ‘bolsonarista não usa máscara’. Eu tinha saído para correr e, no caminho, encontrei um grupo, um homem e duas mulheres sem máscara. E fiz esse comentário. Por conta disso, ele partiu para cima de mim, eu me desequilibrei e caí na calçada. Antes de me reerguer, ele me atacou novamente, e com isso fui arremessado contra um carro. Podia ter morrido só por causa de um comentário”, afirmou Debaco em vídeo gravado no hospital.

Em nota – “Para a sobrevivência da democracia em nosso país, os intolerantes não podem ser tolerados” –, a AFBNDES se solidarizou com o colega, que integrou o Conselho Deliberativo da entidade até junho passado.   

“Neste domingo, houve manifestações a favor do governo em todo o país, com a maioria dos manifestantes em aglomerações sem o uso de máscara, gritando palavras de ordem contra instituições democráticas como o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e o Supremo Tribunal Federal (STF). Em diversos estados havia faixas pedindo a intervenção militar. Em discurso golpista transmitido para os participantes dos atos, o presidente Bolsonaro repetiu a ameaça de que a eleição do próximo ano pode não ser realizada caso a proposta de voto impresso não seja aprovada.” 

“Não é de hoje que Bolsonaro insufla seus seguidores com discursos de ódio contra a democracia e as medidas de prevenção à Covid-19, como o distanciamento social e o uso de máscara. Além disso, faz pouco caso da pandemia, atrasa a vacinação e defende o tratamento precoce, com o uso de medicamentos sem eficácia contra o vírus.”

“No caso de Debaco e em tantos outros relatados durante os terríveis anos de governo Bolsonaro, a violência, o ódio e a intolerância têm prevalecido. Para a sobrevivência da democracia em nosso país, os intolerantes não podem ser tolerados. Não pode haver espaço para os que usam a força para difundir suas ideias e ao mesmo tempo impedir a expressão de opinião contrária. Pessoas assim não são bons cidadãos e devem ser afastadas do convívio em sociedade.”

“Debaco conta com a assistência da Comissão de Direitos Humanos da OAB no acompanhamento do caso. Registro da ocorrência será realizado assim que o associado tiver alta. A AFBNDES também está em contato com o colega benedense para apoiá-lo no que for necessário.” 

Publicidade contra a impunidade – Nesta quinta-feira (5), VÍNCULO falou com o colega benedense sobre o ocorrido. Ele disse ter “gostado muito” da nota da AFBNDES enviada por WhatsApp: “A publicidade do caso é importante para que a covardia do agressor bolsonarista não fique impune e também para que a sociedade entenda a ameaça concreta que esses extremistas representam para todos nós. Ontem estive na 14ª DP para prestar depoimento e me foi dito que a polícia está buscando identificar o criminoso. Ainda preciso ir ao IML, mas estou aguardando me recuperar um pouco mais”.

“Gostaria também de agradecer imensamente a solidariedade dos colegas, da AFBNDES, do Copa D’Or, da FAPES, dos médicos, advogados, imprensa, enfim, de todos os cidadãos de bem que vêm prestando apoio e solidariedade”, destacou.

Voltando ao artigo no VÍNCULO de julho do ano passado, Debaco conclui o texto revisitando a questão da perversidade: “São perversos aqueles que, diante de tudo o que estamos vivendo, não se arrependem do voto que deram em 2018. Lamento, mas não há outra conclusão possível e eu não sou de fazer rodeios, não há fake news, pastor ou alienação que justifique esse estado de coisas. Não é à toa que Brasil é o lugar que experimenta a maior tragédia humanitária nessa pandemia. A morte não se presta a essa guerra de narrativas que temos que engolir diariamente. Ainda estamos discutindo se devemos privilegiar a saúde ou a economia, quando o mundo inteiro já entendeu que não haverá economia se não controlarmos o vírus (...). Isso sim é perverso”. 

 

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