Em 4 de julho de
2020, o colega
benedense Eduardo
Debaco escreveu um
artigo no
VÍNCULO
sobre a perversidade
da Covid-19.
“Obviamente, um
vírus não pode ser
perverso. A maldade
pressupõe
intencionalidade,
racionalidade. Mas o
vírus é
cruel e talvez só
venha a entender
realmente quem tiver
uma pessoa próxima
internada. O mundo
mudou do dia para a
noite. Agora só
saímos para a rua
por obrigação e,
quando isso ocorre,
quando vou ao
supermercado ou ao
hospital, fica uma
sensação de que vai
dar pra aproveitar
um pouco o
‘passeio’. Mas não
há nada no caminho,
às vezes um
cafezinho, em pé.
Desvio das pessoas,
que nem sempre têm o
mesmo cuidado,
procuro lugares
ventilados. Mas o
pior até agora é
isso, saber
que há pessoas
internadas, sem
ninguém conhecido
por perto...”, dizia
o colega.
Pois no último
domingo (1º), Debaco
foi atacado
covardemente por um
manifestante
bolsonarista na Zona
Sul do Rio. Ele foi
atropelado e acabou
internado com duas
fraturas na perna.
Segundo depoimento
do associado em
vídeo, ao criticar
um manifestante por
não usar máscara,
foi empurrado para a
rua, onde um carro o
atropelou.
“Simplesmente falei
para ele:
‘bolsonarista não
usa máscara’. Eu
tinha saído para
correr e, no
caminho, encontrei
um grupo, um homem e
duas mulheres sem
máscara. E fiz esse
comentário. Por
conta disso, ele
partiu para cima de
mim, eu me
desequilibrei e caí
na calçada. Antes de
me reerguer, ele me
atacou novamente, e
com isso fui
arremessado contra
um carro. Podia ter
morrido só por causa
de um comentário”,
afirmou Debaco em
vídeo
gravado no hospital.
Em nota – “Para a
sobrevivência da
democracia em nosso
país, os
intolerantes não
podem ser tolerados”
–, a AFBNDES se
solidarizou com o
colega, que integrou
o Conselho
Deliberativo da
entidade até junho
passado.
“Neste domingo,
houve manifestações
a favor do governo
em todo o país, com
a maioria dos
manifestantes em
aglomerações sem o
uso de máscara,
gritando palavras de
ordem contra
instituições
democráticas como o
Tribunal Superior
Eleitoral (TSE) e o
Supremo Tribunal
Federal (STF). Em
diversos estados
havia faixas pedindo
a intervenção
militar. Em discurso
golpista transmitido
para os
participantes dos
atos, o presidente
Bolsonaro repetiu a
ameaça de que a
eleição do próximo
ano pode não ser
realizada caso a
proposta de voto
impresso não seja
aprovada.”
“Não é de hoje que
Bolsonaro insufla
seus seguidores com
discursos de ódio
contra a democracia
e as medidas de
prevenção à Covid-19,
como o
distanciamento
social e o uso de
máscara. Além disso,
faz pouco caso da
pandemia, atrasa a
vacinação e defende
o tratamento
precoce, com o uso
de medicamentos sem
eficácia contra o
vírus.”
“No caso de Debaco e
em tantos outros
relatados durante os
terríveis anos de
governo Bolsonaro, a
violência, o ódio e
a intolerância têm
prevalecido. Para a
sobrevivência da
democracia em nosso
país, os
intolerantes não
podem ser tolerados.
Não pode haver
espaço para os que
usam a força para
difundir suas ideias
e ao mesmo tempo
impedir a expressão
de opinião
contrária. Pessoas
assim não são bons
cidadãos e devem ser
afastadas do
convívio em
sociedade.”
“Debaco conta com a
assistência da
Comissão de Direitos
Humanos da OAB no
acompanhamento do
caso. Registro da
ocorrência será
realizado assim que
o associado tiver
alta. A AFBNDES
também está em
contato com o colega
benedense para
apoiá-lo no que for
necessário.”
Publicidade contra a
impunidade – Nesta
quinta-feira (5),
VÍNCULO falou com o
colega benedense
sobre o ocorrido.
Ele disse ter
“gostado muito” da
nota da AFBNDES
enviada por WhatsApp:
“A publicidade do
caso é importante
para que a covardia
do agressor
bolsonarista não
fique impune e
também para que a
sociedade entenda a
ameaça concreta que
esses extremistas
representam para
todos nós. Ontem
estive na 14ª DP
para prestar
depoimento e me foi
dito que a polícia
está buscando
identificar o
criminoso. Ainda
preciso ir ao IML,
mas estou aguardando
me recuperar um
pouco mais”.
“Gostaria também de
agradecer
imensamente a
solidariedade dos
colegas, da AFBNDES,
do Copa D’Or, da
FAPES, dos médicos,
advogados, imprensa,
enfim, de todos os
cidadãos de bem que
vêm prestando apoio
e solidariedade”,
destacou.
Voltando ao artigo
no VÍNCULO de julho
do ano passado,
Debaco conclui o
texto revisitando a
questão da
perversidade: “São
perversos aqueles
que, diante de
tudo o que estamos
vivendo, não se
arrependem do voto
que deram em 2018.
Lamento, mas não há
outra conclusão
possível e eu não
sou de fazer
rodeios, não há fake
news, pastor ou
alienação que
justifique esse
estado de coisas.
Não é à toa que
Brasil é o lugar que
experimenta a maior
tragédia humanitária
nessa pandemia. A
morte não se presta
a essa guerra de
narrativas que temos
que engolir
diariamente. Ainda
estamos discutindo
se devemos
privilegiar a saúde
ou a economia,
quando o mundo
inteiro já entendeu
que não haverá
economia se não
controlarmos o vírus
(...). Isso sim é
perverso”. |