Movimento

Edição nº1409 – sábado, 26 de setembro de 2020

Apoio e solidariedade à AFBNDES

Nota da ARCA – Articulação das Carreiras Públicas pelo Desenvolvimento Sustentável – em solidariedade e apoio à AFBNDES em função do atribulado processo de negociação do Acordo Coletivo de Trabalho de 2020 no Sistema BNDES

Esta nota se destina a prestar solidariedade e apoio incondicional aos funcionários do Sistema BNDES e colegas da AFBNDES – Associação dos Funcionários do BNDES, envoltos numa crise interna entre Diretoria e técnicos da Casa acerca dos termos de renovação do Acordo Coletivo de Trabalho de 2020. Independentemente do mérito dos termos que estão sendo negociados/reivindicados, o fato lamentável a ser destacado é que, pela primeira vez desde a redemocratização brasileira, na década de 1980, a atual Diretoria do Banco tergiversa sobre os termos do Acordo Coletivo e age para cercear ou mesmo inviabilizar a organização e a atuação coletiva dos funcionários por meio da AFBNDES, instância legítima e qualificada para tais negociações. 

Mesmo se a democracia brasileira não estivesse sendo posta à prova, o cenário para os próximos 20 ou 30 anos já seria suficientemente desafiador. Estamos vivendo, em âmbito global, uma série de tendências que independem da vontade de países e governos nacionais, mas que afetarão a forma de inserção de todos eles e do Brasil no cenário internacional. 

Está em curso um movimento de hiperconcentração econômica que se dá, preponderantemente, junto aos países centrais, como os Estados Unidos, a Alemanha e a China, que desponta como nova e poderosa potência. Essa concentração ocorre no nível das empresas transnacionais e o Brasil não está neste rol de países hegemônicos. Esse processo está ampliando a assimetria existente entre os países ricos, medianos e pobres, agravando a hierarquização de poder em escala mundial. Esta dinâmica tem consequências importantes para uma economia como a brasileira, que tenderá a perder graus de liberdade, sendo impedida de decidir minimamente o que deseja ou pode fazer de modo autônomo e soberano. 

Do ponto de vista tecnológico, está em curso uma nova revolução: a da convergência (nano)tecnológica. A ciência moderna de ponta conseguiu desmembrar a matéria nas suas ínfimas unidades: a matéria física, no átomo; a matéria biológica, no gene. As combinações que advirão dessa fronteira tecnológica mudarão completamente a posição dos diversos países na nova divisão internacional do trabalho. Esse tipo de desenvolvimento requer investimento muito pesado em ciência, tecnologia, inovação e educação, recursos que estarão disponíveis para poucos países de forma ampla. Quanto mais essas tecnologias estiverem concentradas em poucas nações ou empresas, tanto maior será a assimetria de poder e de acesso a recursos entre elas. 

Com isso, certamente aumentará a heterogeneidade estrutural dentro do sistema interestatal capitalista.  O setor financeiro está no centro de todas essas disputas por, ao mesmo tempo, impactar e ser influenciado pelas grandes corporações transnacionais; depender e modular o campo da acumulação capitalista. São problemas complexos e difíceis de resolver. A sociedade brasileira é majoritariamente de baixa renda, não tem acesso pleno à seguridade social e depende do sistema público. A proteção social é, portanto, uma exigência no país, dado o perfil sociodemográfico e epidemiológico de sua população. Por outro lado, tal sistema é altamente dependente de investimentos de monta, algo que tem sido constrangido pelos governantes de forma aberta e infame desde 2016, e reforçado desde 2019. 

Desta maneira, tais exemplos e tendências apontam para a necessidade imperiosa de países como o Brasil disporem de capacidades estatais e instrumentos governamentais à altura dos desafios impostos no século XXI. Dentre tais capacidades estão a de dispor de fundos públicos de modo a influenciar e orientar os investimentos públicos e privados nas direções corretas. Bancos públicos e bancos de investimentos, tais como o BNDES, o maior e mais importante banco estatal de desenvolvimento econômico e social da América Latina e um dos maiores e mais importantes do mundo, são instrumentos governamentais da maior relevância para os desafios e objetivos acima citados. 

Desta maneira, causa surpresa o tratamento que os atuais funcionários e a própria AFBNDES vêm sofrendo por parte da atual Direção do Banco, no sentido de aviltar e precarizar as condições e relações de trabalho, em nome de uma ideologia e atuação completamente desconectada da realidade geopolítica e econômica mundial e latino-americana no século XXI. 

Mas logo ficará claro para a população que a única forma de o Brasil superar suas dificuldades e organizar um processo de desenvolvimento que lhe sirva é ter o Estado no centro do processo. Não se está aqui afirmando que todas as soluções dependem e passam exclusivamente pelo papel do Estado. Mas, no caso brasileiro, ele é, inevitavelmente, o agente central do processo de desenvolvimento. Sem ele, o próprio mercado não existe e não funciona no país. É sua função fortalecer e capitanear a política pública na linha da inclusão e da universalização. Se o Estado não o fizer, não haverá quem o faça. Não serão os agentes privados que irão promover a universalização da proteção laboral e previdenciária, da saúde, da educação, da segurança pública.  

Desta maneira, quando falamos que o Estado é central no processo de desenvolvimento, também estamos dizendo que ele precisa se organizar e funcionar de uma maneira diferente da atual. É em torno dessa agenda contemporânea e civilizada de desenvolvimento sustentável que a ARCA foi criada e com base nela pauta suas posições e ações coletivas em defesa do Estado nacional e da expansão e melhoria dos serviços públicos de qualidade para a totalidade da população brasileira. 

E é em torno desta agenda e destes princípios que somos solidários e apoiamos incondicionalmente o BNDES como agente público fundamental para o desenvolvimento econômico e social brasileiro e a AFBNDES como entidade que legitimamente representa o corpo funcional desta instituição. 

ARCA – Articulação das Carreiras Públicas pelo Desenvolvimento Sustentável   

 

Movimento

Agenda de entrevistas do Programa Faixa Livre

Movimento

Ministério Público Federal insiste no afastamento de Ricardo Salles do MMA 

Permanência de Salles no comando do Ministério pode levar a Amazônia a um ponto de “não retorno”, diz procuradora

Editorial

Transparência: tudo o que você gostaria de saber sobre a liberação de empregados para a AFBNDES e não teve a coragem de perguntar  

Institucional

Impactos econômicos da pandemia trouxe realidade desafiadora

Institucional

O Brasil no pós-pandemia: reflexões e propostas em e-book gratuito

Opinião

Charge de Nelson Tucci

 

EDIÇÕES ANTERIORES

(a partir de 2002)

MOVIMENTO

Reformas Administrativa e Tributária: O que você tem a ver com isso? 

A 16ª Jornada Nacional de Debates do Dieese traz o tema “Reforma Administrativa e Reforma Tributária – O que você tem a ver com isso”. A discussão será feita on-line, na terça-feira, 29 de setembro, às 18h. Para fazer sua inscrição, clique aqui