Devido às
dificuldades no
processo de
negociação do Acordo
Coletivo de Trabalho
de 2020, a AFBNDES
encaminhou a carta
abaixo a líderes
partidários no
Congresso Nacional
explicando a
situação no Banco e
pedindo apoio. “O
impasse no BNDES
decorre
fundamentalmente de
duas divergências de
princípio sobre
democracia e
autonomia técnica
dos empregados do
Banco. Ambas as
questões são
fundamentais para o
bom funcionamento de
uma instituição tão
importante para o
país”, destaca a
correspondência.
Confira:
“Prezado Líder,
Estamos no meio de
um impasse inédito
no BNDES e vimos por
meio desta chamar
sua atenção para a
gravidade do
problema e – dada à
influência de V. Exa.
– pedir sua ajuda
para tentar
resolvê-lo.
Estamos tratando de
uma questão que
envolve a democracia
no nosso país e as
condições de
operação, com
integridade e
excelência técnica,
do BNDES. O problema
torna-se
particularmente
grave dada a
conjuntura que o
país vive, marcada
pela crise do novo
coronavírus e pela
necessidade urgente
de retomada do
investimento na
indústria e na
infraestrutura e do
financiamento à
expansão do comércio
exterior. Para todas
essas tarefas o
governo conta com o
BNDES como
ferramenta
fundamental.
Infelizmente, no
meio dessa
verdadeira guerra
contra a crise
econômica, o BNDES
encontra-se
completamente imerso
numa crise interna.
Diretoria e técnicos
do BNDES não se
entendem sobre a
renovação do Acordo
Coletivo de Trabalho
de 2020. Essa crise
já dura dois meses.
Somos a única
instituição bancária
que ainda não chegou
à conclusão da
negociação. Os
demais bancos,
privados e públicos,
já fecharam seus
ACTs no final de
agosto. Se ainda
estamos negociando,
é porque entramos
com pedido de
protesto judicial
junto ao Tribunal
Superior do Trabalho
(TST), que nos
garantiu estender o
prazo por mais um
mês.
O impasse, é
importante
esclarecê-lo desde
já, é bastante
peculiar. Não é
motivado por
questões salariais
ou relativas a
benefícios
econômicos
demandados por
empregados do BNDES.
Essas questões nunca
foram o foco da
controvérsia e já se
encontram,
inclusive,
pacificadas.
O impasse no BNDES
decorre
fundamentalmente de
duas divergências de
princípio sobre
democracia e
autonomia técnica
dos empregados do
Banco. Ambas as
questões são
fundamentais para o
bom funcionamento de
uma instituição tão
importante para o
país.
A diretoria do BNDES
propôs um ataque
frontal à
legitimidade e à
representatividade
da AFBNDES
(Associação de
Funcionários do
BNDES) e um ataque a
uma cláusula de
proteção contra a
demissão arbitrária,
que é fundamental
para a autonomia
técnica dos
empregados do BNDES.
Pedimos sua
paciência para que
possamos desenvolver
um pouco mais cada
uma dessas questões
que estão em
controvérsia.
Deputado, a AFBNDES
é a principal
entidade
representativa dos
trabalhadores do
BNDES. Tem quase a
mesma idade do
BNDES. Funciona
desde 1954, há mais
de 66 anos. É
mantida por
contribuição
voluntária de seus
associados. Dos
2.400 empregados do
BNDES, mais de 2.000
estão filiados à
AFBNDES, além de
cerca de 1.000
empregados
aposentados. Desde o
primeiro Acordo
Coletivo de Trabalho
firmado no Banco, em
1985, a AFBNDES
esteve presente como
representante dos
trabalhadores – e,
desde 1989, ao lado
dos Sindicatos dos
Bancários.
A tentativa da atual
administração do
BNDES de impedir a
participação da
AFBNDES na mesa de
negociação foi
rechaçada por uma
assembleia com 2.000
votantes e 97% de
votos favoráveis à
participação dos
dirigentes da
Associação. Depois
do início das
negociações, que se
iniciaram às
vésperas da
data-base (1º de
setembro), duas
propostas
encaminhadas pela
diretoria do Banco
tiveram orientação
negativa pela
AFBNDES e foram
rechaçadas por 97% e
86% dos empregados
do Banco, em
assembleias com mais
de 2.000 votantes. A
segunda proposta da
diretoria que foi
rejeitada envolveu a
mobilização em peso
de toda a diretoria
do BNDES. A
representatividade
da AFBNDES entre os
empregados é uma
realidade tão
concreta quanto o
prédio do BNDES na
Av. República do
Chile 100, no Centro
do Rio de Janeiro.
A diretoria propõe
suprimir da AFBNDES
o direito de
convocar reuniões,
usar auditório,
pedir informações de
interesse do corpo
funcional, ter o
desconto em folha
das contribuições
voluntárias de seus
associados e ainda
propõe acabar com a
liberação de
empregados para
servir à Associação
como dirigentes.
Esta liberação é um
instituto que já
existia quando foi
firmado o primeiro
Acordo Coletivo de
Trabalho no BNDES,
em meados da década
de 1980. O mesmo
instituto existe na
Caixa Econômica
Federal e acabou de
ser renovado. Em
todo setor bancário,
público e privado,
em entidades
representativas de
procuradores,
magistrados etc., há
o instituto da
liberação de
empregados para
exercer a função de
representantes dos
trabalhadores.
A diretoria do BNDES
acusa essa liberação
de imoral e ilegal.
Se isso for verdade,
pelos menos 30 anos
de prática no BNDES,
com a ciência e a
aprovação da
Secretaria das
Empresas Estatais (SEST),
estará condenada,
assim como a prática
e o recente acordo
assinado na Caixa!
A AFBNDES tem sido
crítica da atual
gestão do BNDES
usando as
alternativas que a
democracia permite.
Publicamos artigos
no nosso semanário,
publicamos artigos
em alguns dos mais
importantes jornais
do Brasil. Toda
nossa publicação é
argumentativa,
apontando fatos,
questionando e
desenvolvendo
argumentos. Temos
preocupações sérias
com a atual agenda
para o BNDES, que
envolve a venda da
carteira acionária
da BNDESPar sem uma
política clara de
reinvestimentos e a
devolução dos
aportes do Tesouro
Nacional na
instituição.
É completamente
antidemocrático, a
nosso ver, que nossa
Associação seja alvo
de retaliação por
atuar dentro do
espaço que a
democracia nos
garante. Entendemos
o contraponto de
ideias como saudável
para a operação do
BNDES.
A atual
administração não é
a primeira com quem
temos diferenças,
mas é a primeira
que, aparentemente,
pretende resolvê-las
buscando
inviabilizar nossa
existência.
O segundo ponto
responsável pelo
impasse no BNDES é a
tentativa da atual
administração de
modificar a cláusula
de demissão
imotivada. A
cláusula estipula
que a demissão no
BNDES precisa passar
por um processo
administrativo,
garantindo-se os
princípios do
contraditório e da
ampla defesa. Essa
proteção é
fundamental para a
manutenção da
autonomia técnica
dos empregados do
Sistema BNDES. Um
técnico do Banco
pode ser destituído
de uma função
comissionada, mas
não demitido por
divergências
técnicas. Num Banco
que tem passado por
administrações com
orientações tão
diversas e com a
exposição dos
empregados a
pressões
empresariais e
políticas, a
autonomia técnica é
a grande responsável
pela imposição de
restrições à atuação
do Banco, que tem
garantido a gestão
sustentável e
íntegra do BNDES.
Comprometer a
autonomia técnica do
BNDES é colocar em
risco o bom
funcionamento do
BNDES.
Temos feito um
grande esforço
negocial, apelado
para a diretoria
participar
efetivamente da
negociação,
permitindo que
nossas posições e
premissas possam ser
confrontadas. Mas o
diálogo tem sido
muito difícil.
Estamos chegando a
mais uma data
decisiva, o final do
mês de setembro, e
ainda não temos
respostas negociais
concretas da
diretoria na mesa.
Por não saber mais a
quem recorrer,
trazemos esse
problema ao
Congresso Nacional,
esperando que a
principal Casa da
Democracia
Brasileira – que
recebeu a AFBNDES
por diversas vezes
em audiências
públicas e em
audiências
específicas com
deputados e
senadores de todos
os partidos – será
sensível ao nosso
pedido de ajuda no
diálogo com a atual
administração do
BNDES.
Estamos também
recorrendo ao apoio
da Justiça do
Trabalho e, na
segunda-feira, 28 de
setembro, teremos
audiência de
mediação no TST.
Se não estivéssemos
certos de que muita
coisa está em jogo,
não estaríamos
fazendo esse apelo a
V. Exa.Deputado,
além de sua ciência,
contamos com seu
apoio, como líder de
partido e como
representante
popular, para que
toda a sociedade
tenha ciência das
dificuldades que a
atual administração
tem colocado nesta
negociação de ACT e
ao corpo funcional
do BNDES.
Importante reafirmar
que a AFBNDES é
parceira para que o
país cresça.
Acreditamos que o
BNDES seja a
principal ferramenta
para o governo fazer
políticas públicas
em prol do
investimento,
principalmente no
pós-pandemia. A
AFBNDES é parceira
para que o BNDES
continue presente na
infraestrutura, no
agronegócio, no
comércio exterior,
no desenvolvimento
sustentável de novos
mercados, em
logística, meio
ambiente, inovação,
tecnologia, novas
parcerias, saúde,
educação,
capacitação e
treinamento.
Temos orgulho de ser
BNDES e desejamos
que assim
permaneçamos!
Rio de Janeiro, aos
25 de setembro de
2020.
Arthur Koblitz
–
Presidente da
AFBNDES
|