Nos debates sobre as
transformações causadas
na sociedade pela atual
pandemia, muitos
analistas têm afirmado
que mais do que acelerar
inovações tecnológicas
disruptivas em si, o
contexto de pós-pandemia
irá catalisar tendências
que já estavam em curso.
Considerando a tendência
mundial de
digitalização,
especialmente, no
segmento de meios de
pagamentos e do mercado
financeiro, esta semana
me deparei com um e-mail
que trazia a seguinte
questão: será que nossos
netos conhecerão as
cédulas e moedas em
dinheiro?
Aterrissando tal
interrogação no setor de
mobilidade urbana, tema
tão caro para o
desenvolvimento das
cidades e para a
melhoria direta da
qualidade vida dos
brasileiros, e avaliando
a imperiosa necessidade
de redução do contato
físico para evitar a
transmissão do novo
coronavírus,
essa pode ser uma
oportunidade que a crise
está oferecendo para
realizar um objetivo
antigo daqueles que
buscam a melhoria dos
transportes públicos: a
abolição do uso do
dinheiro em espécie.
Afinal de contas,
aquele troco, muitas
vezes com cédulas sujas
e desgastadas, que
passam nas mãos de
tantas pessoas, passou a
ser evitado pelos
usuários nas transações
comerciais em meio à
pandemia.
Atualmente, do ponto de
vista da viabilidade
tecnológica, o pagamento
nos coletivos poderia
ser feito exclusivamente
por meios eletrônicos,
como o cartão, celular
ou pulseira, que
utilizam tecnologias de
pagamento por
aproximação como a NFC (Near
Field Communication) ou
a MST (Magnetic Secure
Transmission). Além dos
benefícios para
enfrentar a propagação
da crise sanitária da
covid-19,
do ponto de vista da
mobilidade urbana
existem ganhos como
redução de assaltos nos
coletivos, mais
agilidade no embarque e
aumento da transparência
no fluxo de receitas das
empresas – de forma que
o órgão público
responsável possa
exercer melhor sua
função de regulação e
promover melhor serviço
de mobilidade para toda
a população.
Com isso o sistema de
transporte público
torna-se mais confiável,
permite melhor
monitoramento e
racionalização de linhas
de ônibus e amplia a
utilização de benefícios
de integração entre mais
de um transporte com uma
tarifa mais econômica.
Cabe observar que essas
integrações são
subsidiadas com milhões
de reais por ano, tendo
em vista suas
externalidades positivas
relevantes para a
sociedade e o meio
ambiente.
Entretanto, problemas
como fraudes, corrupção,
caixa dois e suas
derivadas – fruto de
relações não
republicanas entre
agentes públicos e
privados do setor de
transportes – são,
infelizmente,
recorrentes em muitas
cidades e estados
brasileiros. O
Ministério Público tem
realizado um trabalho
importante para coibir
esses crimes, mas
justamente a falta de
transparência e de
controle do fluxo de
receitas das empresas
dificulta a fiscalização
e a verificação da
correta aplicação dos
recursos públicos.
Essas mudanças nos meios
de pagamento dos
transportes públicos já
estão na pauta de debate
de cidades como Manaus,
Curitiba, Goiânia, Rio
de Janeiro e São Paulo.
A tecnologia de
bilhetagem eletrônica é
bastante difundida nas
grandes cidades e novos
aplicativos, fintechs e
meios de pagamentos têm
surgido a cada dia.
Novas funcionalidades
têm sido criadas para
tornar ainda mais
prático e flexível os
pagamentos nos
transportes públicos,
trazendo mais comodidade
ao usuário. Este mês, o
Whatsapp anunciou que
será possível realizar
pagamentos e
transferências através
do app de troca de
mensagens. Quem sabe
poderemos pagar o
transporte público
também por esse
aplicativo?
A cidade de Campinas
(SP), por exemplo, parou
de aceitar, desde o
início de 2019, dinheiro
no pagamento das
passagens e implantou um
sistema que permite a
emissão e leitura de
códigos de barra de
bilhetes impressos.
Houve um pouco de
resistência de parte da
população para mudar seu
hábito de pagamento, o
que podemos considerar
natural para um período
de adaptação. Acontece
que agora, com a
pandemia, existe uma
oportunidade para as
cidades acelerarem essa
tendência de não
aceitarem mais dinheiro
em espécie, dado que a
população quer evitar o
contato com o troco,
potencial foco de
transmissão do vírus.
Nesse sentido, tendo em
vista a tendência de
digitalização, os
benefícios para a
mobilidade urbana e o
contexto de precauções
sanitárias para frear a
pandemia, os governos
têm a oportunidade de
avançar com a agenda de
fim do uso do dinheiro
em espécie para
pagamentos nos
transportes coletivos.
Adicionalmente, esse
será mais um passo rumo
ao objetivo do
desenvolvimento
sustentável nº 11 da
ONU, em prol de cidades
e comunidades
sustentáveis, que
estabelece a meta de,
até 2030, proporcionar
acesso a sistemas de
transporte seguros,
sustentáveis e a preço
acessível para todos,
melhorando a segurança
rodoviária por meio da
expansão dos transportes
públicos.
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