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Custo
de
oportunismo
-
Manual
de
Natação
da
Gávea |
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"Quando eu era
criança, falava como
criança, pensava
como criança,
raciocinava como
criança. Desde que
me tornei homem,
eliminei as coisas
de criança."
(I Coríntios,
13)
(agosto de 2017)
“O que um banco faz
é transformar
poupança, ou captar
poupança, e
transformá-la em
investimento, tá
certo...” (Vinicius
Carrasco, Congresso
12/7/2017)
Não querido. Tá
errado. Tá
com-plé-tá-mente
errado.
The reality of how
money is created
today differs from
the description
found in some
economics textbooks:
• Rather than banks
receiving deposits
when households save
and then lending
them out, bank
lending creates
deposits.
• In normal times,
the central bank
does not fix the
amount of money in
circulation, nor is
central bank money
‘multiplied up’ into
more loans and
deposits.
Quem diz isso é o
Banco da Inglaterra,
um banco central que
tem um pouco mais de
história,
credibilidade que o
nosso. Pelo que
depreendo na
wikipedia, o
terceiro ou quarto a
adotar um regime de
metas de inflação ,
sendo que seu atual
presidente, não por
acidente, veio do
banco central
canadense, o segundo
a adotar
oficialmente um
regime de metas.
Sugiro aos colegas
que leiam esse
pequeno texto do
venerando Bank of
England.
Especialmente aos
que não são
economistas, aqueles
que aprenderam nas
aulas de introdução
a economia de suas
faculdades uma série
de historinhas sobre
de onde vem (e para
que serve) dinheiro
(e crédito) que, na
melhor das
hipóteses, até
podiam fazer um
certo sentido nas
condições legais que
existiram até os
anos setenta, mas
que não fazem o
menor sentido hoje.
Quanto aos colegas
economistas é
inadmissível se
acreditar nessa
historinha. Não que
eu cobre que eles
devam assumir os
pressupostos de MMT
(a linha
pós-keynesiana da
qual Felipe Rezende,
por exemplo, é
devoto), mas, num
momento em que não
só o Bank of England,
mas também o
Bundesbank
– dois bancos que
nunca pensaríamos
compostos por
aloprados –
reconhecem dinheiro
como endógeno, como
uma coisa que é
criada no processo
de concessão de
crédito, não dá pra
continuar com essa
historinha de
abelhinha,
florzinha, poupador,
banco e empresário.
Inadmissível também
é o que o João
Manuel Pinho de
Mello fez, no mesmo
evento, com o
rigoroso artigo
sobre efetividade do
PSI feito por nossos
colegas Leo, Daniel
e Breno (e aqui
convido para que
esses colegas de
Área e de profissão
façam uma defesa
pública de seu belo
trabalho). À
primeira vista
constatamos que ele
faz uma distorção
canalha dos números
apresentados no
artigo. É a hipótese
mais óbvia, que mete
menos medo. Porque,
se não for isso,
teríamos que admitir
que aquele cara
apresentando uma
sequência de
gráficos de pizza 3D
não entendeu o
texto. E isso seria
realmente
aterrorizante: o
governo está tomado
por gente capaz de
estagnar a economia,
como tão bem
destacou Luana
Piovani .
Citando Marx, "Gentlemen,
Chicolini here may
talk like an idiot
and look like an
idiot. But don't let
that fool you. He
really is an idiot.”
Dá medo quando se
percebe que boa
parte dos argumentos
usados pelo povo que
defendeu a proposta
do governo girou em
torno de uma versão
teórica, de manual,
do papel e
funcionamento de
mercados
financeiros. Isso
pode ser entendido,
por um lado, como
uma estratégia de
explicar coisas
complexas nos termos
cotidianos de
leigos, como o
agrônomo Heberte
Lamarck
que relatava; por
outro lado, pode ser
um sintoma de caras
que nunca passaram
pela experiência de
empresas industriais
ou comerciais. Gente
que nunca sofreu o
desconforto de
operar fora de seus
modelos, fora dos
números que estão
congelados, prontos
para serem usados.
Isso resulta numa
teoria de forno de
micro-ondas:
insípida,
pré-fabricada, cheia
de gordura
hidrogenada.
Você esperaria que
os caras que
explicam como nadar
sem nunca ter se
molhado em algo que
não fosse o chuveiro
fossem os caras da
esquerda. Você
esperaria que
porta-vozes do que
seria a ortodoxia do
mercado fossem
pessoas com larga
passagem pelo mundo
de negócios. Not
anymore!
José Márcio Camargo,
num mau humor de
quem só se dispunha
a discutir
estritamente TLP e
TJLP, o resto que
ceteris paribus, na
abertura de sua
falação cá no Banco
veio nos ensinar
que:
“todo dinheiro tem
custo de
oportunidade, tá
certo. Tem lá o
imposto, o imposto
pode ser usado de
alguma forma, se
você usa de uma
forma o custo de
oportunidade é o que
você não pode, é o
que você deixou de
usar. É tão simples
quanto isso. Eu
aprendi isso lá no
primário (...) tem
um monte de coisa em
economia que você
aprende no primário,
jardim de infância,
(...)”
Não querido. Tá
errado. Tá
com-plé-tá-mente
errado.
Custo de
oportunidade é um
daqueles conceitos
aparentemente
simples de economia
(minha filha de 14
anos já o domina
lindamente – bem
como o conceito de
custo afundado, que
por imitação ao
Richard Thaler
também ensinei) que
mesmo os economistas
não sabem direito o
que é. Em 2005 dois
professores fizeram
a seguinte pergunta
a 199 economistas no
encontro da American
Economic Association:
"You
won a free ticket to
see an Eric Clapton
concert (which has
no resale value).
Bob Dylan is
performing on the
same night and is
your next-best
alternative
activity. Tickets to
see Dylan cost $40.
On any given day,
you would be willing
to pay up to $50 to
see Dylan. Assume
there are no other
costs of seeing
either performer.
Based on this
information, what is
the opportunity cost
of seeing Eric
Clapton?
(a) $0, (b) $10, (c)
$40, or (d) $50."
Só 21,6% deu a
resposta certa (a
menos votada entre
as quatro, diga-se
de passagem). E há
controvérsias se
essa realmente é a
resposta certa ,
controvérsias que
acontecem inclusive
entre caras que
blogam
juntos.
Não me parece que o
Zé Márcio fala da
resposta certa
certa, mas não vou
dizer que a resposta
errada dele não está
certa. Certos
conceitos (como, por
exemplo, lucro)
funcionam muito bem
de forma abstrata,
mas, uma vez tendo
que ser
operacionalizados em
condições concretas
(provisões,
intertemporalidade,
tributos, custos
de oportunidade...)
eles podem ter
(muito) mais que uma
resposta certa. A
modéstia para
entender isso escapa
a quem traça uma
reta num mapa sem
olhar para a
topografia.
“Eu gosto muito de
incentivos, eu acho
que incentivos é
tudo em economia, o
resto é pé de
página, tá certo”,
disse ele ainda, um
pouco antes. Por
trás de Zé Márcio
Camargo, o slide tem
apenas a palavra
Opus, numa grafia
bonita. Não se trata
de parte de sua obra
que ele ali
apresentava. Zé
Márcio, como outros
tantos que estiveram
ali defendendo o fim
da TJLP, na
displicência desses
professores de
mercado, exibia o
logo da asset do
qual é sócio .
Sim, ele não
representa a
indústria, a
agricultura ou o
comércio, ou mesmo
alguma instituição
acadêmica. Num ato
falho, as cores do
dinheiro sem suor,
non olet.
Incentivos são tudo,
e é sob a égide
desses incentivos
que devemos
interpretar seu
discurso.
Opportunity cost,
como em
Opportunity, Opus,
Gávea Investimentos...
E a propósito: minha
filha sabe que 10
dolares são o custo
de oportunidade
entre o show da
Rihana que ela
sacrificaria para
ver Beyonce.
Endógeno (como é o
dinheiro) é mais uma
das coisas que eu
devo ensinar a ela
nessas férias.
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