E eis que o Arthur
Koblitz me força,
por conta de seu
artigo no
VÍNCULO, a ler o
artigo de Fábio
Giambiagi no
Estadão. Em geral
tento privar
minhas retinas tão
fatigadas
daquilo que colegas
falam/publicam no
PIG. Valor, Estadão,
Globonews – a
vantagem de termos
internet e Netflix é
poder esperar que a
lata de lixo da
destruição criativa
dê cabo dessas
instituições cujo
papel Chomsky
descreve como a
doutrinação das
elites,
coisa para a qual a
mediocridade do meu
atual Botafogo
colabora
sensivelmente.
Mas vou lá e leio
o artigo do Fábio.
E depois, já no
escuro das 20:30,
leio o
do Koblitz.
Um, uma peça de
propaganda anódina
desse governo de
sobreviventes ao
Golpe, peça que
sequer conta com a
hilária estupidez
dos defensores
originais da TLP (se
o editor permitir
haverá no online um
texto que não
cheguei a publicar
sobre a discussão da TLP no Congresso.
Alerto que ele cita
Marx: não o recém-bicentenário,
mas o bigodudo) de
tão correta, insossa
e oportunista que é.
O outro, uma defesa
apaixonada do Banco
contra algumas
ameaças de
longa data
ditas e
publicadas, mas, a
meu ver, meio que
irrelevantes. Uma
diz vamos em frente,
outra diz estão
atrás de nós. Ao
invés de ficar aqui
contrastando os
artigos, imaginando
o que
querem dizer
com Taca-Lhe
Pau para o
BNDES, vou tentar
comer essa sopa
pelas bordas e botar
a discussão em pé.
Ponto inicial,
básico: a ideia de
que existe subsídio
(ou necessidade de
subsídio) nas
operações do BNDES
decorre de um
desconhecimento,
perdoem-me o termo,
completamente
arcaico, primário
sobre a
origem do dinheiro e
sua relação com
crédito. Que
Fábio, apologista da
destruição do que
resta de
estabilidade num
mundo degradado pela
corrupção ideológica
neoliberal que
corroeu os valores e
compromissos que
construíram a
sociedade
capitalista do
pós-guerra discurse
nesses termos, faz
sentido. Que pessoas
do campo
progressista aceitem
esses termos
significa uma forma
de rendição, uma
forma de
normalização do que
é a confortável
ficção da Matrix
ideológica de que
nos fala Chomsky.
Deixemos de lado
essa pílula meio
Boca Juniors. Vamos
lá, "You take the
red pill—you stay in
Wonderland, and I
show you how deep
the rabbit hole goes."
1.
Pra que se acredite
que exista subsídio
precisa se acreditar
que exista uma taxa
de juros de mercado
verdadeira, que
reflita alguma
realidade de
mercado. Sorry, não
existe. Se algum
BACEN parar de
enxugar liquidez
quando necessário
(isto é, quase todo
o dia, por meio de
operações
compromissadas em
nosso caso) o
mecanismo de mercado
joga a taxa de juros
a zero ou abaixo.
Quem tabela a tal
taxa de mercado em
nome de um mítico
combate à inflação é
o BACEN.
2.
Mas... e a diferença
entre o preço que o
Tesouro paga
(diferentes SELICs
entre outras coisas)
e o que o BNDES
empresta? Bem,
largando-se o mito
do mercado na
primeira parte da
equação (rejubilai
felizes parasitas do
< 1%, devotos
nababos do Tesouro
Direto,
beneficiários da
generosidade do
BACEN para com seus
colegas de classe
social e daqueles
poucos – mas não tão
pouco assim – ainda
acima) e
prestando-se atenção
que a segunda parte
(financiar
desenvolvimento)
atende a um objetivo
completamente
distinto do primeiro
(combate à inflação)
... ué, aonde mesmo
está o problema?
Talvez por isso não
se tenha uma
Tesla, uma
Amazon,
um
Veyron
feito aqui... Bem, o
Brasil exportou o
Galactus da cerveja
para o Mundo, o
mesmo Mudo onde a
Plataforma de Bezos
segue, a todo vapor,
queimando capital a
nível global,
destruindo com o
funcionamento de
mercados em mais de
um sentido da
palavra,
demandando "incentivos"
numa
disputa predatória
entre cidades na
América do Norte...
Será que eles cantam
"I consider it a
challenge before the
whole human race"
no banheiro?
3.
Há que se perceber
que a tal da taxa
real de juros é uma
ficção confortável
para economistas
fazerem seus modelos
e continhas em
mundinhos fechados,
esféricos e sem
atrito. No mundo
real a referência é
dada pelas opções
concretas do que se
pode fazer com o
dinheiro. Neste
sentido, um
investidor externo,
por exemplo, está
preocupado com a
inflação brasileira
ou com o câmbio? E
um investidor
nacional com acesso
ao mercado global de
crédito? Mesmo do
ponto de vista de
quem esteja
preocupado em
preservar seu
patrimônio ou poder
de compra, alguém
aqui acha que um
índice de inflação
de uso genérico
realmente reflete
isso? Ou trata-se
apenas de uma
simplificação para
facilitar as contas
e os discursos dos
economistas, uma
generalização útil,
mas que não funciona
em um monte de
situações que
interessam a alguém
que detém, investe
em, ou, como no caso
do BNDES, financia
capital?
4.
Será que não cai a
ficha que a tal da
TLP nada mais é que
uma taxa prefixada
somada a uma
correção pela
inflação passada?
Que se até o Plano
Real essa taxa por
décadas foi fixa em
6% – agora querem
fazer essa taxa,
prefixando-a no
momento da
contratação, variar
entre esses momentos
e nada mais que
isso? Será que não
cai a ficha de que
substituir a TJLP,
uma taxa que pode
ser arbitrariamente
definida por COPOM,
CMN, Fazenda, seja
lá a quem couber
fazê-lo, por
correção automática
pela inflação
passada, quer dizer
que não se acredita
na responsabilidade
desse agente
econômico que a
fixa? A volta da
correção monetária
não quer dizer que
todo o edifício
teórico de Lara e
Pérsio não passou de
uma enorme e
transitória bobagem,
e que a reindexação
é a única forma de
se dar com o futuro
distante nesta terra
de Pindorama (Epa,
eles já fizeram isso
antes nas mamatas de
concessões de
serviços públicos,
com correção pelo
IGP-M, por exemplo.
Ah, a sabedoria do
Mercado...).
5.
Fora das fronteiras
da Folha Universal
que é o PIG
discutindo economia
existe um Mundo.
Vocês estão cientes
de que o Banco
Central Europeu,
além de comprar
dívida pública no
mercado secundário
para baixar os
juros, compra também
bonds
corporativos? E que
isso é elemento
fundamental da
competitividade das
empresas europeias
que se preparam para
disputar
o controle da
Eletropaulo,
por exemplo? Vocês
se dão conta de que
a privatização da
Eletrobrás é
provavelmente
estatização para
algum governo
estrangeiro,
provavelmente o
chinês – China onde
a explosão do
crédito vai além do
que possamos
imaginar?
6.
Alguém quer discutir
à sério um mundo com
Made in China 2025?
Alguém acha que à
luz da reflexão
estratégica na qual
estamos envolvidos,
da nossa Visão 2035:
Brasil, um país
desenvolvido,
estamos dando uma
resposta competitiva
a isso?
Essa é a realidade
concreta contra a
qual a indústria
brasileira luta e
não o catecismo do
mercado que inspira
os discursos dos
apologistas dos
bancos paulistas e
dos tamboretes do
Leblon. A realidade
que pôs FIESP,
ABIMAQ, ABIQUIM etc.
reclamando, ao lado
da AFBNDES, quando
da discussão da
medida provisória da
Taca-Lhe Pau.
Amigos próximos em
ambos os lados do
debate é uma
insinuação de
simetria que de fato
nada revela. A menos
nas linhas traçadas
no papel, os lados
nunca são só dois.
Amigos: sempre um
grupo restrito,
filtrado, e embora
por vezes separado,
próximo ao muro onde
se está empoleirado.
Estivesse Fábio
preocupado com o
futuro não tão
distante assim o
desespero seria com
o aquecimento global
(como para Sérgio
Besserman, por
exemplo) – e não com
aposentadoria. Mas
discutir
aposentadoria atende
à agenda de
destruição do Estado
e à glorificação da
pilhagem do país
pelo setor
financeiro.
Estivesse
interessado no tal
do crescimento que
alardeia vir por aí,
estaria correndo
para discutir a
crise cambial que
afeta nosso maior
vizinho (¿crise
Macri-economica?),
como isso pode nos
impactar, que
medidas de segurança
precisamos tomar a
respeito – não
preocupado com quem
pretende, trocado
este governo
impopular de caras
muito vivos que
sobreviveram no
Golpe, substituir a
TLP por algo menos
rígido e mais
adequado à execução
de uma política
econômica. Mas, como
respeitoso ocupante
de função do Governo
dos que sobrevieram
com o Golpe, escreve
o que pode sair no
jornal.
Não são os jornais e
seu conjunto cada
vez menor de
leitores quem irá
decidir o que será o
futuro da TJLP/TLP.
São as eleições, é
um próximo governo
que, honestamente,
não creio que alguém
faça a menor ideia
do que será. A
questão, colegas,
não é estar pronto
para defender em
2019 esse tosco e
apressadamente
desesperado conjunto
de planos e medidas
fabricados hoje,
dentro e fora, no
âmbito das
diferentes gestões
do Golpe, por
diferentes
burocracias sem
nenhuma subordinação
ao Voto, das quais a
TLP e a devolução
são as mais
significativas para
nosso trabalho
cotidiano. A questão
é, ainda neste ano,
produzir algum
resultado, algo de
positivo que não
seja mero papel,
algo que o
presidente Temer
possa mostrar com
orgulho se
candidato, um mínimo
de respeito que
devemos a quem se
deve um mínimo de
respeito.
E, nesse sentido,
nas palestras que
tem feito para
diferentes áreas do
Banco, ao defender
que a TLP com o
redutor que existe
este ano é um ótimo
negócio a ser
vendido aos que
pensarem em
acrescentar uma
obrigação para com o
BNDES em seu
passivo, Fábio tem
toda a razão. 2018
acontece agora, uns
poucos meses que
restam. Não creio
que mais do que
isso, mas é a
realidade na qual
devemos operar. A
TLP é o que temos, e
ela está longe de
ser ruim neste
momento. Mas "amanhã
há de ser outro
dia".