O longa sul-coreano que
colecionou prêmios mundo
afora e no último
domingo foi consagrado
como vencedor de quatro
Oscars (roteiro
original, diretor, filme
internacional e melhor
filme) chama-se
"Parasita".
Na última sexta-feira, o
ministro Paulo Guedes se
referiu aos funcionários
públicos como
"parasitas".
Professores, médicos,
policiais e bombeiros
são alguns exemplos de
funcionários públicos.
Parasitas, para o senhor
Guedes.
À primeira vista, o
título do filme diz
respeito (spoiler
alert) aos membros
de uma família miserável
(sim, existe miséria na
Coreia do Sul) que vivem
de bicos e aos poucos
conseguem se inserir
como prestadores de
serviço, sem nenhuma
qualificação para tal,
na casa de uma família
abastada.
Serão os parasitas desta
história?
A família abastada é
formada por um marido
que comanda uma empresa,
sua esposa dona da casa,
uma filha adolescente e
um menino. Talvez o
arquétipo da família
sul-coreana para o resto
do mundo.
O desenrolar da trama
mostra que os pais desta
família têm pouca ou
nenhuma empatia com
aqueles que não
pertencem ao seu extrato
social. O pai reclama
que a antiga empregada
comia demais e diante de
uma chuva torrencial,
que desabriga os
moradores da área pobre
da cidade, a madame acha
que foi uma benção por
reduzir o calor.
Abastados na economia,
imaginam ter cultura e
educação de alto nível,
mas são pateticamente
enganados pelos dois
jovens pobretões com
discursos sobre arte e
educação retirados de
páginas da internet. A
filha adolescente tem
sérias dificuldades com
os estudos e o menino
mostra-se uma criança
extremamente mimada.
São parasitas sociais do
capital. Fingem uma
cultura que não têm. São
fúteis, têm sérias
dificuldades de
desenvolver empatia
pelos mais pobres e
nenhuma intenção
aparente de contribuir
para a redução da
pobreza e da
desigualdade. Um
"empreendedor", uma
esposa troféu (recatada
e do lar) e um casal de
filhos para garantir a
perpetuação (não o
crescimento) da família.
"Parasitas" do senhor
Guedes, os funcionários
públicos são
selecionados por
concurso, garantindo um
nível mínimo de
qualidade e conhecimento
para a prestação de
serviço à sociedade.
Contratados, pagam na
fonte os mesmos impostos
dos empregados das
empresas privadas. Mais
até, já que descontam
para a sua Previdência
mesmo após a
aposentadoria.
Já o senhor Guedes,
aluno medíocre em
Chicago, com bolsa
custeada por recursos
públicos, nunca escreveu
um paper
relevante (sua tese, por
exemplo, nunca foi
publicada aqui ou
alhures). Fez sua vida
profissional basicamente
no setor financeiro sem
estudar os problemas da
economia brasileira. "Os
ricos capitalizam seus
recursos. Os pobres
consomem tudo".
Falta-lhe empatia. É
exatamente como a
família abastada do
filme de Bong Joon-ho.
Diferente do que afirmou
o senhor Guedes, os
parasitas do Estado
vivem sugando seus
recursos sem dar nada em
troca. No Brasil
consomem mais da metade
de tudo o que a
sociedade paga de
impostos. Mais da
metade... Mais da metade
do que a sociedade paga
de impostos vai para o
setor financeiro com
juros e serviços da
dívida pública.
Membro de um governo de
incultos, o senhor
Guedes muito
provavelmente não viu
"Parasita"; lhe
recomendaria se tivesse
oportunidade, porque o
que acontece no final do
filme com a família
abastada... Bom, este
seria um spoiler
imperdoável. Veja o
filme, senhor Guedes.