“Institutional
corruption: the
consequence of an
influence within an
economy of influence
that illegitimately
weakens the
effectiveness of an
institution especially
by weakening the public
trust of the
institution” (Lawrence
Lessig).
Era
para
estar escrevendo aqui
sobre divisões da
direita – assunto que
tudo correndo bem
tratarei nas próximas
semanas
–,
mas uma sublime e
involuntária peça de
entendimento sobre nossa
ordem neoliberal a
partir dos noventa me
urge a este texto. Pra
não perder a forma, faço
um desvio ao passado,
uma pequena história
pessoal.
Quase duas décadas
atrás, quando um eterno
candidato a conduzir
nossa economia veio a
ocupar um dos mais
visíveis postos públicos
da Nação, uma amiga me
ligou. Amiga muito
querida, falecida no
início deste ano,
completaria sessenta e
quatro anos agora em
março. Socióloga, PUC.
Entre seus colegas em ao
menos uma cadeira de
história esse luminar.
Ela estava revoltada com
o fato de que este cara,
que só tinha passado na
cadeira porque ela e os
amigos deixaram ele
assinar um trabalho,
tinha sido nomeado para
o posto. Ela deu um
exemplo, um exemplo
muito curioso: “ele
dizia que classe social
eram pessoas que tinham
os mesmos
eletrodomésticos”.
Pros que não conhecem,
na década de 70 o
marketing media a classe
em suas pesquisas
perguntando quais
eletrodomésticos e em
que quantidade você
possuía. Era um mundo
sem Casas Bahia e
Magazine Luiza, quando o
BNDE sequer tinha S e a
maioria das TVs,
preto e branco. Trazendo
para uma resposta
semelhante contemporânea
do filho de um primo a
quem eu algumas vezes
expliquei matemática: “O
que é um número
negativo?” (expressão de
perplexidade como se eu
tivesse pedido para
resumir Lost,
incontáveis segundos):
“É um número com um
sinal de menos na frente”.
Nessas quase duas
décadas desde esse
telefonema, no entanto,
vejo que uma outra
explicação poderia ser
dada às mesmas palavras.
Uma explicação que um
marxista sacana de matiz
situacionista poderia
usar na boa. Bato no
liquidificador um pouco
de fetichismo da
mercadoria, de objetos
que definem a
identidade, de “but,
he can't be a man 'cause
he doesn't smoke / the
same cigarettes as me”,
“marxismo
cultural”
a gosto e
voilà,
essa frase aparentemente
idiota ganha toda uma
outra conotação.
Entenderia um
bolsonarista? Nah.
Praticantes de
indiferença ou
repetência, Diferença
e Repetição passa ao
largo. Mas não vou
deplorar as pessoas, os
parentes e amigos
queridos que se
revelaram no segundo
turno. Aletéia irmão!
Sob esse prisma do que
pode ser um conceito
algo sofisticado que
alguém involuntariamente
diz de forma controversa
– pois se toma ao pé da
letra o entendimento ao
pé da letra do autor da
pérola
–,
há este parágrafo magnífico
que foi alvo do
editorial da semana
passada:
“Nosso
Brasil viveu um dos
maiores escândalos de
corrupção da história,
turbinado com dinheiro
público. Esse dinheiro
saiu dos cofres do povo
brasileiro. Então é
legítimo que o povo se
pergunte e questione:
‘mas como não houve nada
de ilegal?’. E a verdade
é que a gente concluiu
que não houve nada de
ilegal. A gente
construiu leis, normas,
aparatos legais e
jurídicos que tornaram
legal esse esquema de
corrupção. A conclusão é
essa. E é legítimo que a
população tenha essa
dúvida, e é importante
que o banco esclareça
que não fez nada de
ilegal"
Onde eu vi algo
parecido... Neste texto
sobre
uma entrevista
com Lawrence Lessig:
His new book,
America, Compromised,
is based on a series of
lectures he has given
about how US
institutions no longer
serve the purposes for
which they were
designed. They now serve
the wealthy and
corporations, which work
to help the rich get
richer. What's happening
isn't illegal. It's
systemic. He writes,
"There is not a single
American awake to the
world who is comfortable
with the way things
are." What can we do to
change the system?
Lessig, pra quem não
conhece, era talvez o
principal pensador no
campo do copyright
até que seu aluno
Aaron
Swartz
fez
cair a ficha
sobre o real problema: a
política. Swartz é a
versão americana do
reitor Cancelier, o cara
levado ao suicídio
pelo aparato
policial-jurídico do
Estado.
O ponto central de
Lessig é o conceito de
dependence corruption,
que pode ser resumido
como a escolha entre os
ricos que custeiam a
política conforma a
política de forma a
invalidar a escolha
popular. Eu retorno a
esse tema na semana que
vem.
Mas por enquanto me
respondam: esta fala não
retrata de forma esplêndida
a privatização da Vale,
empresa que hoje mantém
o estado de Minas entre
o terror e a lama? Não é
o limite da
irresponsabilidade?
A Globocabo onde
entramos no passado? As
concessões com pedágios
absurdos em trajetos
onde não há alternativa
pública? O setor de
insumos básicos
construído pelo
governo
Geisel, praticando,
privatizado, a extorsão
do preço importado
alfandegado? (Aliás,
pequena digressão: não é
Vargas que está sendo
destruído por Bolsonaro
& Guedes: é Geisel.
Geisel
via longe,
esses de hoje via
lounge, lobistas que
almejam ser enquanto
voam pela AeroFAB.)
Gustavo, pelo visto, não
entregou um dos
arrombamentos desejados.
Era pro Banco estar
ajoelhado no milho. A
abertura da
“caixa-preta”
não tinha por objeto
algum descobrir algo,
mas sim a omilhação do
BNDES. O BNDES é
arrogante e tem que
passar a ser moderado, omilde.
Jair, uma vez que
entendeu o que se
passou, tratou de deixar
sua marca: onde tínhamos
presigato (como diz uma
amiga), enfiou-se uma
sílaba adicional: agora
é presigaroto. Ro,
décima sétima letra do
alfabeto grego, que a
gente aprende na
engenharia como
densidade (que aumenta
quanto maior for a eme
sobre o volume). Deve
ter dedo de Olavo
nisso...
Um número negativo é um
número menor que zero.
Num mar de vermelho essa
lição será aprendida.