Desde o fim do longo
ciclo 2003-2014 (medido
entre alternâncias de
poder), durante o qual o
BNDES assumiu
protagonismo na
implementação de
políticas públicas, o
Banco tem procurado se
ajustar a novo
posicionamento
estratégico.
Claramente, a
infraestrutura tem sido
caminho importante na
travessia pós-2014.
Muito tem sido realizado
em consequência da
aproximação do BNDES com
núcleos gestores em
Brasília. Talvez o
melhor exemplo tenha
sido o conjunto de
aprimoramentos alcançado
no binômio
licitação/financiamento
de projetos no âmbito do
PPI (Programa de
Parcerias e
Investimentos). A
articulação do BNDES com
o governo federal tem se
estreitado com cessão
aos ministérios de
funcionários para
desenvolvimento de
projetos.
No entanto, há um
conjunto de problemas
brasileiros que se
desenvolve sob a
responsabilidade dos
estados e municípios. Há
questões pendentes que
exigem coordenação
federal, tais como a
gestão das águas e dos
esgotos. Questões
relacionadas ao
financiamento de
consórcios de
municípios, entre
outras.
O presente artigo é
dedicado a defender
atuação prioritária do
BNDES junto aos entes
subnacionais – estados e
municípios. Para isso,
argumenta-se que o BNDES
pode ser importante na
implementação de acordos
entre União e estados,
que envolvam
financiamento,
investimentos em
concessões/PPPs e/ou
processos de
desestatização.
Durante a década de 90,
foi criado o PAF
(Programa de Ajuste
Fiscal), reeditado em
2015/16. O PAF permitiu
ao governo federal
apoiar financeiramente
os estados, com emprego
de recursos do BNDES
durante os anos
subsequentes à crise
financeira de 2008. Após
2013, contudo, com a
piora da situação fiscal
dos estados, os limites
de crédito concedidos
pelo Tesouro caíram até
cerca de R$ 300 milhões
(2015). Com a Lei
Complementar 156/16,
voltou-se a ampliar o
limite de crédito para
os estados,
alcançando-se R$ 5,7
bilhões em 2016 e R$ 9,8
bilhões em 2017.
Entende-se que o BNDES
pode se aproximar de
estados e municípios que
se apresentem
voluntariamente para
acordos com a União. O
mais rapidamente
possível e, subordinado
a uma lógica federativa,
o BNDES pode ajudar os
entes a se anteciparem
no desenho de soluções
integradas para
investimentos
público-privados em
infraestrutura. Não será
necessário contratar
qualquer consultoria,
dado que há colegas que
possuem competências
setoriais/territoriais
estabelecidas.
Durante os últimos anos,
houve grande resistência
no BNDES quanto ao
relacionamento bancário
com entes subnacionais.
Mesmo PMAT e PMAE,
desenhados como
instrumentos para
melhorar o resultado
fiscal, foram na prática
descartados. Já os
empréstimos realizados
aos estados (PEFs, BNDES
Estados e Proinvest)
foram construídos em
ambientes com
dificuldades jurídicas e
processuais. Quando a
atitude defendida à
época era a de
cooperação do BNDES
junto aos entes, na
orientação para criação
de estruturas locais
para formulação e gestão
dos projetos (como o
ocorrido no Maranhão).
Estes escritórios seriam
a contraparte do BNDES
no processo de
desenvolvimento de
relacionamento.
Como parte dos projetos
de infraestrutura, os
financiamentos e
subscrições com apoio do
BNDES são elaborados em
detalhe contratual.
Necessitam de cláusulas
e métricas objetivas
para as quais as
estruturas nos estados
nem sempre estão aptas a
responder. Poucos
estados possuem equipes
dedicadas ao
planejamento, preparação
e gestão de projetos.
Da mesma maneira, a
atração de investimentos
privados depende de
aconselhamento
financeiro prévio, como
no caso de concessões/PPPs
e de planos de
reestruturação em
empresas em processo de
abertura de
capital/desestatização.
Deve-se adequá-las
progressivamente aos
requisitos exigidos para
acesso aos mercados de
capitais.
Nos próximos meses os
governadores estarão
dedicados ao
desenvolvimento dos
Planos Plurianuais (PPAs)
para o quadriênio
2020-2023. Além disso,
possuem desafios de
gestão relacionados ao
Plano de Equilíbrio
Fiscal, modernização
digital, melhoria de
ambientes de negócios,
entre outros. Esta
parece ocasião propícia
para que o BNDES dedique
recursos humanos para
apoio aos estados.
Na medida em que o
planejamento dos entes
subnacionais contemple
ações consequentes para
equacionamento da
situação
fiscal/investimentos, a
negociação com a União
poderá ser encaminhada
em bases realistas e
críveis. No momento de
negociação com a União,
os estados já estarão em
processo de preparação
para a atração de
capital privado. Se
anteciparão no que se
refere a procedimentos,
medidas legais,
estrutura etc. O BNDES
pode apoiar este
processo de preparação.
Para se fazer
importante, parece
necessário que o BNDES
adéque sua estrutura
organizacional de
maneira a priorizar o
relacionamento com os
entes subnacionais.
Considera-se importante
que o Banco disponha de
equipes coordenadas e
dedicadas, com
conhecimento acumulado
(inteligência de
mercado) sobre cada
unidade da federação,
agrupadas por regiões.
Lembra-se que o
relacionamento com os
entes hoje envolve
múltiplos interlocutores
internos, organizados
por produtos e não por
territórios. Com isso,
dificultou-se a
coordenação das ações.
Entende-se que as
equipes designadas devem
se integrar às equipes
locais (governadores e
secretarias), com
participação ativa na
sugestão de
aprimoramentos, no
acompanhamento das
ações. Trata-se de apoio
gerencial, voltado para
a preparação de
investimentos privados
em bases aceitas por
entidades bancárias.
O processo de
planejamento público
pode ainda ser
enriquecido com a
participação de
prefeitos (saneamento
básico, iluminação
pública, resíduos
sólidos etc.), através
de convocação por
governadores e adesão
voluntária a processo de
planejamento, com
assessoria do Banco. O
BNDES pode ajudar na
articulação entre
prefeituras e estados,
na medida em que possui
instrumentos para
atuação coordenada. Com
instrumentos atualmente
disponíveis no BNDES, já
é possível
financiarem-se projetos
para aumento de receitas
e redução de despesas
públicas. Da mesma
maneira, há no BNDES
experiência comprovada
na preparação de
empresas e concessões
para acesso a mercados
de capitais.
Em síntese, a
reconstrução do pacto
federativo em ambiente
de atração de capitais
privados pode ser
facilitada mediante ação
prévia e continuada,
institucional e bancária
do BNDES junto a estados
e municípios. Na
condição de assessor
financeiro de alto nível
do governo federal, o
BNDES pode ajudar na
implementação de acordos
com a União. Pode ainda
coordenar processo de
planejamento que envolva
os municípios e os
estados.