Debate sobre a venda da Embraer repercute na imprensa

O debate promovido na última terça-feira (11) pela AFBNDES, com Marcos José Barbieri Ferreira, da Unicamp, e Sérgio Varella, do BNDES, sobre "as consequências da venda da Embraer" repercutiu no jornal Valor Econômico, em matéria assinada pelo jornalista Chico Góes.

Acordo Embraer-Boeing vai demorar, diz especialista 

Francisco Góes (*)

O acordo entre Embraer e Boeing na área da aviação comercial ainda tem um longo caminho até ser sacramentado, na visão de um especialista do segmento de aeroespaço e defesa (A&D). “Tem muita água para passar por debaixo dessa ponte, ainda tem muita coisa pela frente”, previu ontem Sergio Varella, técnico da área de aviação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Ele participou de um debate, na sede do banco, sobre as consequências da operação Embraer-Boeing para a empresa brasileira e para o país, em evento promovido pela Associação dos Funcionários do BNDES (AFBNDES).

Varella disse que o BNDES quer o “sucesso” da Embraer considerando, inclusive, o apoio histórico que o banco deu à fabricante brasileira para o desenvolvimento de aeronaves e para o financiamento à exportação. O estoque de financiamentos do banco para a exportação de aeronaves da Embraer alcança, no total, US$ 21 bilhões, dos quais ainda há entre US$ 5 bilhões e US$ 6 bilhões de operações ativas, segundo estimativas. Fontes consideram que Embraer e Boeing devem tentar avançar na operação uma vez passada a eleição presidencial no Brasil. A velocidade dessa discussão vai depender, no entanto, de quem for o candidato que ganhar as eleições.

Uma das preocupações do mercado e também do BNDES é o que aconteceria com a Embraer caso a empresa não anunciasse uma parceria depois do acordo formalizado, em outubro de 2017, entre a Bombardier, concorrente direta da fabricante brasileira, e o consórcio europeu Airbus. Se nada fosse feito, e a Embraer ficasse “solteira”, tendo que enfrentar uma situação difícil, poderia haver uma desvalorização do valor residual das aeronaves da companhia brasileira financiadas pelo BNDES, o que também seria ruim para o banco. Havia ainda o receio, como resultado do acordo Airbus-Bombardier, que a Embraer poderia perder “visibilidade” de vendas frente às incertezas sobre o futuro da companhia, o que não aconteceu.

Em dezembro de 2017, Embraer e Boeing confirmaram negociações para uma combinação de negócios. Seis meses depois, no começo de julho, as duas companhias anunciaram acordo segundo o qual vai ser criada joint venture na área de aviação comercial na qual a empresa americana terá 80% de participação e a Embraer, 20%. Os americanos vão pagar US$ 3,8 bilhões no negócio. Os demais segmentos da brasileira — defesa, segurança e aviação executiva — continuam sob o comando da Embraer. Para Varella, a Embraer não está sendo vendida, e sim o principal ativo da empresa, que é a área de aviação comercial.

O professor Marcos Barbieri, especialista em aviação da Universidade de Campinas (Unicamp), entende a operação, no entanto, como uma venda. Presente ao debate ontem no BNDES, ele considera que um dos problemas da operação é o “timing”. Disse que o acordo foi anunciado em um momento em que a Embraer está no seu “auge”, com o lançamento de uma nova família de aeronaves comerciais, a E2, e perto de lançar o cargueiro militar, o KC-390, em 2019.

O problema, segundo Barbieri, cuja tese de doutorado trata da dinâmica da inovação na indústria aeronáutica mundial, é que Brasil e Estados Unidos têm posições negociadoras muito diferentes no momento. "Estamos negociando em um momento [ruim] para o Estado brasileiro e na véspera de uma eleição. Já os Estados Unidos estão com força para negociar e fazer acordos", disse Barbieri.

Na visão dele, uma parceria para a Embraer pode ser positiva, com a Boeing ou com outra companhia, mas não da forma como o acordo com a fabricante americana foi anunciado, transferindo 80% da aviação comercial da Embraer e “sem garantias” para a empresa. Para Barbieri, o acordo anunciado atende a “todos” os interesses da Boeing, mas deixa uma série de dúvidas sobre o futuro da Embraer. 

(*) Matéria publicada no Valor Econômico em 12/09/2018.

 

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