O portal de notícias
G1 acaba de lançar
um serviço de
checagem de
conteúdos suspeitos,
batizado de "Fato ou
Fake". Parece que
agora, então, temos
uma solução para a
questão das fake
news. Se o Grupo
Globo disser que é
fato, você pode
acreditar. Se disser
que é fake,
você não acredita.
As Organizações
Globo, com isso, se
autodenominam donas
da verdade. O que,
convenhamos, já
acontece na prática.
Num país com
praticamente um
monopólio na
comunicação de
massa, o único
veículo mais
confiável que temos
é a TV Globo. Quando
surge algum fato ou
notícia que a priori
nos parece estranha,
é comum buscarmos em
canal do Grupo Globo
algum tipo de
confirmação sobre o
assunto.
Já vi muita
discussão na
internet, no rádio e
na TV sobre o que
ficou conhecido como
fake news.
Termo que significa
simplesmente
"notícia falsa", que
a meu ver não faz o
menor sentido.
Notícia é notícia.
Se ela é falsa ou
não, cabe a quem lê
ou a quem ouve
concluir.
Semana passada foi
noticiada a
descoberta de água
líquida em Marte.
Grande notícia! Mas
será que é verdade
mesmo? Ou pode ser
uma fake news?
A notícia se baseia
em um estudo
realizado por
pesquisadores
italianos, publicado
na revista Science,
que teve como base
dados coletados por
um radar da Agência
Espacial Europeia.
Realmente, diante
das fontes
envolvidas, há
fortes indícios de
que não se trata de
uma notícia falsa e
que pelo menos os
resultados do estudo
fazem algum sentido
no campo científico.
Acontece que esses
"fortes indícios" só
existem devido à
credibilidade que
foi dada ao longo de
décadas às
instituições
envolvidas ou
citadas na matéria.
Se a notícia, ao
contrário, dissesse
por exemplo que a
água líquida em
Marte foi descoberta
por um camponês que
observava o céu
através de um
binóculo quando uma
gota de água caiu em
sua lente bem no
momento que ele a
direcionava para o
planeta vermelho,
ninguém acreditaria.
Ou então se, de
forma um pouco menos
estapafúrdia, o
estudo tivesse sido
conduzido por
pesquisadores
nigerianos com base
em dados da Agência
Espacial do Congo,
criada em 2017,
seria bem provável
que o fato nem fosse
publicado pelo Grupo
Globo, muito menos
pela revista Science.
E de qualquer forma,
para saber se existe
água mesmo em Marte
só indo lá
pessoalmente para
tomar um gole ou se
molhar. Fora isso,
você estará sempre
diante de um fato
narrado por alguém,
que disse a você que
existe água em
Marte, seja esse
alguém confiável ou
não.
Notícia falsa sempre
existiu e sempre vai
existir. A questão é
que o acesso à
informação é cada
vez maior e o número
de fontes sem
credibilidade
aumenta a cada dia.
E, na tentativa de
evitar que as
pessoas sejam mal
informadas, os
esforços para
combater as chamadas
fake news
acabam por
concentrar ainda
mais o "poder da
verdade" nas mãos de
poucos veículos de
comunicação, ou até
mesmo de tribunais,
gerando o risco de
censura e sem
resolver o problema.
Porque, na
realidade, o
problema não está na
propagação sem
precedentes de
notícias falsas, mas
sim no fato de que
as pessoas estão
acreditando em
qualquer coisa que
leem, ouvem ou
assistem nas redes
sociais, sem ter
qualquer olhar
crítico sobre os
temas.
É preciso, mais do
que nunca, educar a
população para que
as pessoas saibam
avaliar suas fontes
de informação. Nem
tudo que é dito por
determinado veículo
é 100% verdade. A
forma como um mesmo
assunto é tratado
por diferentes
emissores pode levar
o leitor, o
espectador ou o
ouvinte a
interpretações
completamente
distintas, muitas
vezes até mesmo
opostas, sem que se
possa dizer que um
ou outro veículo
esteja mentindo.
Na era da
informação, calar é
impossível e
impensável. O
pensamento crítico
precisa ser
estimulado. É
preciso aprender a
ler, a escutar, a
filtrar e a
interpretar. Porque
no fim das contas a
verdade vai estar
sempre, e somente,
dentro das nossas
cabeças.