Recente pesquisa1
analisou a rede de
relações sociais na
Alta Administração
do BNDES até os anos
2000. O trabalho tem
muitos méritos,
incluindo documentar
histórias conhecidas
por quem trabalha
aqui há muito tempo
e alertar os que
acham que nada
existia antes deles
e que nada existirá
depois. Então, como
será que as
pesquisas futuras
analisarão nossas
redes?
É importante que
reflitamos sobre o
Banco, incorporando
variáveis derivadas
das análises de
redes sociais,
teoria hoje aplicada
a problemas em
diversos campos,
incluindo finanças e
governança.
A sociologia estuda
comportamentos nas
empresas que fogem
da racionalidade
esperada numa
burocracia
weberiana, que tem
suas disfunções.
Note-se que isso não
é uma jabuticaba,
mas tem
particularidades por
estarmos numa
organização de
estado, com carreira
de longo prazo,
concentrada em um
prédio, onde as
relações são fortes.
Em qualquer
organização, a
importância das
redes de
relacionamento é
enorme. As redes se
configuram e
reconfiguram ao
longo do tempo.
Somos nós, elementos
e atores nelas.
Laços nos ligam, mas
nem sempre nos
unem...
Desde o ano passado
me dedico a pesquisa
no Doutorado, mas
não estou tão
ausente. Não entendo
tudo que acontece,
mas pesquisa recente
da AFBNDES mostra
que a grande maioria
no Banco também não.
Com o distanciamento
crítico, julgo que a
Administração e a
Associação querem o
melhor para o Banco.
Temos muitos
desafios de
comunicação interna
para superar, óbvios
quando o VÍNCULO é
mais claro e efetivo
que o quadro de
avisos. E não é
culpa dos redatores,
é a dificuldade de
explicar as mudanças
no nosso contexto,
entender como os
nossos laços serão
afetados. Laços
fortes dão coesão
orgânica e força nas
crises, permitem ou
evitam mudanças.
Laços fracos
permitem inovação e
discussão de ideias
fora da caixa, por
estarem mais
distantes do
group thinking.
Como estão nossos
laços hoje?
Talvez novamente
falte a percepção se
todos entenderam o
que está sendo
discutido e mais
ainda se quem está
de fora irá
entender, ainda que
as decisões sejam
plenamente
justificadas.
Erramos na
comunicação antes e
agora é preciso
ainda mais
cuidado...
Temos questões
geracionais
importantes. Temos
ainda outras
variáveis (como a
incorporação) para
tornar mais
complexos os
impactos dessas
questões na gestão
meritocrática da
organização. Fugir
dessas discussões
nos custou muito na
FAPES, apesar de
toda honestidade e
capacidade dos
envolvidos. Negar a
existência de
conflitos não os
extingue. Empurrar
os problemas para
frente não tem sido
uma boa solução,
fazer as coisas de
afogadilho também
não 2.
Por que não
amadurecer a
discussão? Não é
para ganhar tempo,
nem negar a
realidade, mas
ignorar a voz das
massas, interna e
externamente, não
foi bom...
Perder a relevância
econômica tem
preocupado a casa,
cheia de
diagnósticos
pessimistas.
Precisamos mudar o
modelo mental para
ganhar
competitividade, mas
se o cenário de
curto prazo não
ajuda, não é melhor
refletir e ponderar
as ações?
Na política, muitas
reformas camuflam
disputas de poder,
refletidas em
quantitativos e
cargos, naturais em
quem busca a
formação de alianças
e redes de apoio. No
nosso caso, ignorar
essa interpretação
política da
discussão envolvendo
a Administração e a
AFBNDES é tirar a
legitimidade de
ambos.
Discordo de algumas
visões da AFBNDES e
de algumas propostas
da Administração,
mas não duvido que
existam argumentos
para ambos os lados.
Concordar
automaticamente e
buscar
implementá-las sem
reflexão crítica
coletiva ou busca de
melhorias é o que é
perigoso e não
aderente a nossa
cultura.
Cabe à AFBNDES
questionar a
oportunidade das
mudanças e à
Diretoria a última
palavra, mas é
saudável a discussão
de premissas e de
alternativas.
Estamos sujeitos a
críticas, por ação
ou omissão. Nenhum
indivíduo ou
instituição é
perfeito. Acreditar
na pura motivação
racional e na falta
de alternativas é
subestimar a casa,
que sempre teve
capacidade para
arredondar quadrados
e chutar bolas para
o mato, dependendo
do jogo.
A vida e o mundo dão
voltas, e tendo
vivido mais tempo
dentro que fora do
Banco, gostaria de
confidenciar que foi
com espanto que
entendi alguns
aspectos culturais
nesses meus 25 anos
de BNDES. Logo
percebi um ambiente
de excelência,
honesto e ético no
relacionamento com
os clientes, mas
também uma cultura
corporativa com
visões feudais, com
áreas consideradas
mais "nobres" que
outras. Discussões
sobre o uso,
destinação ou
centralização de
recursos podiam ter
argumentos
racionais, mas o que
estava subjacente
era a dinâmica de
"poder", variável
política omitida que
explicava a disputa
por quantitativos e
cargos. Hoje entendo
que esses são
fenômenos usuais em
organizações
complexas, com uma
dimensão política.
Aspectos dessa
cultura se
revelaram pela
repetição de frases
que me causavam
certo estranhamento,
mas que eram
inerentes ao
ambiente que
vivíamos e parte da
regra não escrita do
jogo corporativo. A
mais emblemática é
"Quem parte e
reparte e não fica
com a melhor parte é
burro ou não tem
arte". Outra frase
frequente me foi
lembrada em
brincadeira recente
relacionada ao
Banco: "Não se
esqueça dos amigos".
É importante não
misturar as
coisas...O ambiente
mudou e práticas
consagradas geram
cada vez mais
estranheza.
Nosso planejamento 3
evoluiu do BSC para
a visão do
"elefante", mas
powerpoints e
discursos racionais
à parte, omite essa
variável política.
Se os dados não a
explicitam, inúmeras
reflexões
independentes
revelam a
importância dessa
variável, pelo menos
na imaginação
coletiva.
Poder deslocar
pessoal quando há
demanda, criando os
incentivos para
isso, é natural. Mas
não é razoável
arbitrar agora a
necessidade futura
de quantitativo das
áreas, se não existe
clareza de carga de
trabalho. Um
indicador rápido e
imperfeito, o número
médio de horas
trabalhadas, nunca
foi levado a sério
nas discussões.
Repensar processos e
aumentar a
produtividade
deveria ser melhor
que deslocar
pessoas, mas não
parece prioridade.
Consultorias foram
contratadas para
isso e nada mudou
nas áreas "nobres",
hoje com fraca
demanda. Será que
esquecemos de novo a
variável omitida?
Uma análise isenta
do momento que vive
o Banco não pode
ignorar que muitas
variáveis se
confundem em
significado, gerando
inconsistências
entre o discurso e a
prática. O
diagnóstico de
excesso de cargos e
preocupação com
custos e
competitividade faz
sentido, mas que tal
incorporar mais
variáveis ao debate?
Mesmo injustamente,
uma parte da
sociedade não vê
sentido na nossa
atuação em alguns
setores. E se a
visão dos vencedores
da eleição for
diferente da atual,
qual terá sido o
saldo da reforma?
Sabe-se que as
consultorias
legitimam a vontade
dos clientes,
independentemente do
sucesso da
implementação. São
veículos para
promover o
isomorfismo
organizacional e dar
legitimidade às
mudanças desejadas.
Tem seu valor, mas o
histórico de
consultorias
contratadas pelo
Banco relativiza as
suas recomendações.
O Banco precisa de
renovação, de
meritocracia e
experiência. Como
reconciliar essas
questões num cenário
de enxugamento de
cargos? E as
seleções de
executivos? Quais os
critérios?
Algumas dessas
perguntas são feitas
com verve pelo Paulo
("nenhum
parentesco") aqui no
VÍNCULO. Outras são
feitas no Mini-IMPM,
ótima iniciativa
coordenada pelo
Faveret, com
patrocínio do
Ricardo, uma
adaptação do
treinamento
gerencial idealizada
pelo Prof. Mintzberg
(www.impm.org),
que vai além das
técnicas
transmitidas nos
MBAs. Mostram que
estamos preocupados
com o futuro, que
existe o consenso
que mudanças são
necessárias.
São perguntas
frequentes e
legítimas.
Ignorá-las não ajuda
a convencer
corações e mentes de
que estamos no
caminho certo – há
dois meses das
eleições. Reformas
têm altos custos de
transação, que podem
afetar ainda mais
nosso clima
organizacional. Me
auto parafraseando,
penso que: "O fato
de se poder fazer
alguma coisa não
deve ser o motivo
para fazer algo, se
os méritos não forem
suficientes e os
riscos bem pesados".
Penso nos diversos
organogramas que vi,
para todos os
gostos. Não devemos
retroceder o
organograma nem 2
nem 25 anos, mas
construir o que
fizer sentido,
inclusive o clima e
os nossos laços,
abalados por
mudanças mal
comunicadas e
consecutivas
reestruturações.
Assim, entre o
imobilismo e o
ativismo, qual o
caminho tomar, que
não pareça
provocação nem medo?
Hillel já
perguntava: "Se não
eu por mim, quem por
mim? Se eu for só
por mim, quem sou
eu? Se não agora,
quando?" Milênios
depois, qual nosso
contexto? São várias
questões em aberto,
já que sabemos que
ajustes acontecerão
a partir de janeiro,
de dimensões
imprevisíveis.
Não nego a realidade
nem subestimo as
dificuldades que a
Diretoria enfrenta
nesse nosso país
tropical. Por isso,
debatermos os
entraves para o
desenvolvimento,
incluindo os
internos, é
importante.
Grandes avanços
aconteceram em temas
complexos, como na
digitalização e na
proposta de reforma
do PBB. O bom
caminho trilhado na
reforma do PBB é um
exemplo do que pode
ocorrer na discussão
das reformas
internas do BNDES.
Foi um passo
importante no
apaziguamento de
questões geracionais
importantes e no
restabelecimento da
confiança interna.
Outros passos serão
necessários.
Me preocupa que
nossos band
leaders não
consigam nos
convencer do
timing de
algumas propostas,
seja em Brasília ou
aqui, como diria
outro Jorge. Me
preocupa também que
a torcida do
Flamengo, da qual
faço parte, não
reconheça a
necessidade de
mudanças, que devem
ser discutidas de
forma geral.
Virar o Banco de
cabeça pra baixo à
toa não é bom,
deixar o barco
afundar tampouco.
Esperamos seguir os
líderes, mas por
quanto tempo, a essa
altura do
campeonato?
___________________
1 Kluger, Elisa –
Meritocracia de
laços – Tese de
Doutorado em
Sociologia na USP –
2017. Link para o
resumo, que ressalta
o oximoro do título:
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8132/tde-06022017-113838/pt-br.php.
2 Quando decidiram
fechar a subsidiária
em Londres, não
atentaram que ela
era lucrativa e só
poderia fechar as
portas em 2020.
Recentemente, uma
representante de um
Investment Bank
visitou o Banco para
oferecer um produto.
A resposta que foi
dada, que a
surpreendeu, era que
o Banco já conhecia
e tinha executado
com lucro a
estratégia no
passado recente, mas
que não era mais
possível sem a PLC
operacional...
3 A propósito, o bom
artigo do Mauricio e
do Victor no Globo
termina dizendo:
"Também um debate
complexo não deveria
ser simplificado por
visões fragmentadas.
A discussão do papel
do BNDES precisa
evoluir para uma
compreensão
sistêmica e
multifocal de sua
atuação, havendo
muito a fazer pelo
Brasil em qualquer
lente que se
sobreponha no debate
eleitoral de 2018". |