Como presidente da
Associação dos
Funcionários do
BNDES, gostaria,
cordialmente, de lhe
dar as boas-vindas.
Torço para que o
senhor esteja
preparado para o
grande desafio de
dirigir esta Casa. E
me coloco à
disposição para
cooperar no que for
preciso neste
caminho. Espero, em
audiência próxima,
poder conversar com
o senhor, de forma
que possa conhecer
nossas posições
sobre o que vem
acontecendo com o
Banco e seus
empregados e
empregadas.
Antes de qualquer
coisa, é preciso
observar o momento
em que estamos. Em
menos de dois anos
esta é a terceira
administração do
Banco no governo
Temer, ocorrendo no
final do governo, em
ano eleitoral, em
meio a uma brutal
crise econômica e
política – talvez a
pior que já tenha
existido na historia
brasileira. É um
momento muito
difícil e muito
sensível.
O Banco se tornou,
nos últimos tempos,
alvo de muitas
denúncias e
suspeitas. Entrou no
olho do furacão da
crise política
brasileira, e também
de outros países
vizinhos. Todas as
investigações feitas
até o momento, por
diversos órgãos de
controle e CPIs, não
mostraram qualquer
evidência de
corrupção entre os
funcionários do
BNDES. Isso é muito
importante, pois na
conjuntura em que
vivemos, em que se
enfatiza uma cruzada
moral contra a
corrupção em nosso
país, não é pouca
coisa que a ética
pública tenha sido
um valor preservado
e respeitado no
BNDES.
Não podemos
esquecer, contudo,
que 37 funcionários
do Banco sofreram
condução coercitiva
pela Policia Federal
no ano passado, no
âmbito da Operação
Bullish, e
continuamos sofrendo
com a sanha
persecutória do TCU,
que continua
exorbitando de suas
funções. Importante
relembrar que ao se
despedir do BNDES, o
ex-diretor Ricardo
Baldin, trazido pela
ex-presidente Maria
Silvia e responsável
pelas Comissões de
Apuração Interna, em
entrevista à
imprensa, criticou a
perseguição sofrida
pelo BNDES pela
"ditadura dos órgãos
de controle".
É preciso perceber
que a Casa se
encontra
traumatizada e o
corpo funcional está
sofrido com tudo o
que vem passando nos
últimos dois anos e
meio.
A população
brasileira, que
passou a conhecer o
BNDES de forma tão
negativa, não
entende muito bem o
papel do Banco e
continua sendo
alimentada pela
imprensa com uma
visão distorcida da
instituição.
As administrações do
BNDES no governo
Temer, em graus
diferentes,
possuíram um caráter
de intervenção e
investiram numa
falsa busca por
moralização. Vieram
para encontrar mal
feitos, sedentos por
punição, mas não
acharam aquilo que
imaginaram, nessa
degradação moral
presente em nosso
país, que continua
atordoando o
brasileiro comum
todos os dias, num
enredo sem fim.
E essas
administrações
vieram, cada uma ao
seu modo, praticando
a política do
desmonte, que está
servindo, em nome do
fundamentalismo de
mercado, para
desconstruir os
instrumentos que o
BNDES possui para
atuar como um Banco
de Desenvolvimento.
Desculpe-me, mas a
TLP está longe de
ser a salvação do
BNDES. A liquidação
antecipada dos
empréstimos do
Tesouro também está
longe de ser a
salvação das
finanças públicas.
Não é por causa do
BNDES que o
"mercado", no
Brasil, não financia
o investimento
industrial, a
infraestrutura, a
inovação, as
exportações e as
MPMEs.
O atual cenário de
inflação e Selic
baixas não justifica
a extinção da TJLP
da forma como
ocorreu, com a
criação da TLP.
Tecnicamente, a TLP
é estranha ao
conceito de Banco de
Desenvolvimento. Foi
gestada em segredo e
aprovada pelo
Parlamento, via
Medida Provisória,
de forma açodada,
sem estudos de
impacto e sem
discussão técnica
mais aprofundada.
E muito além de ter
que se reinventar, o
BNDES precisa é de
uma política pública
de desenvolvimento,
de longo prazo, que
norteie e respalde
sua atuação. Precisa
de planejamento
governamental.
Precisa de
instrumentos
adequados e
estabilidade
organizacional.
Coisas com que esse
governo, diga-se de
passagem, nunca se
preocupou.
Como presidente, o
senhor terá a chance
de conhecer o BNDES
por dentro. E vai
poder constatar por
si mesmo que a
realidade sobre a
instituição é bem
diferente daquilo
que aparece nas
narrativas
massificadas dos
meios de
comunicação.
Queremos cooperar,
mas sem que seja
revista a atual
política de
desmonte, não vemos
como o BNDES poderá
cumprir o papel que
a sociedade dele
espera.
Espero também que
diante da realidade
nua e crua,
desfeitas as
fantasias e frente
aos desafios
concretos de
promover o
investimento de
longo prazo no
Brasil, de
impulsionar o setor
produtivo e
financiar a
infraestrutura que o
país tanto
necessita, o senhor
reveja a política de
desmonte até aqui
adotada e dê
novamente condições
para que o BNDES
possa cumprir sua
missão de Banco de
Desenvolvimento.
A AFBNDES continuará
resistindo, pois
acreditamos que um
Banco de
Desenvolvimento é
uma instituição
estratégica para o
país, e que para
promover o
desenvolvimento com
recursos próprios e
em moeda nacional o
Brasil não pode
abrir mão de ter um
BNDES forte.