A Ética esteve
sempre presente na
evolução humana.
Associada
indiretamente aos
preceitos e
preocupações
elaboradas nas
diversas religiões
ou mais diretamente
formalizada nas
raízes gregas da
tradição filosófica
do mundo ocidental,
que nos legou a
origem (ethos)
da atual palavra
ética. O mundo
oriental também
elaborou seu
entendimento ético.
Esta evolução,
porém, não ocorreu
de forma linear e
foi vivenciada com
avanços e
retrocessos.
No Brasil, a
preocupação com os
problemas éticos em
nosso comportamento
individual e público
foi explicitada
formalmente por
iniciativa da
Presidência da
República, exercida
à época por Itamar
Franco, através do
Decreto No 1.171, de
22 de junho de 1994.
Neste momento, foi
aprovado o Código de
Ética Profissional
do Servidor Público
Civil do Poder
Executivo Federal,
englobando órgãos e
entidades da
Administração
Pública Federal
direta e indireta.
Uma pausa para o
exercício de nossa
irreverência carioca
e brasileira. Esse
decreto não deixou
de merecer
comentários
informais e
gozadores sobre seus
dígitos finais, 171,
associados ao
estelionato no
Código Civil
vigente.
Em 1999, já na
presidência de
Fernando Henrique
Cardoso, foi criado
o Sistema de Gestão
da Ética do Poder
Executivo Federal e
a Comissão de Ética
Pública (CEP). Essa
comissão, com apoio
da reflexão teórica
do antropólogo
Roberto DaMatta,
iniciou o trabalho
de incentivar a
transformação da
letra da lei em
exercício concreto e
efetivo na
Administração
Pública. De novo, em
nossa irreverência,
esse trabalho da
comissão foi
recebido com muito
ceticismo, com
dúvidas sobre se era
"apenas para inglês
ver" ou se neste
caso seria para
"pegar", isto é,
para valer.
Registre-se que o
trabalho da CEP
contribuiu muito
para que essa lei
pudesse, de fato,
valer.
Em 1o de fevereiro
de 2007, na
presidência de Luiz
Inácio Lula da
Silva, a legislação
anterior foi
aperfeiçoada pelo
Decreto No 6.029,
proposta encaminhada
pela então chefe da
Casa Civil e futura
presidenta da
República, Dilma
Rousseff. Através
desse decreto foi
instituída a Rede de
Ética do Poder
Executivo Federal e
criada uma
secretaria executiva
nas comissões com a
incumbência de dar
efetividade ao
cumprimento dos
princípios éticos.
Registre-se que
predominava, desde a
influência inicial
do antropólogo
Roberto DaMatta, a
compreensão de que
os membros das
Comissões de Ética
do Sistema de
Gestão, com sua
cabeça localizada no
Poder Executivo
Federal, e das
Comissões dos Órgãos
Públicos deveriam
gozar de
independência em
relação à
subordinação
hierárquica para que
os valores éticos
pudessem se tornar
efetivos. Os membros
de todas as
comissões passaram a
ter mandatos
definidos de três
anos, renováveis por
apenas mais três. As pressões
hierárquicas sempre
existirão, mas a
governança proposta
contribuiu para
fortalecer a
independência na
atuação das
Comissões de Ética.
No BNDES, a gestão
da ética foi
formalizada em 26 de
junho de 2002, com a
Resolução 1.007 da
Diretoria, que criou
o Código de Ética
Profissional dos
Empregados do
Sistema BNDES e a
Comissão de Ética do
Sistema BNDES –
CET/BNDES.
Esse regulamento
orientou o trabalho
desenvolvido na
gestão da ética
através da promoção
de ações de natureza
educativa, da
atualização e do
aperfeiçoamento de
suas normas e da
apuração e aplicação
das penas cabíveis
nos casos de
infrações éticas.
Em 23/09/2008, pela
Resolução nº
1642/2008, a
Diretoria aprovou o
Regimento Interno da
CET/BNDES,
aperfeiçoando os
procedimentos
utilizados.
Sete anos depois de
sua criação, o
Código de Ética foi
atualizado com a
reflexão e
incorporação da
experiência
acumulada, em
processo aberto de
consulta interna, e
o novo Código obteve
aprovação da
Diretoria em 28 de
abril de 2009. Em 19
de abril de 2016, a
Diretoria, pela
Resolução 2.982, com
a continuidade e
renovação da
experiência
vivenciada, aprovou
o atualmente vigente
Código de Ética do
Sistema BNDES.
Quero destacar, em
todo esse período, o
título da
apresentação ao
Código que havia
sido aprovado pela
Diretoria, em 28 de
abril de 2009, do
então presidente do
BNDES, Luciano
Coutinho: "Só há
desenvolvimento com
ética". Esta
frase refletiu e
marcou profundamente
minha experiência
como profissional do
BNDES.
A estruturação da
gestão da ética, com
seus eventuais
equívocos, acertos e
méritos, foi
consequência da
contribuição, direta
ou indireta, de
todos os empregados
do BNDES.
Em relação ao
trabalho vivenciado,
enfatizo a
realização de
seminários em que
foi possível
compartilhar
experiências e
aperfeiçoar o
aprendizado com
profissionais
especializados no
conhecimento e na
prática da ética.
O processo educativo
foi continuado nas
equipes que se
sucederam na
composição da
CET/BNDES e mereceu
atenção prioritária
em suas atividades.
A Comis-são deve se
orgulhar por ser
composta por
empregados com
diferentes visões de
mundo e diversas
experiências de vida
pessoal e
profissional.
Esse processo foi
reforçado, com o
apoio da Comissão de
Ética Pública, na
criação do Fórum
Nacional de Gestão
da Ética nas
Empresas Estatais,
que organizou
anualmente
seminários que
aprofundaram o
compartilhamento de
experiências. A
Comissão de Ética
Pública também
organizou seminários
amplos para debater
experiências de
gestão da ética,
nacionais e
internacionais.
Essas atividades
influenciaram as
apurações formais,
sob responsabilidade
da Comissão Interna,
de possíveis
infrações éticas
ocorridas no BNDES.
Foi uma experiência
pioneira, em que a
cultura corporativa
de nossa instituição
foi posta à prova
para que a CET/BNDES
pudesse exercer com
maturidade,
equilíbrio e rigor
sua atribuição. A
depender da
avaliação da
gravidade da
infração ética
cometida, poderiam
ser aplicadas
sanções aos
empregados do BNDES
conforme previsto no
Código de Ética. O
princípio
predominante foi o
de valorizar o
processo educativo e
de aprendizado,
orientado pelo
respeito ao
empregado e pela
valorização da
justiça, e associar
a sanção aplicada à
preservação da
instituição pública
BNDES, de sua
cultura, missão,
visão e valores. O
BNDES seria
fortalecido se seus
empregados
compreendessem a
relevância do
compromisso ético e
se o aplicassem em
suas atividades
profissionais e
pessoais.
O ambiente de
compartilhamento de
ideias no trabalho
da CET/BNDES
proporcionou o
surgimento de uma
frase que
consubstanciou sua
experiência no
processo de apuração
de infrações éticas:
"Nem Torquemada,
nem pizza". O
senso de justiça não
deveria ser pautado
por uma ação
inquisitorial,
representada pelo
trágico exemplo de
intolerância de Juan
de Torquemada, na
idade média
europeia, nem pelas
práticas da cultura
simbólica
brasileira, onde as
investigações sobre
transgressões nunca
gerariam punição aos
responsáveis, e essa
impunidade faria
tudo "acabar em
pizza". Nas
penalidades
aplicadas, a
Comissão procuraria
se pautar pelo rigor
e pelo equilíbrio,
e, nesse tom, a
ética no BNDES
sairia fortalecida.
No momento atual,
estamos vivendo uma
experiência que nos
leva a refletir
sobre o
comportamento ético
trazido à tona pela
abertura de
Procedimento
Preliminar pela
CET/BNDES para
investigar possível
descumprimento do
Código de Ética pelo
empregado Thiago
Mitidieri,
presidente da
AFBNDES. Esse
descumprimento teria
ocorrido pelo fato
de Thiago ser
responsável pela
utilização do Quadro
de Avisos,
franqueado pelo
BNDES, para convocar
os empregados a
participar de evento
político, no dia
28/04/2017, em
protesto contra as
reformas Trabalhista
e da Previdência
propostas pelo
governo federal.
Registro meu
desconforto em
abordar essa questão
por estar no
exercício da 1a
vice-presidência da
AFBNDES e por já ter
ocupado a
presidência da
CET/BNDES no período
2004/2009.
Por outro lado,
entendo que não devo
recusar essa
oportunidade para
aprofundar as
discussões sobre
questões éticas no
BNDES. Considero que
devemos conversar
com equilíbrio,
transparência e
respeito às diversas
opiniões dos
empregados.
Em primeiro lugar,
penso, junto com a
integralidade da
Diretoria da AFBNDES,
que nosso presidente
emitiu o Quadro de
Avisos por estar no
exercício do cargo.
Não caberia
considerar o
descumprimento
individual do Código
de Ética.
Em segundo lugar, é
uma oportunidade
para conversarmos
sobre a distinção de
entendimento sobre
política e política
partidária. Essa
última é vedada nos
códigos de ética
porque, embora um
direito assegurado
pela Constituição ao
cidadão brasileiro,
não deveria ser
trazida para a
esfera da atividade
profissional em uma
empresa pública.
Por ocasião das
eleições gerais de
2016, a CET/BNDES
recebeu orientações
da então presidente
do TSE, e atual
presidente do STF,
ministra Carmem
Lúcia. A ministra
foi muito clara
nesta distinção.
Deveríamos estimular
e resguardar a
participação
política plural e
partidária do
cidadão brasileiro
na sociedade, com
cuidado para evitar
que pudesse se
imiscuir no espaço
não apropriado de
uma empresa pública.
A maturidade e a
qualidade dos
empregados do BNDES
devem ser
manifestadas pelo
respeito à
diversidade e para
evitar a satanização
e a criminalização
da política.
A atuação de
entidades
representativas da
sociedade civil,
sindicatos,
associações e
outras, deve
incorporar esse
comportamento.
Eu mesmo, em várias
oportunidades de
conversas com os
empregados do BNDES
nos andares, e em
evento no Sindicato
dos Bancários, me
manifestei pelo
cuidado que devemos
ter para preservar
as entidades, a
AFBNDES e o BNDES,
evitando
internalizar a
política partidária,
mas não a política.
O contrário, o
chamado
aparelhamento
partidário, só faria
enfraquecer as
entidades.
Não sou um alienado
ou uma avestruz que
coloca sua cabeça
num buraco para
evitar olhar o mundo
à sua volta. Como
cidadão brasileiro,
me preocupo com o
avanço recente da
intolerância, em
nossa sociedade e na
política, e pelo
desrespeito à
convivência de
pessoas com opiniões
diferentes. Devemos
dar nosso exemplo,
no BNDES, para
valorizar a
convivência da
diversidade e do
contraditório de
opiniões. Isto
fortalece esta
instituição porque
ela poderá contar
com a motivação, a
inteligência, a
capacidade e o
compromisso contidos
na diversidade.
Rendo minha
homenagem e
reconhecimento à
contribuição de
todos os colegas que
trabalharam na
história da gestão
da ética no BNDES,
uma atividade
difícil e delicada,
sem a qual não
teríamos o legado de
qualidade que
alcançamos.
Para a continuidade,
preservação e
fortalecimento da
Ética no BNDES
gostaria de sugerir
à CET/BNDES que
organizasse um ou
mais debates,
trazendo cidadãos
com diferentes
opiniões para nos
ajudar a refletir e
entender a melhor
forma ética de
incentivar e
assegurar a
participação
política do cidadão,
e sobre os espaços
que devem ser
respeitados para o
exercício da
política partidária,
sem ferir a
legislação vigente
em nosso país. Essa
também é uma
contribuição para o
fortalecimento da
democracia, a qual
entendo ser a
vontade majoritária
da população
brasileira.
Nós, empregados
ativos ou
aposentados, podemos
dar esse exemplo de
convivência
começando por evitar
a alimentação de
eventual princípio
de intolerância no
BNDES.