ENTREVISTA / ADRIANA NALESSO
"Com o fim dos bancos públicos, os programas sociais serão abandonados"

 
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Adriana Nalesso na caravana do Sindicato em defesa dos bancos públicos
 
 
Em entrevista ao VÍNCULO, Adriana Nalesso, presidente do Sindicato dos Bancários do Rio, lembra que durante a crise econômica de 2008 as instituições financeiras públicas tiveram papel preponderante para minimizar seus impactos no Brasil. Trabalhando para mobilizar a sociedade para o movimento em defesa das empresas estatais, do patrimônio público e da soberania nacional, marcado para 3 de outubro, Adriana ressalta que BNDES, Banco do Brasil e Caixa Econômica estão seriamente ameaçados pelo governo Temer.
VÍNCULO – Hoje será lançada, no Sindicato dos Bancários do Rio, a Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Bancos Públicos. O Sindicato também está indo às agências bancárias com caravanas em defesa dessas instituições. Fale um pouco dessa mobilização, que busca ampliar esse debate junto aos clientes e à sociedade de maneira geral.   

Adriana – As pessoas ainda têm pouco conhecimento das políticas públicas implementadas pelos bancos públicos. Entregando esses bancos para a iniciativa privada, os programas sociais com certeza vão ser abandonados. Nenhum banco privado tem interesse em conceder, por exemplo, crédito imobiliário com juros mais baixos à população mais carente. Outro exemplo é o financiamento da agricultura familiar. Estamos levando esse debate para a sociedade. Quando fazemos visitas aos bancos conversamos também com os clientes alertando sobre a importância de defender os bancos públicos. Com a privatização deles, toda a sociedade vai ficar refém de um sistema financeiro apenas privado. É importante lembrar que os bancos públicos tiveram um papel relevante na crise de 2008. O governo, através dessas instituições, reduziu a taxa de juros, criou subsídios com o objetivo de fomentar o crédito e minimizar os impactos em nosso país.

V – A troca da taxa de juros do BNDES, com a aprovação da Medida Provisória 777, e os pedidos de devolução antecipada de recursos ao Tesouro Nacional, que vieram para o Banco como empréstimo em meio à crise de 2008, são uma ameaça ao futuro do órgão como propulsor do desenvolvimento nacional. Como estão os ataques dirigidos ao Banco do Brasil e à Caixa Econômica Federal?

Adriana – O Banco do Brasil, desde dezembro de 2016, já fechou 570 agências no Brasil. No exterior, em países como Portugal e França, está acontecendo o mesmo. Algumas subsidiárias da Caixa Econômica, como as loterias, estão na lista das 57 empresas a serem privatizadas pelo governo Temer. Vale lembrar que, de 2011 a 2016, foram arrecadados R$ 60 bilhões pelas loterias, sendo que, desse total, R$ 27 bilhões foram destinados a programas sociais. Só em 2016, mais de R$ 6,1 bilhões tiveram essa destinação. O esporte nacional, outro beneficiado pelas loterias, recebeu mais de R$ 950 milhões e o Programa de Financiamento Estudantil (FIES) recebeu cerca de R$ 1,2 bilhão. No caso do BNDES, o fim da Taxa de Juros de Longo Prazo com a aprovação da Medida Provisória 777, que altera as taxas de juros deixando-as próximas das adotadas pelo mercado, desestimula a economia do país, pois as indústrias, por exemplo, não terão canais para obter empréstimos a juros mais baixos.

VÍNCULO – A Contraf-CUT e os Sindicatos de Bancários do Rio, São Paulo e Brasília ingressaram com representação no Ministério Público Federal questionando a legalidade da devolução antecipada ao Tesouro de R$ 100 bilhões feita pelo BNDES em dezembro de 2016. Para as entidades, trata-se de uma pedalada fiscal, pois essa devolução é ilegal ao ferir o artigo 37, inciso II, da Lei de Responsabilidade Fiscal. A devolução antecipada desses recursos significa para o país abrir mão de importante instrumento para a recuperação da economia e da empregabilidade. Como você vê avalia tudo isso?

Adriana – Nosso país passa por um momento muito crítico. O Brasil tem capacidade de recuperar sua economia. Porém, essas ações do governo inviabilizam, por exemplo, o investimento em infraestrutura e a concessão de financiamento à indústria, o que poderia ajudar na recuperação econômica. Importante ressaltar que os financiamentos para a indústria a juros mais baixos estimulam a produção e, consequentemente, possibilitam o aumento dos postos de trabalho. A diminuição dos recursos do BNDES também impacta os investimentos em infraestrutura, que são tão necessários para atender as demandas internas e externas do país.

VÍNCULO – Como está a organização do movimento do dia 3 de outubro em defesa das empresas estatais, do patrimônio público e da soberania nacional?

Adriana – O processo de organização ainda está em construção. Inclusive, no dia 21 de setembro teremos reunião do Comitê Nacional de Defesa das Empresas Públicas no Sindicato dos Bancários do Rio. O que posso afirmar é que várias instituições e organizações da sociedade civil confirmaram presença. Acredito que será um grande dia para marcarmos a nossa insatisfação com o governo Temer, que não pode entregar o patrimônio público, que é do povo brasileiro.

 
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